Até quando vai ser proibido criticar e cobrar do time, do treinador e dos dirigentes atleticanos?

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do FalaGalo.

Por Max Pereira

Crítica é uma opinião ou juízo de valor. Na filosofia, é um ramo do racionalismo, e faz referência a um conceito formulado por Immanuel Kant. Criticar é examinar e avaliar minuciosamente uma produção artística, literária ou científica, costumes e comportamentos. A crítica não é necessariamente algo ruim ou depreciativo. A crítica pode ser elogiosa. Enfim, pode ser negativa ou positiva.

Em geral, criticar para muitos é o mesmo que falar mal, depreciar, “cornetar”. E, muitas vezes, sequer a crítica construtiva é bem recebida. Tentar ajudar as pessoas a melhorarem em algum ponto ou no exercício de alguma atividade que por ventura não esteja sendo realizada da melhor maneira possível gera, por vezes, reações virulentas. Fazer uma crítica construtiva em relação a qualquer coisa que diga respeito ao Atlético tornou-se hoje em dia um desafio hercúleo. Fazer o papel de advogado do diabo para provocar o debate e a reflexão, então, tornou-se uma missão quase suicida, tamanha a ira que certos comentários provocam.

Apontar erros seja do time, seja de algum jogador em especial, seja do treinador e, particularmente, se forem dos parceiros/investidores, aqueles que são chamados de mecenas, ou ainda dos dirigentes alvinegros, fazer alertas e cobrar respostas em relação a questões não respondidas ou a dúvidas geradas em relação a isso ou àquilo, repercute quase sempre como se o autor das críticas ou das cobranças ou ainda das advertências, houvesse cometido um crime hediondo, de lesa pátria e, portanto, inafiançável.

“Lá vem o papai sabe tudo querendo criar chifre em cabeça de cavalo!”, “Ih! Esse imbecil está querendo criar ou achar crise onde não há crise????”. Essas são algumas das reações mais comuns utilizadas para tentar desconstruir críticas muitas vezes construtivas e interessantes. E o pior, não raras vezes com muito sucesso. Mas, há que se reconhecer que muitas vezes a inabilidade do crítico acaba por derrubar uma opinião que poderia ser bastante útil e profícua.

Dentro e fora das quatro linhas, não obstante as grandes conquistas do time na temporada passada e o início vitorioso de 2022, a verdade é que o Atlético tem gerado inquietudes no seio de sua irracional, sanguínea e passional massa torcedora. Paradoxais por excelência, clube e torcedor, vão dos 8 aos 80 em um piscar de olhos. Para um clube que vive historicamente sentado em um vulcão que pode entrar em erupção a qualquer momento ou que pode ser varrido por um tsunami político de consequências terríveis, pode se dizer que nada está fora do normal. Para muitos e para mim particularmente, entretanto, isso é razão para vigiar, cuidar e cobrar sempre, sem descanso e sem relaxar.

Nos seus bastidores o Glorioso continua dando munição aos inimigos, gerando mais dúvidas do que certezas aos seus torcedores e deixando muitas perguntas sem respostas. O vender, vender e vender, sejam os 49,9% restantes do Shopping, sejam estes ou aqueles atletas para cumprir a qualquer custo a tal meta orçamentária de venda de jogadores vem incomodando um número cada vez maior de atleticanos. E o pipocar com segundas intenções de notícias em relação a dívidas contraídas pela atual gestão e não quitadas como se havia dado a entender pelo clube faz soar ainda mais estranhos e nebulosos os ecos vindos de Lourdes.
Claro que o vazamento do não pagamento integral dos direitos econômicos do argentino Nacho Fernández e da consequente ação impetrada pelo River Plate junto à FIFA horas antes de um jogo importantíssimo e decisivo do Atlético pela Libertadores e na altitude do Equador, em momento algum objetivava provocar a reflexão e a cobrança parcimoniosa, inteligente e construtiva do torcedor alvinegro. A intenção, claro, era desestabilizar o Atlético.

Mas, isso não pode impedir a cobrança racional da torcida alvinegra e, tampouco, eximir o clube da sua obrigação de dar explicações convincentes. E como fazer isso? Sendo efetivamente transparente, explicando de forma clara e consistente este endividamento do clube, explicitando as causas desse crescimento da dívida e dos juros que parece irrefreável e mostrando em detalhes todos os caminhos possíveis para a solução definitiva deste problema, seja alienando, seja não alienando qualquer imóvel.

Em relação ao time, o atleticano ao mesmo tempo em que reconhece que hoje o Atlético tem um grupo e uma equipe de peso, vencedores, cuja resiliência, capacidade de superação, vontade de vencer e de ser campeão já foram mais que testadas e provadas e, portanto, confiáveis, mantém religiosamente os dois pés atrás e nunca deixa de imaginar o pior e jamais consegue se sentir plenamente satisfeito. Já disse e repito que o time atleticano, tanto quanto vem realizando uma campanha inegavelmente muito boa, não vem encantando ao seu torcedor.

O futebol pragmático, excessivamente cadenciado, recheado de toques laterais e para trás e coroado por momentos de absoluta falta de contundência e de intensidade que o Atlético tem mostrado em seus últimos jogos e a má fase de alguns jogadores como Jair e Zaracho, as oscilações de Hulk, de Mariano e de Vargas, a bola por vezes queimando nos pés de Nathan Silva, a zaga batendo cabeça no jogo aéreo, as péssimas condições físico-atléticas de Godín, somadas às suas naturais dificuldades de adaptação ao futebol brasileiro e ao próprio clube, têm trazido inúmeras preocupações e muito descontentamento ao mundo atleticano.

E aí? Pode se perguntar ou, então, buscar destrinchar porque tudo isso está acontecendo?

Por outro lado, além das lesões de Dodô e de Keno, “El Turco” vê, a cada dia que passa, as suas opções para rodar o time e administrar o desgaste natural de um grupo que vem jogando terça, quarta, quinta, sábado e domingo em três competições simultâneas e de complexidades diferentes, enfrentando um calendário perverso e logísticas absurdas para percorrer distâncias continentais, minguarem perigosamente.

Savarino é a bola da vez. Revela-se agora a verdadeira causa das dificuldades de visto para o venezuelano entrar no Equador. Savarino está sendo negociado. E muito mal negociado se os valores revelados se confirmarem.

Até quando vai ser proibido criticar e cobrar do time, do treinador e dos dirigentes atleticanos? Está claro que estão acontecendo muitas coisas criticáveis no clube. E a forma como seus próceres divulgam ou não divulgam o que de fato está acontecendo intramuros do clube gera munição para os seus inimigos e muita intranquilidade e desconfiança no seio da Massa.

Se de um lado os parceiros do clube têm o direito de manter expectativa quanto ao retorno do que investiram na Agremiação e sequer tinham obrigação de injetar este dinheiro no Atlético ou de continuar injetando, por outro lado cabe à diretoria executiva, como já dito acima, prover a entidade de instrumentos para enfrentar este endividamento sem correr o risco de estrangular os projetos esportivos do clube e sem gerar este disse-me-disse corrosivo.
Perguntar não ofende: até quando vai ser proibido criticar e cobrar do time, do treinador e dos dirigentes atleticanos?