Prof Denílson Rocha
Do Fala Galo, em Belo Horizonte
21/09/2019 – 04h
O nome da vez no futebol brasileiro é Athlético, os “fhalsos”. E não se resume ao recente título da Copa do Brasil. O clube já vinha chamando a atenção por vários outros motivos: estrutura, gestão, revelações, “briga” com a TV, uso de time “alternativo” no campeonato estadual, revelações e, mais recentemente, conquistas. É lógico que surge certa inveja. Como é possível um clube se mostrar vencedor mesmo com menos glamour e dinheiro que os chamados “grandes”, fora do eixo RJ-SP-MG-SP, sem ter a maior das torcidas, sem parte da grana da TV e sem medalhões? Afinal, se o Athlético pode, o que falta ao Atlético?
Inicialmente o time paranaense tem uma característica “diferente”: é um clube de futebol. Não tem clube social, não tem esportes olímpicos, não tem qualquer outra coisa… o negócio do Furacão é futebol. Parece simples, mas é uma diferença fundamental. Os dirigentes do clube pensam futebol 24h por dia, sem precisar ouvir chororô de sócio porque a piscina está com a água suja ou porque a sauna está estragada. No Galo, os clubes sociais são parte central no “negócio” e as decisões são tomadas na beira da quadra de peteca. É dali que são eleitos os conselheiros – mesmo que não seja um processo tão democrático, como já tratamos em outro artigo. Nesse ponto, pelo menos, há uma similaridade: tanto lá quanto cá, eleição serve só para cumprir protocolo, porque os donos do poder já são muito bem conhecidos.
Outro ponto bastante diferente do que temos aqui é o planejamento. Muitos acham que os resultados do Furacão são coisas do acaso, da sorte ou que as coisas começaram a dar certo milagrosamente. Poucos observam como o clube veio se estruturando nos últimos 10 anos. Centro de treinamento, estádio, gestão, planejamento… tudo foi sendo tratado com cuidado e com clareza quanto ao caminho a ser trilhado. Aos que ainda não sabem, o planejamento do Athlético Paranaense prevê chegar ao Mundial de Clubes em 2024. DOIS MIL E VINTE E QUATRO!!!! Alguém sabe dizer qual o objetivo do Atlético para 2019 ou 2020? Ou, pior, supondo que exista algum planejamento, alguém sabe COMO estão sendo realizadas as iniciativas para que o plano se transforme em realidade? Se não sabe para onde quer ir, nunca chega a qualquer lugar.
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Aí tem uma situação que passa também por nós, torcedores. Qual seria a reação da nossa torcida se fosse anunciado um plano para estar no Mundial de Clubes em 2024? Ia ter protestos, reclamações, xingamentos… tudo nas redes sociais, claro. A torcida ia ficar indignada porque o título tem que vir amanhã. Ou melhor, hoje. Nossa ansiedade não permite que observemos nossa realidade: o Atlético é, hoje, um clube dominado por poucos, endividado, que vem se organizando aos poucos, com um time mediano (para ser gentil) e que precisa de um choque, uma transformação radical para voltar ao caminho dos títulos. Hoje, estamos atrasados quando nos comparamos com o Furacão, com o Bahia ou com o Grêmio. Nossa ansiedade por estarmos próximos de completar 50 anos da conquista do Brasileiro nos leva a diversas interrupções de trabalho. É troca de treinador, é mudança na forma de jogar, é “queimar” jogador… O exemplo que temos do Athlético começa por pensar em longo prazo e ter persistência.
Outro ponto que chama muita atenção no Furacão é o elenco. Santos, Marcelo Cirino, Nikão, Thiago Heleno… Onde estão os medalhões? Onde estão os jogadores consagrados? São vários jogadores experientes e sem grande destaque. Outros muitos jovens, formados no clube ou captados Brasil afora – parte, inclusive, nas mais de 100 escolinhas espalhadas pelo País. Mas qual seria a reação da torcida do Galo com a contratação de um jovem vindo do Audax? Porque hoje é muito fácil admirar o futebol do volante/meia Bruno Guimarães. E o técnico Tiago Nunes provavelmente seria mais um “estagiário” em nossas críticas nas redes sociais ou seria demitido após algumas derrotas porque os resultados precisam aparecer no dia seguinte. O time de lá funciona porque compreenderam que futebol é coletivo. Entenderam que organização e padrão de jogo são essenciais e que isso só é alcançado com tempo, continuidade, dedicação e, de novo, persistência. Não é preciso “SeleGalo”.
A organização fora de campo também é essencial. O centro de treinamento deles é tão bom quanto o nosso. Estádio? Já tem um dos mais modernos do Brasil. Dívidas? Ops… melhor nem comparar. E só gastam conforme as receitas. Uma verdadeira “austeridade”. Isso é suficiente para poder comprar uma honrosa briga com a TV e não vender os direitos para pay-per-view por valores inferiores aos demais clubes. Ou para abrir mão da quota do torneio estadual. As dívidas e restrições financeiras que fazem parte da história do Galo o levaram a uma situação péssima: falta poder nas negociações e acaba sendo preciso se submeter ao que a TV determina. Estar com a casa em ordem dá poder de barganha e ajuda a negociar melhores condições.
Os títulos de 2013 e 2014 foram uma exceção na vida do Atlético. Foi um momento especial na vida do clube. Ganhamos com muitos sustos e emoções. Foi muito mais sofrido do que precisava ser. Ganhamos porque o time era muito bom. Ganhamos APESAR das escolhas realizadas. Mas não dá para ficar só esperando momentos especiais. Para que as conquistas se transformem em rotina, é preciso organização dentro e fora de campo. E é aí que o Furacão mostra como fazer bem feito. O que começou há vários anos ainda não chegou a todos os resultados esperados, porém, eles sabem muito bem para onde vão e como ir.
Ainda falta muita coisa para melhorar no Galo. Continuamos sem transparência. Os números do clube são divulgados apenas quando a legislação determina. Também continuamos sem espaço para participação. Os conselheiros continuam sendo apenas os que são aceitos nas chapas orientadas pelos donos do poder. Ainda continuamos com um time (e parece que comissão técnica e direção) sem alma, que não mostra determinação para vitórias e indignação com as derrotas. Mesmo assim, não podemos fechar os olhos para algumas transformações que ocorrem no Atlético ou mesmo deixar que nossa ansiedade por resultados nos leve a desistir do que vem sendo feito.
Todos concordam que a Cidade do Galo oferece as melhores condições para a formação de talentos. Todos concordam que era preciso mudar as categorias de base. Júnior Chávare chegou há poucos meses e tem transformado a base Atleticana, como falou na entrevista concedida ao FalaGalo. É um trabalho de médio prazo, no mínimo. Não adianta cobrarmos resultados, conquistas ou revelações em pouco tempo porque não existe milagre.
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Todos concordam que, com a ausência do saudoso Maluf, faltava um diretor de futebol “cascudo”, com experiência e capaz de montar um time à altura da história do Galo. Rui Costa chegou há seis meses, já no meio da temporada. Podemos questionar o trabalho? Claro! Sempre temos coisas que podem ser melhoradas. Mas alguém acredita que daria para fazer uma mudança radical no elenco durante o intervalo da Copa América? Detalhe: sem dinheiro. O elenco principal do Atlético precisa ser profundamente reformulado. É preciso trazer atletas mais comprometidos com o clube, vencedores e ávidos por novas conquistas. Trazer profissionais dedicados e capazes de vestir o Manto Alvinegro. Só precisamos conter nossa ansiedade porque isso não é feito com mágica.
Se não conseguimos criar, basta copiar as boas práticas de outros clubes. Exemplos existem aos montes. Flamengo, Palmeiras, Grêmio, Bahia, Athlético… e tem muitos outros. O que não dá é para assistir pacientemente o Galo ficando para trás. O Atlético já foi líder no ranking da CBF, foi o clube que mais vezes ficou entre os quatro primeiros no Brasileirão, sempre esteve disputando títulos e era temido pelos adversários. E hoje? Vamos assistir às vitórias dos outros e continuar apenas sonhando com as nossas?
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Edição: Ruth Martins
Edição de imagem: André Cantini