Prof Denílson Rocha e Silas Gouveia
28/03/2020 – 14h53
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Em recente matéria publicada ‘Portal UOL’ pelo jornalista Mauro Cézar (acesse o conteúdo aqui neste link), tivemos informações sobre os gastos com folhas de pagamento (CLT) de todos os clubes da primeira divisão do campeonato brasileiro de 2020, cabendo lembrar que, de acordo com a Lei, o clube pode pagar até 40% do valor total da remuneração como “direito de imagem”. No estudo publicado há algumas constatações e algumas surpresas.
A primeira constatação, bastante previsível, é que o Flamengo tem o maior gasto com a folha CLT. E a primeira surpresa foi constatar que Corinthians vem junto com o Flamengo nesta primeira posição com despesas mensais de R$ 8,8 milhões apenas para o salário registrado em carteira. Sendo assim, pegando por base o máximo permitido por lei (40%), estes dois clubes podem estar gastando até R$ 14,7 milhões mensais com a folha do futebol – isto se todos os jogadores recebessem mais 40% de seus salários como PJ, o que definitivamente não ocorre.
Outras surpresas também fazem parte deste trabalho, como o fato de que os quatro clubes paulistas ocupam as 7 primeiras posições deste ranking e que o Galo empata com o São Paulo, na sexta posição, estando acima do Santos e Grêmio, que ocupa apenas a oitava posição. Segundo a publicação, o Atlético tem gastos de R$ 5,1 milhões mensais em CLT, com o máximo projetado de R$ 8,5 milhões caso pagasse a todos do futebol 40% de direito de imagem. Porém, como a publicação não fala do momento que buscaram a informação, falta saber se os salários do Sampaoli e toda sua comissão também já estão incluídos. Certamente que, pelo menos, Mattos e Nicoline não estão.
Com base nestas informações e as repetidas falas do próprio presidente do Atlético que ainda chegarão, pelo menos, mais 3 ou 4 atletas, dá para acreditar que extrapolaremos o previsto no orçamento para 2020, que era de R$ 9 milhões mensais com folha de pagamento do futebol. E isto num ano em que o clube foi eliminado de duas importantes competições (Sul-americana e Copa do Brasil) e sofre com as consequências de uma parada forçada pela pandemia do Coronavírus. Podemos presumir, então, que será necessário aumentar o endividamento do Clube durante o ano de 2020. E para mostrar que isto não é uma visão extremamente pessimista da situação, vamos fazer algumas análises frias, tomando por base números conservadores ou mesmo mínimos de toda situação.
Tomando por base as receitas previstas (R$ 308 milhões aproximadamente), com a saída precoce das duas competições já citadas, mesmo que o Galo consiga ser campeão das duas outras competições que continua disputando em 2020 (Mineiro e Brasileiro), o faturamento de bilheteria dificilmente (quase impossível) alcançará os valores projetados no orçamento (aproximadamente R$ 58 milhões incluindo premiações), sendo necessário quase R$800 mil de arrecadação em cada jogo. Já discutimos em outros textos que a previsão de premiação não chegará sequer a níveis próximos ao projetado, mesmo se for campeão brasileiro. Não bastasse tudo isso, ainda veio a pandemia do Coronavírus. Daí, mesmo os clubes que disputam outros torneios terão dificuldades para atingir o projetado em seus orçamentos. Outras receitas como Sócio Torcedor, Pay-per-view, venda de produtos, TV, dentre outras receitas, também deverão sentir o impacto negativo desta pandemia. Restariam então poucas opções de receitas aos clubes. A principal delas continuaria a ser a venda de atletas na janela do meio do ano, que deverá, inclusive, ser alterada pela FIFA.
O que pode não estar sendo ainda computado pelos clubes é que, devido a todo este cenário mundial de crise pela pandemia do Coronavírus, os grandes clubes europeus e também todo o mercado asiático e árabe deverão gastar infinitamente menos com a compra de jogadores, para compensar as enormes perdas financeiras que estão amargando nesta crise mundial. Já há negociações para cortes nos salários e ainda há muita dúvida quanto à prorrogação na vigência dos contratos que estão próximos de seu término. Vários clubes já identificaram que terão dificuldades em fechar as contas atendendo às regras do fair play financeiro. Com isto, mesmo negócios que já haviam sido fechado com alguns clubes brasileiros serão fortemente afetados. Barcelona, Real Madri já avisaram a seus credores brasileiros, São Paulo e Flamengo, respectivamente, que irão atrasar o repasse de pagamento da compra de atletas. Forte indício de que não pretendem gastar em compras nesta próxima janela, ou que gastarão muito pouco. Com isto, a desvalorização dos atletas mundo afora será enorme. Muito provavelmente, teremos uma janela do escambo.
Estas projeções não são apocalípticas, como muitos se apressarão em dizer. Ao contrário, são bastante realistas e baseadas em números concretos. Basta imaginar a situação de ativos como bolsas de valores, imóveis e automóveis, para se ter uma ideia do quanto o mercado irá se retrair nos próximos meses. Bolsa e aplicações financeiras estão despencando mundo afora, enquanto o capital especulativo aumenta. Este cenário de recessão mundial, obviamente irá afetar todos os clubes de futebol, quer seja do Brasil, quer seja de qualquer lugar do mundo. E a perda de capital também. Mesmo clubes com a saúde financeira já resolvida estão enormemente preocupados com esta situação. Não deveria ser diferente para o Clube Atlético Mineiro.
Alguns jornalistas e dirigentes do Clube logo se apressam em dizer que a situação do clube é diferente, pois tem suas dívidas equacionadas e possui enorme patrimônio como garantia. Não é bem assim! Nem antes desta crise e tampouco agora, depois da crise instalada. A venda de ativos do Clube sempre foi uma saída apregoada e, por vezes, até incentivada por alguns e mesmo direcionada pela atual gestão. O valor da avaliação não é, necessariamente, o valor que vai conseguir na hora da venda. Depende muito da condição de mercado. Sendo assim, com a crise econômica que se aproxima, poucos terão dinheiro para compras, e muitos estarão precisando vender. E a economia básica diz que quando há muita oferta e pouca demanda, os preços caem. Enfim, o patrimônio – shopping, casarão do Planalto e mesmo atletas, que nem todos são 100% do Galo – deverá ter valores bastante abaixo do que foi avaliado até então, se é que encontrarão interessados nas compras.
A questão é e sempre foi única: As receitas do futebol, como em qualquer setor econômico, são conhecidas e finitas, enquanto as despesas não. O Atlético é tradicionalmente incompetente na busca de receitas de licenciamento, uso de marca, venda de produtos, serviços e experiências. Assim, se sustenta exclusivamente com bilheteria, TV, patrocínio, venda de atletas e empréstimos bancários. Se estas fontes secam ou diminuem drasticamente e outras nunca foram exploradas, a saída será o controle fiscal e a responsabilidade de gestão. Ao se perder potenciais receitas, as despesas do clube deveriam seguir a mesma lógica e diminuir de forma proporcional, com o objetivo de manter-se equacionada a relação receitas X despesas. Isto serve para qualquer instituição, desde a vendinha do Sr. Manoel até as grandes corporações, gigantes mundiais. Mas, pelo visto, só no Galo se pensa diferente.