Orçamento do Atlético para 2020: Cabeça nas vendas e pés no chão!
Silas Gouveia e Prof Denílson Rocha
Do Fala Galo
12/12/2019 – 14h15
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A diretoria executiva do Atlético finalmente encaminhou ao Conselho Deliberativo do Clube a previsão orçamentária para o ano de 2020. A reunião para apreciação e votação da peça orçamentária está marcada para 16 de dezembro, próxima segunda-feira. Considerando que o documento somente foi disponibilizado aos conselheiros nesta semana, são poucos dias para avaliação. Entretanto, o tempo é mais que suficiente para que os conselheiros possam debater, questionar e compreender a realidade presente e futura do Clube Atlético Mineiro.
Antes de qualquer avaliação dos números apresentados, é importante compreender a função e a importância do plano orçamentário. A gestão de qualquer organização (empresarial ou não) passa pela definição de objetivos a serem alcançados e as formas para que estes objetivos sejam colocados em prática, inclusive definindo os recursos (materiais, humanos, financeiros etc.) necessários para a realização de cada iniciativa, sua origem e sua aplicação. O orçamento resume, então, a origem e a aplicação dos recursos financeiros previstos para realização dos planos da instituição. Ressalta-se que é um PLANEJAMENTO, ou seja, é uma visão de futuro que pode (e provavelmente será) impactada por diversos acontecimentos imprevistos e que podem auxiliar ou dificultar na realização do que foi pensado. Mas planejamento (e orçamento) não são exercícios de futurologia e não são “chutes”, são peças técnicas estruturadas com base em informações disponíveis e iniciativas que precisam ser colocadas em prática. Em resumo, para que o orçamento seja útil, é preciso compreender o que será feito para que os números previstos se transformem em realidade.
Daí, uma primeira constatação no orçamento apresentado: considerando o histórico de realizações dos Atlético, descritos nos balanços financeiros, o orçamento é muito mais factível, realista e próximo do que deve realmente acontecer. Se já criticamos em outro momento por ser uma peça de ficção, o orçamento para 2020 apresenta números coerentes com o que o Galo teve nos últimos anos (balanços) e é bastante possível de ser colocado em prática.
Outra constatação inicial é de um planejamento bastante conservador – o que pode ser visto como bom ou ruim. Dos vários números apresentados, a expectativa de receitas é bastante prudente, até modesta, frente às possibilidades. Se, por um lado, pode ser adequado – basta ver o que houve com o São Paulo neste ano de 2019, quando fizeram projeções de premiação muito superiores ao que o clube efetivamente alcançou –, por outro lado, mostra que a diretoria do Galo ainda não conseguiu perceber a grandeza do Clube e da Massa. As previsões de receitas com bilheteria, Galo na Veia, patrocínios e marketing são absurdamente baixas quando considerarmos o potencial disponível. Falta ambição, faltam metas mais ousadas. Mas tudo isto provocado talvez, pela pífia campanha do time em 2019, onde vimos as receitas com bilheterias despencarem, fruto do baixo interesse da torcida em um time extremamente fraco.
Finalmente, vamos aos números…
A projeção para 2020 é de arrecadação total de quase R$ 308.764.750, pouco superior aos 305 milhões previstos para 2019. Soma-se a este valor uma previsão de R$ 80 milhões em novos empréstimos a serem utilizados, em princípio, para fluxo de caixa – lembrando que premiações e receitas de TV são, em geral, apropriadas somente no final do ano e este empréstimo seria, apenas, para dar fôlego para o pagamento das despesas mês a mês.
Na composição das receitas, temos o seguinte:
Competições e premiações, R$ 39.464.750 – Para alcançar tal valor, é necessário que o Galo chegue às quartas de final da Copa do Brasil e da Copa Sul Americana, além de um 8º lugar no Campeonato Brasileiro. Não significa que o Clube só queira estas colocações ou fases. É uma previsão de recurso com baixo risco e, portanto, possível de ser alcançada. Se alcançar posições melhores (e torcemos por isso), significa mais recursos.
Bilheteria, R$ 18.500.000: Considera a realização de, aproximadamente, 35 jogos como mandante. A previsão é inferior à de 2019 pois não teremos a Copa Libertadores, que garante melhores arrecadações. A escolha do Mineirão para ser o local de mando de campo preferido pelo clube em 2020, pode tanto ajudar, quanto atrapalhar nestas projeções. Mas este é um dos itens que mostram a necessidade de um amplo trabalho para aumento nas receitas pois o valor previsto está muito abaixo do que arrecadam os principais clubes do país e o apelo ao comparecimento do torcedor precisa melhorar.
Transmissão e imagem (TV), R$ 78.900.000: Depois de superestimarem o valor para 2019, agora o orçamento traz uma previsão mais próxima da realidade.
Galo na Veia, R$ 21.500.000: Pouco superior ao previsto para 2019 e muito acima do realizado em 2018. Ainda que o presidente fale na reestruturação do programa, o valor arrecadado é muito baixo diante dos mais de 100 mil associados, dando margens às especulações de que não seja o total de adimplentes. Há um enorme potencial para aumento nesta rubrica e depende de um programa de melhor qualidade. Esperamos que este Novo GNV anunciado pelo presidente, resgate um pouco mais de associados em 2020.
Outras receitas esportivas, R$ 3.600.000: São receitas de loterias, mantendo valores próximos ao histórico de arrecadação.
Patrocínios e marketing, R$ 26.300.000: Quase 30% abaixo do previsto para 2019. Aqui temos o principal ponto de melhoria no Atlético. Falta competência ou vontade para ampliar as receitas, especialmente com o licenciamento de produtos e uso da marca.
Transferência de atletas, R$ 100.000.000: Se os 70 milhões previstos para 2019 já eram elevados, o valor para 2020 é assustador. Por volta de 30% dos recursos do clube dependem, exclusivamente, da venda de atletas. É uma previsão de altíssimos risco pois não há qualquer certeza da atratividade ou do valor dos atletas que estão no Clube. Muito provavelmente, espera-se a venda de algumas jóias recém reveladas e que despertam interesse de enormes clubes europeus, como Chelsea e Real Madri. Mas também é outro risco pois, ao publicar tal previsão, mostra aos possíveis compradores que o Atlético precisa, desesperadamente, vender suas Jóias.
Clubes sociais e Diamond Mall, R$ 20.500.000: A previsão mantém os valores arrecadados nos últimos anos.
Quanto às despesas, chama atenção o corte de 10% (dez por cento) em todas as previsões de aplicação nas operações e estrutura do Atlético, incluindo pessoal e administrativo. Outro ponto importante é a indicação de pouco mais de 17 milhões para pagamentos de dívidas junto a outros clubes, inclusive as que já estão na FIFA.
As despesas financeiras ainda vão custar R$ 39.000.000 (trinta e nove milhões). Ou seja, mais de 12% do orçamento. Ainda que estejam sendo realizados esforços para pagamento de diversas dívidas, os débitos do Atlético continuam astronômicos e o pagamento de juros compromete a capacidade de investimento.
Assim, como em 2019, há apenas R$ 20.000.000 (vinte milhões de reais) para aquisição de atletas, o que, mais uma vez, comprova a fala do presidente quanto à busca de negócios baratos e a necessidade de trocas. Há de se fazer uma pequena ressalva neste ponto, se o dinheiro de investidores externos puder ajudar nestas contratações. Mas também é um risco.
Por fim, são R$ 119.803.890, para pagamento de custo de pessoal (do futebol), direito de imagem e comissões, o que coloca a folha mensal abaixo dos nove milhões de reais – e mostra ainda que a saída de alguns atletas com salários altos e baixo rendimento será importante para colocar as contas em ordem.
Em geral, o orçamento não apresenta surpresas: a situação financeira do Atlético continua crítica, muito em função de um histórico de antecipação de receitas e gastos descontrolados. O endividamento do Clube continua elevado e há poucas possibilidades para mudança nesta realidade no curto prazo. Ao menos é possível perceber que hoje a dívida não está crescendo – já é uma grande evolução. Mas há pouco espaço para redução das despesas (a tal austeridade). É preciso ousadia para ampliar as receitas e isso só pode ser feito com melhorias no marketing e no relacionamento com a torcida. Como sempre, é a Massa que pode garantir a grandeza do Atlético.