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O efeito Orloff!

 

Silas Gouveia
Do Fala Galo, em Belo Horizonte
11/12/2019 – 16h03
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Terminamos mais um Campeonato Brasileiro e, novamente, vimos o Atlético ser apenas figurante. Já estamos quase chegando ao cinquentenário do título de 1971. Depois disso, por muitas vezes estivemos dentre os primeiros colocados, mas, ano após ano, vamos nos acostumando com as posições intermediárias ou até mesmo com a luta contra o rebaixamento. E o que está sendo feito para mudar essa triste realidade?

O futebol brasileiro passa por uma profunda mudança e muitos dirigentes – especialmente os do Galo – parecem não ter percebido isso. Enquanto alguns considerados grandes padecem, surgem novas forças que ocupam o espaço. Grêmio, Atlhético, Bahia e Fortaleza mostram que a organização fora de campo é essencial para melhores resultados dentro de campo. Desnecessário falar do Flamengo, cujas condições são bastante diferentes dos demais clubes brasileiros. Por outro lado, Botafogo, Fluminense, Vasco ficam, ano após ano, sobrevivendo em meio a bastidores políticos atribulados, dívidas e luta contra o rebaixamento. O Inter precisou levar seus dirigentes à justiça. O poderoso São Paulo se perde e até o então estruturado Palmeiras é questionado.

Por aqui assistimos (e comemoramos) a queda do rival. O que aconteceu com o clube estrelado era bastante previsível e já tratamos disso em vários momentos, mas, a cada vez que alguém ousava dizer que estavam se endividando e havia problemas de gestão, sempre aparecia a defesa do “ao menos tem títulos”, isso é “inveja da turma do eixo RJ-SP”, sem contar as muitas ofensas. O resultado: queda à série B, endividamento crescendo de forma exponencial, antecipações de receitas, perda de credibilidade, páginas policiais…

E não achem que a situação do lado de lá já chegou ao fundo do poço. Tem mais pela frente… As muitas denúncias e a queda à série B são só o começo do calvário. A antecipação de receitas vai levar o clube a uma asfixia financeira no próximo ano. Há uma queda considerável na previsão de recursos de TV e falam em antecipação de quotas de patrocínio. Ou seja, de onde virá o dinheiro para pagar as contas?

Ainda virão as punições esportivas. São diversos casos na Corte Arbitral do Esporte (CAS), última instância para julgamentos dos diversos calotes por compra de jogadores sem nunca realizar os pagamentos. As punições podem incluir a proibição de contratações, a perda de pontos e até o rebaixamento. Ainda tem as punições em função dos atos de vandalismo da torcida. Se já temos uma perda de mando em razão dos acontecimentos do último clássico, faltam os julgamentos dos problemas ocorridos nos jogos contra CSA e Palmeiras – este último mais grave, pois sequer foi concluído o jogo. Ou seja, serão tantas punições que o clube jogará poucas vezes em Belo Horizonte no próximo ano.

Mas, por que falar tanto do rival? Este espaço não é para tratar do outro lado da lagoa, mas devemos ter atenção com o “efeito Orloff”. Como diria o slogan no comercial da bebida: “eu sou você amanhã”.

O que está acontecendo do lado de lá não é por acaso. É o resultado de vários anos de incompetência, arrogância, ganância e outras coisas que nem poderemos citar porque pode virar processo. E quem pode dizer que o lado de cá está melhor?

Os problemas que hoje vemos no rival são exatamente os mesmos que encontramos na maioria dos grandes clubes brasileiros, inclusive no Atlético. Os clubes são conduzidos por pessoas que não tem a menor competência para o cargo que ocupam. Se fossem donos de uma empresa que fatura 100 milhões de dólares por ano, alguém, em sã consciência, contrataria os dirigentes dos clubes para serem seus CEO’s, presidentes ou para qualquer cargo de gestão? JAMAIS!

Pior, estas pessoas chegaram aos cargos que ocupam porque fazem parte de grupos que controlam os conselhos deliberativos dos clubes. Democracia ou participação são palavras inexistentes no vocabulário dos que se tornaram donos dos clubes de futebol no Brasil. Só como exemplo, o Athlético será gerido por mais três anos pelo mesmo grupo que se eterniza à frente do clube. Sequer houve eleição. Artigo do blog do Juca mostra como Corinthians, Palmeiras, nosso rival, dentre outros clubes, já têm donos há muito tempo. E no Galo? Algo diferente?

Tivemos recentemente uma eleição em chapa única, cujos integrantes foram devidamente selecionados para manter o status quo – um deles, inclusive, nem sabia que estava na chapa. As mesmas famílias continuam à frente do Galo nas últimas décadas, assim como os Masci ou os Perrella estiveram (e estão) no comando do rival. E quando pensamos em mudanças no Atlético, logo pedem o ex-presidente Kalil de volta… Assim como Perrella foi chamado para tentar socorrer o rival…

As dívidas gigantescas também são similares… Como esta dívida foi acumulada? Com quem? Em que condições? Assim como apareceram diversos negócios duvidosos (para ser gentil no termo) no rival, as contas no Galo também trazem muitas dúvidas. O balanço é nada transparente. Todo ano tem milhões para pagamento de juros da dívida, mas ninguém consegue explicar a origem dos débitos, as taxas aplicadas, o prazo para quitação… Falta transparência, falta clareza, falta prestação de contas… Mas prestar contas a quem se os donos do clube se sentem satisfeitos com o que tem? Quando vai mudar? Quando os escândalos forem apresentados no Fantástico?

Assim como no rival, nossa torcida permanece quieta, calada, assistindo passivamente tudo acontecer, esperando que um “salvador” apareça e resolva nossos problemas… “Alguém tem que fazer alguma coisa”!!! Isso aconteceu no rival, no Fluminense, no Botafogo e acontece também em relação aos problemas do país… “Alguém tem que fazer alguma coisa”. E continuamos nossa vida tranquilamente, reclamando da condição que temos. E nós? Fazemos o que? Continuamos lamentando nas redes sociais e na mesa do bar. Mas, “alguém tem que fazer alguma coisa”.

É muito bom rir do rival. É muito bom ver a arrogância ser castigada. É muito bom devolver (com juros) tudo o que já passamos. Mas, ao rir da desgraça alheia, é bom olhar no espelho. Lá, veremos que a imagem do rival é bem parecida com a nossa, com donos do poder, negócios nebulosos, favorecimentos e incompetência… Enquanto gargalhamos com o sofrimento do rival, fingimos não ouvir o grito que diz: “eu sou você amanhã”.

 

Edição: Ruth Martins
Edição de imagem: André Cantini 
Edição de texto: Angel Baldo