O chapéu do chapéu: Allan foi apresentado no Galo
Silas Gouveia
Do Fala Galo
10/01/2020 – 06h13
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A contratação do volante Allan (ou Állan, como ele gosta de ser chamado) foi considerada pela imprensa brasileira como uma verdadeira “novela” e, por torcedores dos dois clubes envolvidos na disputa, como o “chapéu do chapéu”! Além disso, serviu também para despertar nos torcedores de Atlético e Fluminense momentos de completa euforia ou depressão. A famosa bipolaridade de torcedor que nós, Atleticanos, conhecemos muito. Somos bipolares!
Mas será que todos têm de fato o conhecimento de tudo o que foi essa transação? Será que estamos fazendo análises sensatas? Ou continuamos nos deixando levar pelas manchetes sensacionalistas e por matérias pouco elucidativas da mídia nacional? Aliás, como é fraca a nossa mídia. Exceto honrosas exceções, a mídia brasileira, em especial a mídia mineira, é fraquíssima, superficial e capacho de interesses comerciais.
Tomamos a iniciativa de tentar destrinchar como foi de fato toda a negociação envolvendo o volante Allan Rodrigues de Souza, 22 anos, nascido em 03 de março de 1997, em Araçatuba (SP), revelado pelo Internacional de Porto Alegre e com passe vinculado ao Liverpool, mas que estava cedido por empréstimo ao Fluminense para o Campeonato Brasileiro de 2019.
Como deve ser do conhecimento de muitos torcedores, um jogador quando é emprestado pelo clube pode ter um contrato de empréstimo com passe fixado ou não.
E o que isso significa?
Quando um jogador é emprestado, em geral o clube cedente não tem planos para este jogador, pelo menos não naquela temporada. E quando este jogador não interessa mais ao clube cedente, os clubes promovem um acordo de prioridade de compra do passe deste atleta ao término do período de contrato de empréstimo. Ou seja, os dois clubes firmam um compromisso que consiste numa relação de compra/venda dos direitos do atleta envolvido na transação inicial de empréstimo, com valor determinado previamente (passe fixado).
O clube que recebeu o jogador por empréstimo não somente tem a prioridade de compra, como já sabe qual o valor terá que desembolsar, caso queira ficar em definitivo com o atleta. Esse acordo permite ao clube se preparar e se programar para desembolsar o valor acordado ao término do período de empréstimo. Para tentar fazer alguma analogia, funciona como um “leasing” de veículos.
Pois bem, o contrato de empréstimo entre Liverpool e Fluminense não foi com passe fixado. Isso já pode ajudar no início do entendimento de todo o caso e explicar um pouco este princípio de “leilão” que houve em torno do volante Allan. Como não foi um contrato de empréstimo com passe fixado, não havia um valor pré-fixado para a venda do atleta. O clube inglês sequer havia dado mostras de que não pretendia mais ficar com o jogador depois do período de empréstimo, assim como não havia dado mostras de que não pretendia estender o período de empréstimo por mais tempo ou que poderia estudar um novo empréstimo a outro clube, desde que em condições mais favoráveis do que havia sido inicialmente na transação com o Fluminense.
Mesmo sem um valor de passe fixado no contrato de empréstimo do volante ao Fluminense, os contratos de empréstimo sempre dão preferência de compra do atleta, caso haja interesse, para o clube onde ele está vinculado por empréstimo por um determinado período. O contrato de empréstimo do Allan firmado entre o Liverpool e o clube carioca terminou no dia 31 de dezembro de 2019. Isso significa que o Fluminense teria total prioridade de compra antes de terminar este prazo e teria sua proposta analisada prioritariamente pelo clube detentor dos direitos do atleta. E assim aconteceu.
Primeiro o Fluminense tentou a prorrogação do contrato de empréstimo do jogador, o que foi descartado pelo clube inglês. Posteriormente o Fluminense apresentou propostas para a compra dos direitos do atleta e o Liverpool não aceitou os valores apresentados (não cabe aqui falar sobre estes valores, mas foram várias tentativas de acerto). Todas as tratativas foram feitas entre o Fluminense e o clube inglês diretamente, uma vez que já havia um contrato se encerrando entre as partes. Mas, decidido a não ficar mais com o jogador, o clube inglês liberou os representantes do atleta para procurarem uma proposta vantajosa para o clube e para o atleta. Tudo conforme determina a legislação esportiva em vigor.
Assim sendo, mesmo durante o período em que Fluminense e Liverpool negociavam entre si e tentavam um possível acordo, os representantes do atleta procuravam outros possíveis clubes interessados. Procedimento absolutamente normal e legal. Não se pode ficar preso a apenas uma possibilidade de negócio, principalmente quando o atleta tem mercado e é pretendido por outros clubes. Mas todos tinham que esperar, inclusive o Liverpool, o término do contrato de empréstimo com o Fluminense para terem suas propostas ao menos analisadas, visto que até o último dia de 2019 o atleta estava vinculado ao Fluminense.
Passado o prazo, não havia mais prioridade alguma para o Fluminense, mesmo que as negociações tivessem sido iniciadas antes do término deste vínculo. E foi assim que outras propostas chegaram até o clube inglês, dentre elas a do Galo. Proposta esta, diga-se de passagem, muito mais vantajosa para todas as partes, dentre todas as demais apresentadas pelos outros clubes interessados no atleta, incluindo a do Fluminense. E a proposta do Atlético foi apresentada aos representantes do jogador, os quais encaminharam posteriormente ao clube inglês. Ou seja, tudo também dentro da mais perfeita legalidade e seguindo os prazos determinados por lei.
O que aconteceu então para que este caso tenha se transformado em uma “novela”, segundo a imprensa? Apenas e tão somente o fato de que, sabedor dos termos e valores da proposta apresentada pelo Galo ao Liverpool, por meio dos representantes do jogador, o Fluminense aumentou sua oferta e tentou, fora do prazo de contrato, fazer prevalecer seu direito de preferência na compra do atleta. Mas já era tarde demais, pois o acordo entre as partes (Clube Atlético Mineiro e empresários do Allan) já havia sido firmado com o consentimento e aprovação do clube detentor dos direitos do jogador. Em que pese o Liverpool ter dado sinais de que teria aceitado a última proposta do Fluminense, o mesmo clube já havia liberado os representantes do jogador para firmar compromisso com o Galo. Esse foi o motivo pelo qual o clube das Laranjeiras foi a público fazer ameaças por causa da negociação entre o Galo e o atleta. Nada mais que isso.
É correto supor que o Galo, em uma atitude extremamente correta e segura, tenha exigido dos representantes do atleta e do clube inglês todas as garantias de que os documentos possivelmente enviados ao Fluminense fossem todos tornados nulos ou sem efeitos. Ou então exigido determinadas garantias para que, caso haja algum tipo de tentativa de retaliação por parte do Fluminense, o Liverpool assuma os riscos do processo ou, na pior das hipóteses, se comprometa a ressarcir o Galo dos possíveis prejuízos que a situação possa acarretar ao clube. Há quem diga que, no mínimo, o Galo estaria cobrando do Liverpool uma multa por descumprimento de acordo previamente estabelecido com a anuência do clube inglês.
Como podem perceber, não houve novela alguma e tampouco um “Chapeleiro Maluco” neste caso. O que houve foi a mais absoluta transparência e legalidade por parte do Clube Atlético Mineiro, por parte dos empresários e do próprio atleta, os quais honraram todos os seus compromissos, quer seja com o Fluminense, o Liverpool e o Clube Atlético Mineiro. Cabe ainda lembrar o que está na Lei Pelé em seu Art. 38. “Qualquer cessão ou transferência de atleta profissional ou não-profissional depende de sua formal e expressa anuência.” (Redação dada pela Lei nº 9.981, de 2000). E o atleta escolheu se transferir para o Galo.
É importante deixar bem claro que, em momento algum houve um leilão envolvendo o atleta. A proposta apresentada pelo Galo foi a mesma desde o início das negociações. Não houve acréscimo de um centavo sequer entre a proposta inicial e a proposta final. O que muito equivocadamente chamaram de leilão foi o fato de que o Fluminense apresentou diversas propostas, com diferentes valores e prazos de pagamento para o clube inglês, sempre com valores acima da proposta anterior. A última com o acordo entre o atleta, seus representantes e o Galo já definido.
Mas, como diriam os ingleses, “eles que são lordes, que se entendam”! O Allan é, definitivamente, do GALO!