Por Max Pereira, colaborador do Fala Galo, em Belo Horizonte
Há muitos anos a atriz e cantora norte-americana Doris Day gravou um hit que se tornou um sucesso mundial e que aqui no Brasil foi largamente utilizado nas salas de aula para facilitar para os alunos tupiniquins o aprendizado do inglês.
Que Será Será (Whatever Will Be, Will Be) traz em suas estrofes uma lição que uma menina inicialmente aprendeu com a mãe e anos depois ensinou aos seus próprios filhos. A tradução livre dos primeiros versos seria esta:
“Quando eu era apenas uma menina
Perguntei para minha mãe: O que vou ser?
Vou ser bonita?
Será que vou ser rica?
E ela disse isso pra mim
Que será, será
O que será, será
O futuro não é nosso para vermos
Que será, será
O que será, será”
Embora a física quântica e a teoria da relatividade continuem insistindo em nos mostrar que passado, presente e futuro guardam mais mistérios entre si do que a nossa vã filosofia pode imaginar, uma verdade independe da ciência e repousa nos caminhos e nos descaminhos da vida. Será que o futuro de fato não é nosso para vermos e que o que será, inevitavelmente o será?
O amor por vezes cega e quase sempre nos torna excessivos no cuidado do objeto do nosso amor. Vale para os país em relação aos filhos e para qualquer um de nós em relação ao ente amado. E este, claro, pode ser o clube dono do nosso coração.
A vida tem nos ensinado que os exercícios de futurologia podem ser sofridos e inúteis e, obviamente, por ter aprendido isso, talvez a duras penas, é que avisamos a quem queremos bem que o futuro não é nosso para ser visto. Mas, seguramente em outra lição é preciso ensinar e aprender que o futuro é nosso, muito nosso para ser trabalhado. Saber a sutil, porém, determinante e fundamental diferença entre conjugar o verbo esperar e o verbo esperançar, vai fazer cada um de nós percorrer caminhos completamente diferentes e desenhar futuros absolutamente díspares.
Nunca em sua história o Atlético pareceu tanto trabalhar para construir o seu futuro como nos dias de hoje. Fora das quatro linhas até o mais incauto dos observadores já percebeu que o clube vem passando por uma metamorfose administrativa e financeira. Profissionalização tem sido a palavra de ordem. E, dentro de campo, os efeitos dessa transformação não só produziram uma sequência importante de títulos, como levaram o clube a abocanhar os maiores prêmios já distribuídos a um clube de futebol na história do esporte em nosso país.
Se fizermos uma pesquisa entre os torcedores atleticanos sobre quais são os objetivos esportivos do Atlético nesta e em futuras temporadas a resposta, certamente unânime, seria conquistar todos os títulos que disputar. E qual seria a resposta desses mesmos torcedores em relação aos objetivos fora do campo?
Vender o Shopping e pagar todas as dívidas? Transformar o clube em uma potência mundial de uma vez por todas? Estruturar, modernizar e profissionalizar sua governança, qualificando-a com um transparente sistema de controles internos, Compliance? Criar a SAF atleticana e transformar o clube em empresa? Inaugurar a nova casa e montar um time forte para torná-la autossustentável? Tudo isso como parte de um projeto cuja etapa final é a criação da SAF, o que possibilitaria o ingresso de recursos no clube que garantiriam o Atlético na elite da elite do futebol mundial?
Não é necessário explicar porque cada uma dessas etapas requer planejamento, trabalho, cuidados e, claro, tempo de formatação e desenvolvimento, onde o erro muitas vezes é inevitável e os ajustes sempre necessários.
Da mesma forma, a montagem e os ajustes de um time de futebol requerem tempo, trabalho, experimentações e, por parte de quem comanda, conhecimento das possibilidades técnicas, físicas e táticas do material humano que tem à sua disposição, bem como da natureza humana e das idiossincrasias próprias de cada um de nós e, particularmente, da figura do boleiro, aquele que calça chuteiras, mas que por vezes acaba sempre carregando para o campo o peso do mundo.
Tanto dentro como fora de campo, o Atlético está vivendo tempos de ajustes, de experimentações e de formatação, seja do time e de uma maneira de jogar a lá “El Turco”, seja do clube que se quer construir.
Quando Cuca aqui chegou, há pouco mais de um ano, o Atlético, no que se refere às coisas do campo, mergulhou em um redemoinho de incertezas e de indefinições. Cuca parecia estar no lugar errado e na hora errada. De repente, os deuses do futebol conspiraram a favor do Galo, um super-herói salvou a pátria atleticana e Alex Stival encontrou o caminho certo.
Mohamed tem, aparentemente, um desafio menor. E tem a seu favor um ótimo ambiente entre os jogadores que se gostam e gostam de jogar juntos. Se não podemos ver o futuro, podemos e devemos construí-lo. E para isso, cada qual deve agir dentro de seus limites e possibilidades. Intramuros do clube com trabalho, com respeito às características de cada atleta, diálogo, comando assertivo e cuidados com o ser humano.
Fora dele, jogando junto com o time e com o clube, i.e., com a crítica construtiva, com a cobrança parcimoniosa e inteligente e, claro, torcendo, incentivando, e acreditando como só o atleticano torce, incentiva e acredita.
Quando a atual diretoria assumiu o comando do clube, o Atlético já havia dado os primeiros e decisivos passos nesse processo de transformação. E muitas mudanças de curso aconteceram. Faz parte. Assim como Mohamed, os próceres do clube ainda tem um longo e delicado caminho a percorrer. E todo o cuidado será pouco. Só resta uma coisa a fazer: trabalhar o presente para construir o futuro. Isso vale para cada um de nós atleticanos pois é fundamental jogar junto também fora das arquibancadas.