Ícone do site FalaGalo

O peso da freguesia: um final (quase) feliz.

Por Tâmara Santos

Imagem: Intenet

Quem conhece Minas Gerais sabe que a rivalidade corre solta nas ruas das cidades. Onde houver um bar, haverá uma discussão (na maioria das vezes sadia) sobre o principal clássico mineiro. Homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, não importa: Atlético e cec-MG SEMPRE será pauta, até mesmo quando não estamos em semana de clássico.

É de conhecimento geral que trata-se de um dos maiores clássicos do país. O confronto já foi protagonista de decisões de competições importantes, estrelado por grandes times e sempre com excelentes públicos. Para quem conhece e vive, o clássico sempre foi um show à parte dentro do estado.

Lamentavelmente nos últimos anos os torcedores mineiro vêm presenciando a morte lenta do clássico mineiro. Repleto de polêmicas — quase sempre extra-campo e brigas imaturas entre as diretorias e federação, o confronto tem se mostrado cada vez menos atrativo e como sempre, o maior afetado é o torcedor. A tarde de hoje (14/04) ficou marcada por mais uma decisão entre cec-MG e Atlético, dessa vez, em uma partida que valida os primeiros 90 minutos da grande final do Campeonato Mineiro.O jogo acabou com a vitória do time celeste por 2×1 e apesar do indesejável protagonismo da arbitragem, o torcedor atleticano teve uma boa surpresa.

Imagem: Torcedores/Internet

A história do jogo

Para entender como uma derrota pode se tornar “feliz” é preciso fazer uma análise da situação pré-jogo.

Graças ao mau planejamento da diretoria alvinegra, o Atlético atravessa um momento de crise. O clube faz uma campanha pífia na Libertadores, atualmente se encontra sem técnico, a semana foi regida por protestos da torcida, jogadores sendo cobrados, desorganização tática extremamente nítida e uma tensão muito grande nos ares de Vespasiano. Por outro lado, o rival celeste não poderia estar mais satisfeito com sua trajetória em 2019: O time já está classificado para a próxima fase da Libertadores, mantém um padrão de jogo efetivo e após se reforçar bem, se encontrou dentro das quatro linhas.

Apesar de ter obtido melhor campanha na primeira fase (graças ao ‘time reserva’), o Atlético não convencia ninguém e nenhum canal de mídia pensou diferente: “o cec-MG vai amassar o Galo e conseguir um resultado consistente logo na primeira partida”. Ou pelo menos seria assim, se o futebol fosse uma ciência exata e lógica…

Assim que a bola rolou, às 16h, no Mineirão, para a surpresa de todos, o Atlético se mostrava centrado e parecia ter deixado todos seus problemas do lado de fora do Gigante da Pampulha. Mesmo tendo apenas 10% de sua torcida presente no estádio, o Galo não se intimidou com a torcida rival e mostrava vontade de vencer (coisa que não vinha acontecendo já há algum tempo), sofreu um pouco com a perda da sua ‘referência’ Juani Cazares (que saiu lesionado) mas nada que abalou o restante dos jogadores. O time conseguiu segurar o adversário até os 45′ do primeiro tempo, Marquinhos Gabriel chutou e em um lance de infelicidade do capitão Leonardo Silva, a bola desviou do seu trajeto enganando o goleiro Victor e morreu no fundo do gol. Ainda no final do primeiro tempo, assistimos ao primeiro erro grotesco que interferiu no espetáculo que se dava até ali: em lance de bola parada a favor do Atlético, Dedé simplesmente agarrou a camisa de Igor Rabello, aplicou um “abraço” no zagueiro e o derrubou dentro da área. O árbitro Wagner do Nascimento Magalhães não percebeu o lance e o seu auxiliar tampouco, a função de chamar atenção para o acontecimento ficaria nas mãos do VAR (árbitro de vídeo), mas o mesmo também se absteve de intervir. Houve breve reclamação por parte dos jogadores do Atlético, mas a partida seguiu.

Imagem: Atlético

O time voltou do vestiário e mais uma vez contrariou a maior parte das expectativas: foi pra cima e conseguiu boas chances, até que o artilheiro Ricardo Oliveira conseguiu empatar a partida.

Naquele ponto, até o mais pessimista torcedor atleticano acreditava na virada. O time se mostrava disposto a isso, porém, um velho personagem resolveu aparecer e mudar a história de um jogo que se desenhava para um final épico: o árbitro de vídeo decidiu mais uma vez. Em um lance que deveria ser marcado tiro de meta para o goleiro atleticano, o assistente deu escanteio e a jogada resultou no segundo gol do cec-MG. A partir dali, o jogo esquentou, foram muitas brigas, muitos cartões, expulsões e o sentimento de indignação por parte dos jogadores atleticanos. O time celeste ainda fez o terceiro gol, mas este foi dado como irregular pelo mesmo VAR, pois a bola foi desviada pela mão do jogador Fred.

Normalmente o torcedor alvinegro se sentiria demasiadamente triste por uma derrota para o seu freguês favorito, porém, devido às circunstâncias do pré-jogo, a entrega e postura do time, aliados ao resultado extremamente tendencioso, deram ao atleticano uma nova esperança.

Entramos no jogo esperando o pior e saímos dele com a esperança de uma virada (não seria a primeira). O time mostrou uma mudança genuína de comportamento e apesar das más atuações de Guga (que consagrou o Egídio e fez alguns torcedores sentirem saudades do Patric) e Adilson (que teve sua melhor hora quando foi expulso), pôde destacar uma bela partida de Fábio Santos (que vinha de partidas tenebrosas), Chará que jogou extremamente bem e Luan que foi a alma do time enquanto jogou. Geuvânio, Vinícius e Bolt também merecem destaque: conseguiram suprir a falta de peças importantes e buscaram o jogo de forma intensa. Vale destacar também a importância do técnico interino Rodrigo Santana que entendeu a função de cada jogador e ainda teve um pós-jogo excelente, ressaltando o trabalho feito nos últimos dois dias, se mostrando centrado e inteligente, principalmente devido às condições em que assumiu o time. A diferença tática foi perceptível e isso dá um pouco de calma aos nossos corações.

De forma alguma venho me contentar com uma derrota, mas mentiria se dissesse que estou chateada (como deveria) com esse resultado. O jogo da volta está em nossas mãos, estaremos mais presentes do que nunca e a postura do time devolve a esperança em vencer que havia sido perdida nos últimos dias de ‘Culpismo’.

A maior observação que eu gostaria de fazer a respeito desse jogo é a forma como o confronto foi equilibrado mesmo com Atlético beirando o caos. São 204 vitórias contra o Cruzeiro e dentre essas, as responsáveis pela conquista da Copa do Brasil em 2014, responsável pela consagração da frase “Eu sei que você treme”. É incrível a capacidade do time celeste de diminuir o seu ritmo quando encontra com o Atlético. Não me leve a mal, não estou dando nada como acabado, mas é admirável a forma como o jogo foi equilibrado mesmo em tempos de disparidade técnica que favorece o lado azul. Se algo pode acalmar o coração alvinegro, com certeza é o peso da freguesia. Não sei se a postura deles será a mesma no jogo da volta, mas agora temos motivos para acreditar. Vamos fazer nossa parte no Horto, no Mineirão, em casa, em bares, na praça, não importa onde. Está em nossas mãos.

Vale ressaltar…

Como pontos positivos da semana, destaco a postura do time que mudou radicalmente e principalmente a decisão da diretoria em procurar um PROFISSIONAL para assumir a diretoria de futebol do clube. Nos primeiros dias no cargo, Rui Costa já provou o porquê de ser um dos cargos mais importantes dentro de um time. O diretor botou ordem na casa, deu uma entrevista extremamente lúcida e ressaltou a importância de se vencer, sem declarações arrogantes sem fundamento como estávamos acostumados. O diretor é conhecido por revelar bons jogadores e esperamos que aqui não seja diferente. Boa sorte ao profissional, e que possamos ser felizes nessa nova história. A partir de agora iniciamos uma nova etapa no Atlético e a competência dos novos profissionais aliada a paciência e ao apoio da torcida, poderá resultar em bons frutos.

Outro ponto importante é a necessidade de encontrar um técnico inteligente e inovador. O próprio Rodrigo Santana mostrou que pode ser esse nome, mas eu teria um pouco mais de cautela. Espero que a diretoria não opte pelo caminho mais fácil e dessa vez trabalhe um pouco mais cautelosamente para não cairmos no limbo de trocar de técnico a cada seis meses.

Por último, queria expor meu desapontamento com a decisão de levar a finalíssima pro Horto e ainda colocar os ingressos a preços tão altos. Nós somos um clube de massa, nem todos têm condições de pagar R$ 120,00 em um ingresso, além de que essa atitude rema contra tudo que vinha sendo efeito sobre a inclusão de torcedores de baixa renda. Espero que essa seja a última vez que a diretoria cometa esse equívoco e que os 23K privilegiados que estiverem presentes no sábado possam deixar seu suor, sua voz e alento dentro do campo. Vamos provar que nós torcemos contra o vento e que para o GALO nada é impossível.


Ficha Técnica

cec-MG 2×1 Atlético

Motivo: Ida da final do Campeonato Mineiro
Local: Mineirão, em Belo Horizonte (MG)
Data: 14 de abril de 2019 (domingo)
Horário: às 16h (de Brasília)
Árbitro: Wagner do Nascimento Magalhães
Assistentes: Rodrigo Figueiredo Henrique Correa e Michael Correia
Árbitro de VAR: Bruno Arleu de Araújo

Gols: Marquinhos Gabriel – 45’/1ºT (1-0); Ricardo Oliveira – 10’/2ºT (1-1); Léo – 15’/2ºT (2-1)

Cartões amarelos: Fred, Henrique, Lucas Romero, Edilson, Marquinhos Gabriel e Rafinha (Cruzeiro); Luan, Ricardo Oliveira, Fábio Santos, Adilson, Leonardo Silva, Victor (Atlético-MG)

Cartões vermelhos: Rafinha (Cruzeiro); Adilson (Atlético-MG)

cec-MG
Fábio; Edilson, Léo, Dedé e Egídio; Henrique, Lucas Romero (Ariel Cabral), Robinho (Rafinha) e Rodriguinho (Pedro Rocha); Marquinhos Gabriel e Fred
.

TécnicoMano Menezes.

Atlético
Victor; Guga, Leonardo Silva, Igor Rabello e Fábio Santos; Adilson, Elias, Juan Cazares (Vina) e Luan (Maicon Bolt); Chará e Ricardo Oliveira (Geuvânio).

TécnicoRodrigo Santana (interino)

 

ASSISTA NOSSO PÓS JOGO: https://www.youtube.com/watch?v=eKxdvmxzSXw