Atleticanidade de pai para filho – Por: Stéfano Bruno
27 de novembro de 2005. Pontualmente, às 16 horas, deixo o skate de lado para vivenciar um drama inimaginável.
O Atlético entrou em campo contra o Vasco ciente que qualquer resultado que não fosse a vitória o rebaixaria à segunda divisão do Campeonato Brasileiro. De um lado, Romário teve um pênalti defendido pelo goleiro Bruno. Do outro, o gol do meia Renato era anulado pela arbitragem. O jogo termina. A perplexidade me domina. Não conseguia acreditar nas palavras explanadas pelo Willy Gonzer na Rádio Itatiaia. Ao fundo, escuto o Mineirão cantar o hino e me fixo na parte: “Uma vez até morrer”.
Desanimado e cabisbaixo, pego o skate. Na ocasião, a única ferramenta que seria capaz de me fazer esquecer o que era inesquecível. Ao chegar no portão, vejo meu pai sentado no passeio, chorando.
“Filho, me desculpa. Não queria que o Atlético fizesse você passar por isso. Me desculpa por fazer você ser atleticano”, disse o meu pai enquanto nos abraçávamos fortemente.
“Depois da sua amizade, ser atleticano foi a melhor coisa que você já me deu”, respondi a ele.
A data agora é 23 de julho de 2013. Saio da redação para encontrar com alguns torcedores do Olímpia/PAR. Entre uma conversa e uma matéria, uma cerveja e outra, perguntei ao torcedor paraguaio: “Você acredita no título?”
Ele me olhou fixamente e alguns segundos depois respondeu: “Torço, mas não acredito. Vocês têm o Ronaldinho”.
Aquilo ficou marcado em mim. Sempre soube da importância do Ronaldinho, mas ainda não havia pensado desta forma naquela final.
“A gente tem o Ronaldinho, o Tardelli, o Bernard, o Victor, o Leonardo Silva, o Réver, o Jô. Não tem como dar errado”, pensei confiante.
O único fato temido por mim eram os pênaltis…
No dia 24 de julho de 2013, lembro de ter acordado muito antes do habitual após uma noite mal dormida. Fui mais cedo para a redação do site no qual trabalhava com o pensamento de sair mais tarde – queria chegar exatamente quando o juiz estivesse apitando o início da partida.
Sem poder ir ao Mineirão devido ao compromisso profissional, saí da redação às 19 horas e desci da praça da Savassi até a Praça Sete a pé. Recebia ligações com convites para churrascos gratuitos. Agradecia e recusava. Queria assistir à partida em casa, sozinho.
Antes do apito inicial, peguei um terço, ajoelhei e rezei. Pedi a Deus somente uma coisa: “Pai, dê sabedoria aos jogadores do Atlético que entrarem em campo. Que eles façam a coisa certa, na hora certa”.
A partida começou e junto tive um problema intestinal. O caminhar do jogo me deixou tenso. Em determinado momento senti a pressão, não aguentei, o que me causou certa tonteira. Levantei-me e fui até a cozinha tomar um copo com água.
O gol do Jô quase me fez estourar a laringe devido à intensidade do grito. Quando vi o Victor saindo do gol, gritei: “Não, Victor!” Entretanto, quando o Ferreyra escorregou tive a certeza do título.
O gol marcado pelo Leonardo Silva me levou ao ápice do êxtase. Imaginei que o terceiro gol sairia, fosse no tempo normal ou na prorrogação.
Não saiu. Teríamos pênaltis. Confesso sem medo de ser crucificado que temi o pênalti do Leonardo Silva. Nunca o vi cobrando pênalti e imaginei que o cobrador seria o Réver, que sempre demonstrou categoria com a bola nos pés.
Quando o Leonardo Silva fez o gol, gritei para a minha irmã: “Pode abrir tudo que o Gimenez vai perder”. E perdeu!
Saí gritando “o Galo é campeão”, “o Cuca é campeão”, entre alguns palavrões. Voltei correndo para finalizar a matéria para o site, ver o time levantar a taça e ir para a Praça Sete.
Antes, porém, de joelhos agradeci a Deus pelo título e, desta vez, era a minha vez de chorar. Em meio às lágrimas liguei para o meu pai para agradecer por ter me feito atleticano.
Tive a sorte e a honra de um dia após o título encontrar com o Leonardo Silva e poder agradecer-lhe não somente pelos gols, mas também pela grande trajetória que ele já cursava no Galo.
De 27 de novembro de 2005 a 24 de julho de 2013, nada mudou para mim. Comemorei, sim, todos os títulos, mas eles nunca foram o diferencial para amar o Atlético.
O Atlético é como o amor do pai ao filho e do filho ao pai. Não precisamos de presentes para amar, simplesmente amamos eternamente.
Saudações alvinegras!
Colunista
Stéfano Bruno
@StefanoBruno07
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