Clube empresa ou associação? O que importante é a qualidade da gestão

Foto: Flickr oficial do Atlético

 

 

Max Pereira
19/11/2020 – 12h11
Clique e siga nosso Instagram
Clique e siga nosso Twitter
Clique e siga nosso YouTube

Clique e siga nosso Facebook

Em recente artigo, intitulado “Menos modelos societários e mais qualidade na gestão: seu clube de futebol é como deveria ser?” o especialista em gestão esportiva César Grafietti nos ensina que “o que muda a vida de uma empresa ou um clube de futebol é a forma como eles são geridos, e não seu modelo societário.” Ou seja, que “a questão do modelo societário está longe de ser uma certeza, e retoma a ideia inicial de que é um meio e não um fim”.

Entre aqueles que buscam discutir e vislumbrar o futuro do Atlético a partir do que vem ocorrendo no clube sob a benção dos mecenas, há os que não duvidam do caráter de investimento do dinheiro que está sendo injetado no Galo para lastrear as contratações que vem sendo feitas no corrente ano. E, investimento significa expectativa de retorno. Assim, não há nada de surpreendente e nem de imoral nisso.

Aqui é preciso lembrar que o que já vinha sendo executado no clube a partir de meados de 2019, refletido, em especial, no repaginamento das categorias de base sob o comando de Júnior Chávare e na busca de profissionais para gerir áreas meio e fim do clube, já indicava a preocupação de dar uma guinada histórica na condução dos destinos do Atlético.

A contratação das quatro auditorias, o enxugamento de cargos, funções e salários, recentemente levado a cabo pela atual diretoria, o recorrente discurso de Rubens Menin defendendo e apontando que a profissionalização da gestão no Atlético e a modernização do estatuto do clube estão sendo amadurecidas e se tornarão realidade já a partir de 2021, são indicadores de que o Atlético já não é o mesmo de antes e, principalmente, caminha para ser um clube muito diferente daquele que conhecemos e que foi até hoje.

Mas, até onde essas transformações irão e se, no frigir dos ovos, elas serão para o bem ou para o mal, não é possível concluir de pronto. Entretanto, se não pode prever o futuro, mais do que fazer exercícios de futurologia, o atleticano pode e deve influenciar positivamente na condução destes caminhos que o Atlético está trilhando. O atleticano pode e deve vigiar, cobrar, criticar e propor soluções e alternativas.

Muitas polêmicas cercaram a divulgação da chapa encabeçada por Sergio Coelho da SRM Veículos e que tem na vice-presidência o Dr. José Murilo Procópio, nomes que remeteram parte significativa da massa a um passado sofrido e de muitos dissabores.

Mais importante do que os nomes desses ex-dirigentes do clube que certamente conduzirão os destinos do Atlético no próximo triênio, é preciso entender que qualquer paralelo com situações do passado é imperfeito e, portanto insuficiente seja para rejeita-los definitivamente, seja para apoia-los acriticamente.

Há um caminho sendo pavimentado lá dentro e não há como desconsiderar que o Atlético de hoje já é bem diferente daquele dos tempos de Sergio Coelho e José Murilo Procópio.

A exemplo do que já vem sendo dito e sinalizado ao longo dos últimos meses, na coletiva em que o atual presidente Sette Câmara e o seu vice Lásaro Cândido fizeram um resumo de sua gestão e oficializaram a sua não candidatura à reeleição, foram dadas várias pistas a respeito do que vem por aí.

A simples indicação de uma gestão futura plural feita a quatro ou mais mãos já é algo bastante significativo o que, porém, não impediu que uma pergunta curiosa e sugestiva surgisse nas redes sociais atleticanas: “quem vai efetivamente mandar no clube?”. “E de quem vou cobrar?”

Particularmente, entendo que essa próxima gestão será de transição para um novo modelo que está sendo construído. E, como todo projeto em implantação, as idas e vindas acontecerão, os erros e os acertos se alternarão e os ajustes serão naturais e recorrentes.

E, como transparência é algo essencial a uma gestão moderna e profissional, os nomes das pessoas que comporão esse Conselho Gestor já estão sendo dados a conhecer. E, por obvio, serão a elas que as sugestões, as criticas e as eventuais cobranças deverão ser dirigidas.

Há quem diga que não interessa os nomes de quem serão os novos presidente e vice-presidente do Atlético, vez que, estando os mecenas entre os maiores empresários e empreendedores do país, certamente não iriam dar ponto sem nó e também não gostariam de ver o dinheiro que estão investindo escoar pelo ralo.

Ainda que o futebol não seja uma ciência exata, é compreensível se imaginar que quem quer que assuma a presidência do Atlético com esse aval, deverá estar comprometido com esse projeto de modernização e gestão do clube que compreende, além dos investimentos Já injetados durante este ano e daqueles prometidos para 2021, a inauguração da nova casa no inicio de 2022 e a implementação da tão falada e esperada modernização da gestão do clube.

Se nada disso é em vão, imaginar que esse processo esteja, de fato, pavimentando a transição do clube para um novo modelo societário é um exagero ou apenas uma ilação óbvia diante dos indicadores apontados?

A grande maioria dos clubes brasileiros se já não caminha para se transformar em empresas, sonha com essa realidade. Atualmente um projeto de lei em transição que tramita no congresso Nacional é a esperança de muitas agremiações que veem nessa transformação a única chance de sobrevivência, vez que a legislação em gestação garantiria aos investidores que assumissem o seu passivo incentivos fiscais e outras benesses.

E mais: investidores estrangeiros que de há muito estão de olho no mercado brasileiro sonham com essa transformação para, então, investirem em massa nos nossos clubes. E só não fizeram até agora porque o modelo atual de associação e a natural ingerência dos conselhos deliberativos os desestimulam por razoes que não precisam ser explicadas.

Em sentido inverso, isso também explica a resistência de muitos conselheiros à profissionalização do clube e à aprovação de um novo estatuto.

A perspectiva real de, no futuro, investidores estrangeiros, sem nenhuma identificação com a historia, a tradição e a essência do clube, assumirem o controle acionário da agremiação, então transformada em empresa, é preocupante.

Assim, além vigiar, cuidar e cobrar para que o Atlético, associação ou empresa, tenha uma gestão moderna, de excelência, transparente e profissional, é preciso que se garanta, para todo o sempre, que o Galo jamais perca a sua essência e identidade.