Atlético abusa da arte de perder gols e é derrotado no Engenhão pelo Botafogo

Flickr Oficial do Atlético / Bruno Cantini

 

Jéssica Silva 
20/08/2020 – 01h22
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Em partida válida pela 4ª rodada do Campeonato Brasileiro, o Galo foi surpreendentemente superado pelo Botafogo e viu a invencibilidade de Jorge Sampaoli cair. Apesar de ter sido quem de fato jogou durante os noventa minutos, o Atlético esbarrou em sua própria falta de objetividade nas finalizações e também nas defesas do goleiro Gatito Fernández.

Sampaoli fez alterações na escalação atleticana, mas já é comum ver o comandante variar as peças usadas a cada partida e conseguir reparar, caso necessário, erros cometidos durante o jogo. Ontem, no entanto, a demora em substituir jogadores com ações praticamente nulas em campo custaram ao Galo três pontos.

Já nos primeiros minutos o Atlético foi quem dominou a partida. O estilo do Botafogo, consequência de sua ausência de qualidade, é esperar o adversário e explorar possíveis falhas. O volume de jogo do Galo até fez com que a impressão de mais uma vitória atleticana fosse inevitável, mas falhas individuais acabaram por tirar da equipe de Sampaoli qualquer possibilidade de triunfo.

Guga como titular, mesmo sendo tão vulnerável, é algo que só deve ocorrer em último caso. Com Mariano no banco, que muito provavelmente seria mais seguro e não daria ao Botafogo seu primeiro gol, ver o camisa 2 em campo foi doloroso. Se na lateral esquerda o Atlético está bem protegido, com Guga na direita estaremos sempre sujeitos a chegadas perigosas de qualquer que seja o adversário.

A ausência de Jair no meio-campo também foi um ponto crucial dessa derrota, prova disso é o desempenho mostrado pelo volante nos poucos minutos em que esteve em campo, já que contribuiu inclusive para o gol tardio do Galo na partida. Allan não fez nem a metade disso em praticamente quarenta e cinco minutos, o que deixa claro que ele não merece cadeira cativa na meiota.

Keno, esquecendo totalmente que futebol é um jogo coletivo, ontem se mostrou um egoísta. Muitas vezes o talento de um determinado jogador pode ser ofuscado por sua vontade de fazer tudo sozinho, o que acaba prejudicando toda a equipe e até mudando a história da partida.

Outro jogador que deixou a desejar, e isso não é surpresa, foi Hyoran. Se há uma semana ele foi o principal nome de um jogo com final feliz, ontem mostrou que destoa de quase toda a equipe com sua falta de afinidade com a redonda. Sua presença, assim como a de Guga, durante praticamente toda a partida foram escolhas inexplicáveis de Jorge Sampaoli.

A visão de jogo do treinador argentino é privilegiada e isso não se discute. Ontem, porém, Sampaoli optou por não fazer alterações durante o intervalo e voltou para a segunda etapa com a mesma formação que havia dominado a partida no primeiro tempo, mas pecou excessivamente em suas finalizações. O Botafogo, por sua vez, continuou apostando suas fichas nas falhas adversárias e saiu de campo com os três pontos, mesmo que não jogue um futebol vistoso.

Até o mais otimista dos torcedores já sabia que em algum momento o revés viria, difícil era imaginar que seria contra uma equipe que não se permite jogar de igual para igual. Sampaoli tem como característica treinar times que jogam e deixam jogar, logo, é inevitável não ter dificuldades ao encarar adversários que se fecham e procuram apenas uma bola para liquidar a partida.

O placar não retrata o que foi o jogo e o abafa proporcionado pelo Galo fez com que o goleiro botafoguense trabalhasse mais do que terá que trabalhar durante todo o campeonato. Infelizmente o futebol nem sempre é justo e os lampejos de entrosamento demonstrados pela equipe de Paulo Autuori construíram uma vitória surpreendente.

Se nas grandes vitórias não se devia olhar para o Galo como um time já consagrado, crucificar treinador e equipe por conta de uma derrota também não é aceitável. O imediatismo talvez seja o câncer do futebol e faz com que qualquer torcedor perca totalmente o bom senso.

O Atlético tem hoje uma baita equipe, mas ainda em formação. Jorge Sampaoli não se vê satisfeito nem mesmo diante dos triunfos, por isso já é possível imaginar suas exigências mais que corretas logo após uma derrota. Perder pontos no Brasileirão, até mesmo para quem vai erguer o caneco é inevitável, isso só não pode ser frequente.

As mesmas pessoas que pediram a entrega da taça com apenas três rodadas disputadas são as que hoje dizem que nem mesmo uma vaga na Libertadores será alcançada. Não é necessário reafirmar que o exagero, seja no otimismo ou na negatividade, tira o bom senso de qualquer torcedor, portanto, não custa nada evitá-lo.

Inicialmente o plantel atleticano está em formação para ser imbatível na próxima temporada, mas é claro que podemos ser surpreendidos positivamente ainda neste Campeonato Brasileiro. A derrota agora, apesar de indigesta, serve para manter todos os pés no chão, pois futebol não é vivido apenas de boas substituições, grandes viradas e três pontos a cada partida.

Contra o Internacional, no próximo sábado, teremos o que pode ser chamado de confronto direto. Seguindo seu trabalho com responsabilidade, Sampaoli e sua equipe têm reais possibilidades de vencer o bom time colorado, mesmo jogando fora de casa. O caminho é manter o empenho sem dar ouvidos aos exagerados, que se satisfazem com muito pouco e vêem o fim do mundo em quase nada.

FICHA TÉCNICA:

Botafogo
Gatito Fernández; Barrandeguy (Fernando, aos 35’ do 2ºT), Marcelo Benevenuto, Kanu e Danilo Barcelos; Luiz Otávio (Caio Alexandre, no intervalo), Guilherme, Luiz Fernando (Rhuan, aos 28’ do 2ºT) e Luís Henrique (Bruno Nazário, aos 22’ do 2ºT); Matheus Babi e Pedro Raul (Rafael Forster, no intervalo)
Técnico: Paulo Autuori

Atlético
Rafael; Guga (Mariano, aos 39’ do 2ºT), Igor Rabello, Junior Alonso e Guilherme Arana; Allan (Jair, aos 39’ do 2ºT), Alan Franco (Savarino, aos 8’ do 2ºT) e Hyoran; Marquinhos (Mailton, aos 39’ do 2ºT), Keno e Marrony (Bruno Silva, aos 14’ do 2ºT)
Técnico: Jorge Sampaoli

Gols: Luiz Fernando, aos 25’ do 1ºT, e Caio Alexandre, aos 42′ do 2ºT (BOT); Igor Rabello, aos 51′ do 2ºT (ATL)

Cartões amarelos: Barrandeguy, aos 30’, e Danilo Barcelos, aos 33’ do 2ºT (BOT)

Motivo: 4ª rodada do Campeonato Brasileiro

Data e horário: quarta-feira, 19 de agosto de 2020, às 21h30 (de Brasília)

Local: Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro

Árbitro: Flávio Rodrigues de Souza (FIFA)

Assistentes: Neuza Inês Back (FIFA) e Alex Ang Ribeiro

VAR: Márcio Henrique de Góis