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Os números do Atlético, segundo análise da Ernst & Young

 

 

Prof Denílson Rocha 
04/06/2020 – 16h40
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No último mês de maio, a Ernst & Young (EY) publicou o relatório “Análise Financeira dos Clubes Brasileiros – 2019”, a partir dos dados publicados nas demonstrações contábeis dos principais clubes de futebol do Brasil. Outras instituições apresentam relatórios similares, porém a EY Sports Analytics ganhou destaque no cenário brasileiro não apenas pelo seu porte (uma “big four”) e relevância global, mas principalmente pelos resultados alcançados na restruturação do Flamengo.

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O relatório da EY mostra, inicialmente, a importância e o crescimento da “indústria” do futebol no Brasil. A receita total dos principais clubes ultrapassou os 6 bilhões de reais, com crescimento real (descontada a inflação) superior a 130% em uma década. Mostra, ainda, que o alto endividamento (R$ 8,3 bi) e a gestão pouco profissional continuam gerando seguidos resultados negativos (déficit superior a R$600 milhões em 2019) nos diversos clubes.

Mas o que nos interessa são os números do Atlético.

O estudo apresenta a receita total por clube em 2019 e mostra que o Galo teve a 9ª maior receita total dentre os principais clubes, com valor recorde de 354 milhões – lembrando que este valor foi “inflado”, de maneira legal e legítima, com a inclusão de quase 50 milhões referentes à doação da SPE MRV Prime, empresa proprietária do terreno da Arena MRV.

Se Flamengo e Palmeiras alcançaram faturamento bastante diferenciado em relação aos demais clubes brasileiros, a comparação mais adequada ao Galo deveria utilizar como referência os dois clubes gaúchos – Grêmio e Inter –, que atuam em um mercado (especialmente Porto Alegre) com características mais próximas ao que se vê em Belo Horizonte e Minas Gerais. E chama atenção como a dupla do Sul conseguiu receitas bem superiores ao Atlético. Qual a mágica?

As receitas com transmissão e premiações começam a explicar a diferença nas receitas.

O desempenho esportivo reflete diretamente nas finanças. Assim, as campanhas dos gaúchos nas copas do Brasil e Libertadores, além do Campeonato Brasileiro resultaram em maiores premiações e quotas TV. Enquanto isso, as campanhas pífias do Atlético tanto nas competições nacionais quanto na internacional afetaram receitas de TV e, ainda, poderão ser vistas nas receitas de “matchday” (bilheteria, GNV e, para os clubes que possuem estádios, camarotes, bares e restaurantes, estacionamento e demais receitas provenientes dos jogos).

Porém, as baixas receitas de matchday no Atlético não podem ficar escondidas pelos torneios internacionais ou pelos estádios próprios. Vasco, Bahia e Fortaleza tiveram receitas de matchday superiores às do Atlético. Em grande parte, a explicação está na capacidade de gerar receitas de bilheteria e dos programas de sócio torcedor, cujas ações de marketing permitiram que Grêmio, Inter, Fortaleza e Bahia tivessem receitas muito superiores às do Galo. O resultado mostra que o Atlético precisa, urgentemente, rever suas iniciativas no GNV e ingressos. Até mesmo a Massa precisa rever seus conceitos: não se faz mais futebol de alto nível com ingressos a R$5.

Outro ponto que chama bastante atenção está nas receitas “comerciais” dos clubes, que incluem patrocínios, licenciamentos, lojas, mídia digital, venda de camisas e publicidade, dentre outras possibilidades. Neste quesito, o Atlético tem receitas inferiores a Athético, Fortaleza, Bahia e Santos.

A comparação com a dupla Inter e Grêmio mostra que o primeiro conseguiu mais que o dobro em receitas comerciais e o segundo alcançou mais que o triplo do realizado pelo Atlético.

Estes números – TV e premiação, matchday e receitas comerciais – estão diretamente relacionados aos resultados em campo. Mas, mais que isso, mostram diversos clubes estão buscando alternativas para aumento das receitas enquanto o Atlético continua “deitado em berço esplêndido”. Vai dormir até quando? Vai ficar parado esperando o que? Este cenário somente será mudado com mudanças, novas iniciativas e inovação. Coisas que não percebemos existir no Galo.

Um ponto que traz diferenças está nas receitas de transferências de jogadores. Os 106 milhões arrecadados pelo Atlético em 2019 colocam o Atlético como o 9º maior vendedor brasileiro no ano. A posição no ranking parece não merecer destaque, mas coloca o Clube muito próximo de alguns tradicionais vendedores como o rival local (108 milhões), o São Paulo (108 milhões) e à frente do Fluminense. Ainda está muito longe dos resultados do Flamengo (300 milhões) e Santos (216 milhões). Porém, o resultado chama atenção quando considerados os últimos 5 anos. Neste período o Atlético acumulou 344 milhões em vendas. Assim, os 106 milhões de 2019 representam 30% do resultado do período de 5 anos e, analisado em conjunto com as vendas de 2018, mostram uma possível trajetória do Galo se consolidar como um importante clube formador.

 

E as dívidas?

Considerando a dívida líquida (passivo total menos ativo circulante e realizável a longo prazo), o Atlético tem a 5ª maior dívida entre os clubes brasileiros, sendo a 6ª maior dívida tributária – a maior parte equacionada no PROFUT – e a 2ª maior dívida em empréstimos e financiamentos, o que é o maior ponto de preocupação, especialmente no curto prazo. São números assustadores.

Ainda assim, ao avaliar a relação entre dívida líquida e receitas, o Atlético se mostra em condição muito mais confortável que diversos clubes brasileiros, especialmente os dois rivais locais. Se Sport e Botafogo estão em situações próximas da insolvência, mais uma vez Bahia, Fortaleza e Grêmio nos mostram como colocar as contas em ordem.

Com tudo o que foi apresentado no relatório da EY, parece que o foco da discussão dos números do Galo está bastante desajustado: nosso maior problema não está no endividamento, mas está, sim, na incapacidade de gerar receitas comerciais, de matchday (especialmente bilheteria e GNV) e premiações pelos resultados esportivos. Não há dúvidas de que o Atlético precisa reduzir seus custos, despesas e endividamento, mas também não há dúvidas que há espaço para ampliar significativamente as receitas recorrentes. Assim, a solução dos problemas não está na venda de patrimônio – seja shopping ou clube. A solução está na ampliação das receitas geradas no relacionamento com a torcida, no marketing. A Massa está ansiosa para consumir, comprar e dar ao Galo as condições para ampliar estas receitas. Mas o que ocorre que o próprio Atlético não toma iniciativa para isso?