Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
E o Mineiro já ficou para trás. O calendário insano do futebol e a dinamicidade que o esporte vem adquirindo nos últimos tempos não mais permitem a nenhum clube relaxar e comemorar qualquer conquista durante muito tempo. Tão logo o árbitro trilou o seu apito e a grande final do campeonato mineiro chegou ao seu fim, o Atlético comemorou a conquista do primeiro tricampeonato neste século 21 daquele jeito: um olho no peixe e o outro no gato.
O clube, claro, já vinha cuidando da logística de sua primeira viagem pela maior competição do continente e, claro, Antônio Mohamed já havia definido a lista dos atletas inscritos para a Libertadores e, óbvio, a dos jogadores relacionados para ao jogo de estreia do Galo contra o Tolima na Colômbia, salvo alguma modificação de última hora, o que, de fato, acabou acontecendo.
Entre gritos de “O Galo ganhou” e “É Campeão”, muitos torcedores já queriam saber se as tais listas já haviam sido divulgadas. Teve até gente atleticana dizendo que a Massa sequer comemorou o título como das outras vezes. Afinal, segundo ela o atleticano já está ficando mal acostumado vez que, ganhar títulos, já está virando rotina no mundo alvinegro. Será?
Como piada e zoação até que é compreensível e tem alguma graça. Mas, como diagnostico é preocupante. É fato que o ser humano normalmente tende a desvalorizar e a menosprezar tudo aquilo que ele considera muito fácil ou de pequena valia. O atleticano é exatamente assim em relação aos títulos que, por qualquer razão, considera desimportantes ou muito fáceis. Paradoxal, porém, ele sempre recebe muito mal qualquer “surpresa” negativa e aí reage de forma muitas vezes desproporcional e excessivamente virulenta.
O que torna o futebol fascinante e, por isso, o esporte mais popular do planeta, é a imprevisibilidade que se faz presente em muitos momentos e a consequente subversão da lógica que se torna impressionantemente mais frequente e surpreendente. Em nenhum outro esporte o contendor menos qualificado consegue superar e surpreender o mais forte ou o melhor da forma e com a frequência com que isso acontece no futebol.
Uma virada épica acontecida em um jogo muito difícil e de prognóstico incerto é quase sempre muito mais festejada do que uma goleada conquistada em razão de uma partida muito bem jogada. Coisas do futebol. A verdade é que, sem muito tempo para comemorar o Atleticano vê, bem mais que o desejável, o futebol atropelar seus sonhos e os projetos de seu clube e, concomitantemente, assiste o próprio esporte ser atropelado por si próprio em razão de suas peculiaridades sistêmicas e estruturais, fruto de sua evolução como um negócio multibilionário, complexo e global.
Não se ganha futebol apenas dentro de campo e, tampouco, somente fora dele. Para vencer qualquer clube tem, portanto, que estruturar harmonicamente as suas ações e estratégias dentro e fora das quatro linhas. Ou seja, para se ganhar no futebol é preciso triunfar simultaneamente dentro e fora dos gramados.
Aliás, conforme o Atlético vem anunciando aos quatro ventos e os resultados esportivos obtidos em 2021 e que já começaram a ser repisados nessa temporada estão mostrando, o clube está se reestruturando administrativa, estrutural e financeiramente para se tornar de vez uma potência no futebol mundial.
Entretanto, esta é uma caminhada de idas e vindas, de erros e acertos, de ajustes e correções de rota pontuais como aquelas que aconteceram a partir da chegada de Sérgio Coelho à presidência do clube e estas outras que ainda estão acontecendo ou estão por acontecer nas categorias de base, no futebol feminino e em outros setores do clube. O fantasma da descontinuidade, portanto, continua e continuará, como sempre, rondando o Galo.
A qualquer momento o Conselho Deliberativo do clube será chamado para decidir sobre e aprovar medidas relativas a três temas polêmicos, complexos e que inevitavelmente sacudirão os interiores políticos do Atlético. Na verdade, o mundo político alvinegro já está agitado e tudo pode acontecer.
A imprescindível e já tardia reforma do estatuto é o primeiro tema a ser submetido ao crivo dos conselheiros atleticanos. Que o Glorioso já deveria estar sendo gerido sob a égide de um ordenamento moderno e profissional que impusesse obrigações e deveres aos dirigentes, além de estabelecer regras de claras e transparentes de governança e compliance, me parece ser algo que nenhum atleticano possa discordar.
A propalada venda dos restantes 49,9% do Shopping, tida por muitos como inevitável e necessária à sobrevivência do clube e a constituição da SAF atleticana são temas extremamente delicados, longe de estarem pacificados e, eu diria, até mesmo explosivos. Cada conselheiro se obriga a decidir e dar o seu voto, seja a favor, seja contra esta ou aquela medida, apenas e tão somente depois de ter buscado conhecer a fundo e de ter analisado em profundidade todos os detalhes e pormenores envolvidos em cada uma dessas questões, considerando e sopesando os prós e os contras.
O clube, por sua vez, está obrigado a esclarecer todas as questões levantadas pelos conselheiros e a responder todas as perguntas que surgirem. As experiências de outros clubes, seja na criação de suas SAF’s, seja na sua transformação em empresa sob a batuta de outra legislação como o Bragantino e algumas outras agremiações Brasil afora, seja ainda em relação à alienação de algum patrimônio para pagar alguma dívida, também devem ser levadas em consideração.
Em outros ensaios desenvolveremos especificamente cada um desses temas. Por ora, fica o alerta que se o clube não souber conduzir com parcimônia, habilidade e tato as discussões que inevitavelmente acontecerão, aquele vulcão latente sob o qual o Atlético repousa desde sempre entrará em erupção e as consequências serão imprevisíveis. Aqui, é bom lembrar que o atleticano, aquele que está ficando mal acostumado com a conquista desses títulos, não se fará de rogado e contribuirá para azedar mais ainda o ambiente.
Assim, tal e qual aconteceu ao final do campeonato mineiro, o Atlético não pode deixar de desgrudar os seus olhos, tanto do peixe quanto do gato. Ou seja, o Glorioso, ao mesmo tempo em que jamais poderá se descurar do futebol e do que acontece dentro de campo, também nunca poderá negligenciar nem os seus e, nem tampouco, os bastidores do futebol brasileiro.
Um olho no peixe e o outro no gato, não é apenas uma frase feita ou um provérbio popular. É uma regra de subsistência. Basta se distrair durante uma fração de segundo e o desastre vai bater na sua porta. E aí…