O que leva um clube a uma conquista, seja ela nacional, internacional ou até mesmo estadual? A primeira resposta que vem a mente diz respeito à qualidade do time. Certamente, um elenco forte, recheado de boas opções, aproxima qualquer agremiação das glórias.
Entretanto, há diversos outros fatores que levam um clube à conquista. Certamente você já viu equipes não tão favoritas levantando taças. Como explicar isso? Primeiro, o futebol de fato é uma caixinha de surpresas, possibilitando que times de menor expressão eliminem gigantes de competições importantes. São as chamadas “zebras” que, logicamente, além de exceções, não acontecem com tanta frequência.
Provavelmente você também já presenciou algum elenco forte, candidato a conquistar todas as competições, encerrar a temporada sem nenhum título. Começamos então a especular sobre o que ocorre fora das quatro linhas.
Um elenco com jogadores renomados pode ser bom apenas no papel. Quando o dia-a-dia no vestiário não é tão positivo acaba refletindo em campo e gerando resultados inesperados pelos torcedores.
Mas o ponto principal que queremos relatar é sobre o que não vemos. Queremos mostrar que além da importância de ter um time competitivo, ambiente agradável no clube e salários em dia, um ponto super importante são os bastidores, o que faz a diferença no futebol.
Por exemplo, algo que ainda está recente na memória do torcedor atleticano é a final do Campeonato Mineiro. Diretores da equipe rival fizeram enorme pressão sobre a Federação Mineira de Futebol (FMF), vindo a público até mesmo antes de o campeonato começar, informando o “rompimento” com a entidade.
Isso pode ter influenciado na decisão dos árbitros da final, que acabaram errando em lances capitais? Não sabemos e nem mesmo podemos afirmar, mas é algo a se pensar, uma vez que todo ano quando começa a competição, algum dirigente sempre vem a público pressionar, questionar e indagar que a federação tem camisa, o que gera várias dúvidas para as quais não conseguimos obter respostas.
Erros também aconteceram em outras finais, como no ano passado, por exemplo. Em 2018, uma dividida ríspida entre Otero e Edílson, lateral do rival, resultou na expulsão do meia atleticano. Contudo, o correto seria o cartão vermelho para ambos os jogadores – algo sugerido inclusive pelo quarto árbitro no momento do lance.
Mas a interferência não é somente dentro de campo, fatores que fogem das quatro linhas também podem ser decisivos, como a montagem das tabelas, por exemplo.
O Fala Galo fez um levantamento a respeito dos mandos de campo de Atlético e Cruzeiro, além de outros clássicos, no Campeonato Brasileiro. Desde 2010, o Galo mandou apenas dois clássicos no segundo turno do Brasileirão.
A última vez que o Atlético atuou em um clássico contra o Cruzeiro como mandante no segundo turno do Brasileirão foi em 2013. Ainda é válido ressaltar que em 2012 o Galo mandou o segundo clássico do Campeonato Brasileiro por força do regulamento.
Em 2011, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu colocar os principais clássicos do Brasil na última rodada do Campeonato Brasileiro. Quem atuasse como mandante na 38ª rodada do Brasileirão em 2011, atuaria como visitante em 2012.
Segue abaixo:
Grêmio x Internacional
– Dos nove clássicos gaúchos realizados no returno do Brasileirão desde 2010, o Grêmio atuou como mandante em cinco partidas.
– O mando de campo do GreNal no segundo turno é alternado: em um ano o Grêmio é o mandante no returno e no ano seguinte é o Internacional.
Corinthians x Palmeiras
– Dos nove clássicos realizados por Corinthians e Palmeiras no returno do Brasileirão desde 2010, o Timão foi o mandante em quatro.
– O mando de campo neste clássico também é alternado, mas a cada dois anos. Por dois Brasileiros o Corinthians é o mandante no returno, com o Palmeiras sendo o mandante no segundo turno nos dois anos seguintes.
Flamengo x Vasco
– Dos sete clássicos realizados por Flamengo e Vasco no segundo turno do Brasileirão, o rubro-negro foi o mandante em quatro oportunidades.
– Assim como o GreNal, o clássico entre Flamengo e Vasco também tem o mando de campo alternado. Em um ano o Cruzmaltino é o mandante no returno do Brasileirão, com o rubro-negro atuando em casa no ano seguinte.
Copa do Brasil
O Fala Galo também levantou quantos jogos Atlético e Cruzeiro decidiram em casa na Copa do Brasil desde 2010. Para este dado, levamos em consideração somente as vezes em que os dois clubes realizaram jogos de ida e volta.
Desde 2010 o Atlético decidiu 11 jogos em casa e 11 fora. Já o Cruzeiro foi o mandante do segundo duelo em 18 oportunidades, decidindo longe de Belo Horizonte oito vezes.
Inclusive, em 2014, quando Atlético e Cruzeiro fizeram a final da Copa do Brasil, o segundo jogo da decisão teve o rival como mandante.
A disparidade de quilometragem percorrida pelas equipes nas últimas dez rodadas do Campeonato Brasileiro também é algo questionável. Enquanto o Atlético viajará 5.574 km, o rival percorrerá uma distância de 4.208 km.
Coincidências ou não, achamos que está na hora de o Atlético frequentar mais vezes as salas dos poderosos que fazem as competições nacionais e internacionais. É necessário agir de forma idônea, mas não inocente, dentro e fora das quatro linhas.
É necessário cobrar transparência, entender o porquê de o Atlético ter viajado muito mais que o seu rival na fase de grupos do mesmo Campeonato Mineiro deste ano. Embora tenha feito um jogo a menos longe de Belo Horizonte, a equipe alvinegra percorreu 1.521 km até as cidades em que atuou, enquanto o rival viajou 1.175,5 km.
Por isso, insistimos: a diretoria atleticana deve cobrar, estar presente e não deixar que as mazelas do futebol aconteçam sempre com o Atlético.
É necessário e nossos dirigentes precisam fazer isso com veemência.
Lembro o ano de 2013, eram as oitavas de final da Copa Libertadores, Alexandre Kalil e o saudoso Eduardo Maluf pegaram um avião em Belo Horizonte e foram até a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) solicitar um árbitro estrangeiro para a partida entre São Paulo e Atlético.
Por coincidências do futebol, até hoje fico me perguntando: “Será que um árbitro brasileiro expulsaria (corretamente) o zagueiro Lúcio (ex-capitão da Seleção Brasileira)?”
Nunca saberemos a resposta, pois os dirigentes alvinegros agiram de forma assertiva e se posicionaram nos bastidores – e venceram aquela batalha.
Nossa diretoria precisa fazer a sua parte, precisa estar presente dentro de todos os locais que fazem tabelas, regulamentos e torneios, exigir imparcialidade de todas as formas, entendendo que futebol não acontece somente dentro das quatro linhas, ele começa a ser ganho muito antes fora dele.
POR: Wilder Marcos e Stéfano Bruno
REVISADO POR: Jéssica Silva e Dayana Cunha