Com que roupa? Le Coq! – Por Denilson Rocha
“Agora vou mudar minha conduta,
Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com a força bruta,
Pra poder me reabilitar
Pois esta vida não está sopa e eu pergunto: com que roupa?
Com que roupa eu vou pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Agora, eu não ando mais fagueiro,
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro,
Não consigo ter nem pra gastar
Eu já corri de vento em popa, mas agora com que roupa?
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Eu hoje estou pulando como sapo,
Pra ver se escapo desta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo, eu vou acabar ficando nu
Meu terno já virou estopa e
Eu nem sei mais com que roupa
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou.”
A maravilhosa música de Noel Rosa parece ter sido escrita para traduzir as dúvidas que as últimas diretorias do Atlético têm para escolher e manter seus fornecedores de material esportivo. Segundo levantamento do site Mantos do Futebol, o Galo é o time brasileiro com mais trocas de fornecedores no século, com nove trocas, já considerando a chegada da Le Coq. De 2001 para cá, já tivemos Penalty, Umbro, Diadora, Lotto, Topper (duas vezes), Lupo, Puma, Dry World e a já citada francesa. Os problemas e as reclamações em relação aos fornecedores são, geralmente, os mesmos – e esperamos que não se repitam desta vez.
Há questionamentos quanto aos modelos. Virou rotina encontrar nas redes sociais propostas de uniforme que são infinitamente mais modernos e bonitos que os efetivamente produzidos e alguns clubes brasileiros já adotaram a ideia de usar modelos criados pela torcida.
Também tem o problema de timing no lançamento das coleções, que o Galo insiste em só fazer próximo ao início do Campeonato Brasileiro. O que parece simples pode mudar todo o planejamento de vendas. O ideal seria o novo uniforme logo ao final do Brasileirão, próximo ao Natal (é um ótimo presente) e com as pessoas recebendo o 13º. Para isso, seria necessário antecipar definições de patrocínio e, obviamente, do fornecedor do material.
Aí vem o “desfile de lançamento” com o uniforme de jogo, treino, passeio e mais um monte de peças. E o dia seguinte começa, o ano passa e a torcida não encontra a maioria dos itens nas lojas. Dificuldade para encontrar tamanhos diferentes, uniformes de goleiro, coleção feminina ou infantil… As empresas fornecedoras sempre se mostram despreparadas para a quantidade e a diversidade que a torcida procura. É inusitado ter um negócio em que há muitos interessados em comprar, mas não há capacidade para produzir e vender.
Se os erros se repetem da mesma maneira mesmo com tantos diferentes fornecedores, será que o problema está só com o outro? O Atlético não tem sua parcela de culpa?
Muitas pessoas acreditam que a escolha do fornecedor do material esportivo é feita exclusivamente pelo dinheiro – e, às vezes, parece que o Galo também entra em uma análise assim. Na maioria dos casos, o mais fácil é o financeiro. Além disso, é preciso entender a atratividade de marca, a capacidade de produção e distribuição, o design, a disponibilidade de material tanto para o time profissional quanto para o feminino e as categorias de base e, especialmente, as ações para ativação, dentre muitos outros fatores que influenciam na escolha. Não é simples.
O Atlético precisa ter uma estratégia de parceria para longo prazo. Importante: não é apenas ter um contrato de longo prazo, é ter PARCERIA. Clube e fornecedor tem que construir, JUNTOS, processos e propostas que gerem resultados para ambos. O CAM precisa compreender que não dá para apresentar um novo patrocinador a tarde e esperar a camisa pronta no jogo da noite. É assim que aparecem as gambiarras, os adesivos mal feitos e o comprometimento de todo o material.
Daí, podemos falar das duas marcas dos sonhos dos torcedores. Tanto Adidas quanto Nike têm estratégias muito bem definidas, com foco nos principais clubes europeus – que, todos sabemos, vendem no mundo todo. Quem vê o trabalho destas empresas no Brasil percebe que há problemas frequentes, com pouco investimento em desenvolvimento de produtos e, principalmente, com dificuldades na distribuição. Não por acaso, vários clubes que já estiveram com essas marcas optaram por trocar por outras. Enfim, a torcida quer Adidas ou Nike, mas essas empresas não seriam, necessariamente, a solução dos problemas que já enfrentamos há muito tempo.
Na minha adolescência, sonhava em ver o Galo vestindo Le Coq tanto quanto hoje os mais jovens pedem Adidas ou Nike. A empresa francesa esteve distante do mercado brasileiro e busca a reinserção. É muito diferente do caso Dry World porque é uma marca tradicional, com história e importância no futebol. Como exemplo, a Le Coq fornece uniforme para o Saint-Étienne, um dos maiores vencedores na França, para a Fiorentina, tradicional equipe Italiana e para o FC Seoul, um dos maiores campeões Sul-coreano.
Em seu retorno ao Brasil, o primeiro questionamento está quanto à estrutura para produção. Nesse caso, é importante lembrar que há poucas indústrias para produção de material esportivo no país e estas poucas são responsáveis por diversas marcas. A Le Coq utilizará a mesma indústria que produz para marcas como Umbro e Under Armour. Ou seja, questionar a estrutura de produção da Le Coq é o mesmo que questionar da Topper, Adidas, Nike, Umbro, Under Armour, dentre outras, que também terceirizam sua produção para fábricas locais.
Dois pontos precisam ser muito bem planejados para que não voltemos aos mesmos problemas:
A relação entre a Le Coq e a indústria que vai produzir o material deve mudar, dando garantias de produção na quantidade e variedade desejadas e no momento necessário.
É preciso investir em distribuição, para que toda a coleção esteja disponível para os torcedores no mundo todo, o ano inteiro. Além das lojas físicas – em BH, no interior de Minas e, inclusive no restante do Brasil e em outros países (em geral, em lojas da própria Le Coq, como acontece com outras marcas) –, a loja virtual precisa melhorar muito.
Para o Atlético, com o contrato previsto para 3 temporadas, pode ser uma oportunidade única, desde que bem aproveitada. A Le Coq deseja crescer no mercado sul-americano e sabe da importância de estar ao lado de um clube com a grandeza do Galo, especialmente com a frequente participação na Copa Libertadores, que gera visibilidade em todo o continente. Mas para que isso dê certo, é preciso que o processo seja compreendido e planejado de forma integrada. Fabricante, distribuidores, lojistas, patrocinadores… precisa existir sintonia porque o acerto de um ajuda a todos os outros e o erro de um compromete a todos.
Que a Le Coq seja tenha muito sucesso nesta retomada no mercado brasileiro. Posso dizer que vou realizar o sonho de adolescente em vestir o Manto Alvinegro agora com um Galo estampado, reforçando sua identidade. Mais que nunca, poderemos dizer “Aqui é Galo”. E que não precisemos chegar ao final e, mais uma vez, retomar o ritmo de samba… “Com que roupa eu vou…”
Por: Denilson Rocha
Twitter: @denilsonrocha
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