Foto: Reprodução Internet
Max Pereira
21/07/2020 – 12:43
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Quando tudo parecia indicar que o Atlético estaria, de fato, caminhando em paz para a sua tão sonhada redenção, eis que o presidente do clube e o presidente do Conselheiro Deliberativo passam a trocar farpas publicamente, exteriorizando de vez o racha politico interno que causou fraturas na base de sustentação do atual mandatário e que, ao que tudo indica, poderá também causar sérios prejuízos ao clube. Reza a lenda que o atlético, inclusive, correu sérios riscos de ser excluído do Profut em decorrência briga.
Ao mesmo tempo, surge a informação de que a Prefeitura de Belo Horizonte estaria impondo travas à liberação do alvará de obras, o que impediria o Atlético de dar prosseguimento à construção de sua Arena e, consequentemente, imporia ao clube graves e, provavelmente irreversíveis, prejuízos.
Como o atual prefeito é ex-presidente do clube e, segundo as más línguas, estaria em um dos polos litigantes do mundo politico atleticano e fazendo oposição ao atual presidente, ilações nada agradáveis e preocupantes sobre esse fato invadiram as redes sócias e também repercutiram na mídia convencional.
Não que episódios deste tipo sejam inéditos na história do Atlético. Ao contrário e, além de recorrentes na vida do clube, eles hoje também refletem o conflito entre uma proposta de profissionalização e modernização da gestão da instituição com a sua tradição histórica de governança feudal, já fartamente analisada aqui nessa coluna.
Como já é sabido e ressabido e já causou muitas polêmicas, até mesmo além das fronteiras de Minas, o balanço atleticano, recém-divulgado publicamente, é o mote do arranca rabo entre os dois dirigentes alvinegros. Mas está longe de ser a causa principal do racha politico que vem corroendo as entranhas do clube.
Até o mais incauto dos observadores já percebeu que o Atlético vem passando por mudanças forçadas pela grave situação financeiro-administrativa, na qual a incúria de seus dirigentes, ao longo dos anos, enfiou o clube. Nada na História do Glorioso é gratuito ou simples produto de planejamento elaborado. Se não for um acontecimento fortuito como foi a contratação de R10, é gerado ou obtido a fórceps, como no caso atual.
Dois fatos fortuitos surgiram nos caminhos alvinegros. Um deles, o debacle do rival que alertou e deixou todos dentro do Atlético de barbas de molho, porque viram que, se o clube não desse um “cavalo de pau” na sua gestão, afundaria no mesmo buraco.
O outro, um mecenas que, além de empresário bem sucedido e poderoso, é verdadeiramente apaixonado pelo clube. Mas Rubens Menin sabe que nem só de amor ninguém e nada sobrevive. Como empresário ele sabe que o Atlético, para sobreviver, chegar e, principalmente, solidificar-se no patamar que ele próprio almeja, precisa arrumar a casa, o que, necessariamente, passa por modernizar e profissionalizar a sua gestão.
Qual é o empresário que se dispõe a salgar carne podre? Não conheço. Qual é o empresário que se dispõe a jogar dinheiro fora simplesmente por amor? Também não conheço. E confesso, se conhecesse não seria o tipo de parceiro que eu escolheria para qualquer negócio e, muito menos, para se imiscuir nas coisas do Atlético.
E tudo isso, por óbvio, conflita com a tradição feudal de governança que impera no clube há décadas. Aqui está o cerne dessa briga.
Estamos em ano de eleições. Assim, como em qualquer outro processo eletivo, o debate das ideias é salutar e o exercício da oposição é sadio, desde que ele venha acompanhado de um projeto para o clube e calcado em críticas construtivas. Particularmente, não gosto de eleições com chapa única, vez que inexiste, nesses casos, debate que instiga e que seja proficiente. Acabam sempre com uma grande pizza sendo servida e, o mais do mesmo, prevalece, geralmente sem avanços. Ah! E com o controle do feudo intocado.
O mandato de Sette Câmara, assim como de seus antecessores sem exceção, merece ser criticado, o que, aliás, as auditorias contratadas o vêm fazendo por meio de seus diagnósticos, os próprios parceiros com a imposição de mudanças drásticas na gestão e segmentos atleticanos, como o grupo Renova Galo vem sugerindo e cobrando há tempos.
Mas, será que é isso mesmo que essa “oposição” estaria fazendo? Aliás, eles seriam oposição a que mesmo? Seriam eles críticos ao mandato do presidente que ajudaram eleger? Se positivo, quais as razões que embasariam essa oposição? Ou seriam contrários ao projeto em curso, às parcerias, à construção do novo estádio? E por que?
Ah! O balanço divulgado contem demonstrações confusas, omissões e outras contas que estão exigindo explicações? E, por isso, o presidente do Conselho, Castelar Filho, estaria exigindo que o clube apresente demonstrações analíticas. Nessa exigência em si, não vejo nada de mais. Ao contrario, é obrigação de todo conselheiro serio e comprometido com os interesses nobres do clube exigir explicações sobre as contas do clube, expondo suas duvidas e discordâncias.
Então, vamos cobrar tudo isso com transparência. Transparência? Mas o que é transparência na história do Atlético senão uma peça de ficção? Situação e oposição sempre pecaram nesse quesito.
E ademais, qual é o parecer do Conselho Fiscal?
Cobrei respostas da oposição e faço o mesmo com a situação. Sette Câmara não pode e nem deve esperar tão somente apoio emocional da massa enamorada por Rubens Menin em razão das contratações e do vaticínio da formação de um time que vai disputar os grandes títulos e fazer frente ao grande rival do momento, o poderoso Flamengo.
Cabe a ele, também, buscar o apoio racional dos atleticanos, conselheiros ou não, sócios torcedores ou não, demonstrando, de forma transparente e induvidosa, os números do seu balanço.
E mais: mostrar, também, quais os passos e as medidas que o clube está tomando, à luz dos diagnósticos das auditorias contratadas, para poder trilhar o caminho do sucesso, tão preconizado por Rubens Menin. A prática está ratificando o discurso?
Em recente entrevista, Tardelli se disse incomodado com as exigências táticas e de posicionamento que Sampaoli lhe estava exigindo. Nada mais profícuo para um grupo que se sentir incomodado e provocado a sair de sua zona de conforto. Isso vale, também, para Sette Câmara, para Castelar Filho e para quem quer que seja que pretenda, um dia, dirigir os destinos do Atlético.
No artigo “PROJETO OU “PÔJETO”? EIS A QUESTÃO!!!” escrevi que o “desafio de Sette Câmara, se ele efetivamente deseja ver este projeto consolidado e o Atlético definitivamente viável e se agigantando, é romper de vez com as amarras feudais” que cercam sua gestão e desenham os destinos do clube há décadas e décadas.
Um desafio que se agiganta dia após dia. O Atlético tem um prazo legal para aprovar o seu balanço, tem que atender às exigências do Profut, tem obrigações legais a cumprir, tem que dar curso a esse projeto de modernização e profissionalização de sua gestão, tem um passivo gigantesco para administrar e não pode se dar ao luxo de ser arrastado para uma guerra fratricida pelo poder. O melhor, pela mantença do poder feudal.
Nesse mesmo artigo escrevi, também, que “a necessidade faz o sapo pular. E é nela que reside a única esperança do Atlético”.
Para o bem ou para o mal, esse é um caminho sem volta. Ou o Atlético se afunda de vez ou se agiganta para sempre. Se alguém tem que sair vencedor dessa briga esse alguém não é outro senão que o próprio Clube Atlético Mineiro. E, aí, os dois lados terão que perder.
E isso só seria possível se a oposição entendesse que o clube está acima de qualquer má querência pessoal ou politica e se aquele Sette Câmara que foi eleito conseguir romper de vez com as amarras daquele modelo de governança que o levou ao comando do clube. Um novo Atlético exige na sua direção um novo Sette Câmara.
Essa briga, portanto, tem uma importância e um sentido históricos. E tenho sérias duvidas de que Sette Câmara, mesmo premido pelas agruras financeiras e administrativas que ele próprio ajudou a agudizar e precisando como nunca da muleta oferecida pelos parceiros, já tenha percebido que não é apenas o clube que precisa se transformar. Ele também. E, se este novo Sette Câmara vai nascer ninguém sabe. Acho que nem ele próprio sabe.
Ah! Presidente, se você encarar para valer essa briga para modernizar e profissionalizar o clube de vez e, não apenas, para se reeleger, saiba que não estará sozinho. Terá muitos atleticanos do seu lado. Tenha certeza disso.
Por enquanto, nessa que mais parece briga de Inhambus pirracentos que ainda insistem em tratar o clube como um feudo, vou logo dizendo que esse Jacu velho, desde que se deu conta de que era um ser vivente, racional e galista de alma e DNA, já tinha escolhido o seu lado: o do Clube Atlético Mineiro.
E você?