Gestão Alvinegra: O quanto vale um Diamond!
Por: Prof Denílson Rocha e Silas Gouveia, do Fala Galo, em Belo Horizonte
Desde a publicação do orçamento do Atlético para 2022 foi retomado o debate quanto a venda do Diamond Mall. Daí em diante, tanto o presidente quanto os integrantes do “Conselho Gestor” do Clube – os chamados 4 R’s – se manifestaram favoráveis a venda do patrimônio para redução do endividamento.
Este movimento poderia ser percebido desde a realização do Galo Business Day, quando foi apresentado que o Clube pretendia, em 2022, realizar a “alienação de ativos”, com receitas de R$ 350 milhões.

O orçamento para 2022 traz melhores informações sobre algo que já era previsto. Além da previsão de R$ 350 milhões em receitas da alienação patrimonial, a aplicação do recurso para redução do endividamento, com R$ 266,7 milhões a serem pagos em empréstimos, juros e acordos, e R$ 116,7 milhões sendo pagos em dívidas com outros clubes. Um total de R$ 383 milhões em redução no endividamento, inferior aos R$ 422 milhões previstos no Galo Business Day.

A proposta é bastante clara e legítima: vender parte do patrimônio para reduzir o endividamento e dar melhor sustentabilidade financeira ao Clube. A preocupação que surge para parte dos que se importam com o tema é a garantia do recurso ser aplicado para redução das dívidas e o clube buscar “blindagens” para não voltar a se endividar. Hoje, tal garantia é dada pela credibilidade conquistada pelos gestores que estão à frente do clube. Mas isso é suficiente? Não estando tais pessoas presentes, o Galo poderia voltar a se endividar e não ter mais patrimônio? Como ter certezas do uso do recurso e de impedir novo endividamento?

Além disso, é preciso ressaltar que os números de despesas financeiras (pagamento de encargos, juros etc.) são bastante diferentes do que vem sendo apresentado. Daí, é preciso dar clareza aos números para, então, ter um debate e decisões fundamentadas e, especialmente, adequadas ao que o Atlético precisa.
Um primeiro ponto, inquestionável, é o crescente endividamento.

Ainda assim, incrivelmente, os valores de despesas financeiras vêm sendo reduzidos – mesmo que permaneçam em patamares bastante elevados. Isso significa que o Clube vem conseguindo acesso a empréstimos com custos mais baixos, trocando dívidas antigas por outras, com menores taxas.

Aí é importante destacar o que o Diamond Mall gera para o Atlético algo próximo a R$ 10 milhões por ano. Obviamente, o valor arrecadado no centro de compras e o percentual que o Atlético tem direito foi bastante reduzido pelas restrições impostas pela pandemia de COVID. Em 2020, último ano com os dados disponíveis, a receita apropriada pelo Galo foi abaixo de R$ 4 milhões de reais, frente aos quase R$ 10 milhões dos anos anteriores.
Mesmo superando a pandemia, este valor não seria definitivo. Atualmente, o Atlético tem direito a 15% das receitas do centro de compras. A partir de 2025, este percentual deve ser reduzido a 8%. Até que o Clube passe a ter direito sobre o percentual equivalente à sua propriedade – 49,9%, em 2031. Ou seja, o valor de aproximadamente R$ 10 milhões ano deverá ser reduzido a aproximadamente R$ 6,5 milhões a partir de 2025. A partir de 2031, finalmente, o Atlético passa a ter direito a receitas que poderão ser superiores a R$ 50 milhões anuais.

Mas um ponto importante a se destacar: ao usar os recursos da venda do patrimônio para reduzir o endividamento, o Atlético NÃO DEIXARÁ DE PAGAR A TOTALIDADE DOS JUROS E ENCARGOS. Afinal, a venda não vai pagar toda a dívida do Clube. Vai ser direcionada aos empréstimos, financiamentos e dívidas com outros clubes. A dívida no PROFUT, por exemplo, vai continuar existindo e gerando juros e multas. Ou seja, o Galo não vai deixar de pagar R$ 50 milhões de juros ao ano, como vem sendo declarado pelas lideranças do Clube, seja porque já não paga 50 milhões ao ano, seja porque a venda do shopping não vai eliminar todas as dívidas onerosas.
Em resumo:
- Se o Atlético faz a alienação do patrimônio
- Tem receitas de extras de R$ 350 milhões;
- Reduz o endividamento em aproximadamente R$ 383 milhões;
- Reduz o pagamento de encargos sobre a dívida em R$ 20 milhões por ano;
- Deixa de ter receitas patrimoniais de R$ 10 milhões por ano.
- Reduz a necessidade de novos empréstimos para manter o fluxo de caixa;
- Tem impacto real no fluxo de caixa anual de R$ 10 milhões/ano.
- Se o Atlético não faz a alienação do patrimônio
- Mantém o alto endividamento e a necessidade de novos empréstimos para manter o fluxo de caixa;
- Mantém o pagamento de juros e encargos sobre empréstimos e financiamentos, com custo anual próximo a R$ 30 milhões;
- Mantém patrimônio que é usado como garantia em transações;
- Mantém receitas patrimoniais próximas a R$ 10 milhões ao ano, com projeções de ultrapassarem os R$ 50 milhões anuais.
Porém, é preciso ter cautela nestas avaliações.
A dívida do Galo é imediata. Os credores estão à porta. E o aumento das receitas somente acontecerá daqui a quase uma década – e ainda são uma previsão, sem uma garantia que o centro de compras oferecerá mais ou menos recursos quando 2031 chegar. Projeções de receitas não são garantias de serem realizadas.
O efeito imediato é na redução do endividamento, mas a redução real nos juros e encargos é menor que o divulgado. É valor suficiente para justificar a venda do patrimônio? Não é possível continuar com a dívida sendo “rolada” até a ampliação das receitas?
Outro elemento que não vem sendo tratado para o equilíbrio das contas atleticanas: em 2024 finaliza o atual contrato de transmissão do Campeonato Brasileiro. Além da possibilidade de aumento das receitas – já há negociações em andamento para a criação da liga de clubes e os direitos envolvidos –, tradicionalmente há o pagamento das “luvas”, ou o valor imediato na assinatura do contrato. Na última renovação, em 2017, houve um valor significativo recebido pelo Clube. E para próxima renovação, há estudos e planejamento para aplicação dos recursos?
Ao incluir a previsão da alienação do patrimônio como parte do orçamento 2022, a diretoria do Atlético deixa claro que trata a venda do shopping como algo real e bastante provável de ser realizado. Não fosse assim, o valor sequer faria parte do planejamento financeiro do Clube para este ano. As recentes declarações dos dirigentes reforçam tal compreensão de ser uma decisão tomada, aguardando apenas a validação no Conselho Deliberativo.
Não se trata de dizer que a venda é algo bom ou ruim, certo ou errado, melhor ou pior. Trata-se de dizer que há vários elementos que precisam ser considerados – e, até o momento, não foram –, que uma decisão deste tamanho precisa de informações consistentes e aprofundadas, que é necessário realizar estudos que permitam avaliar cenários e possibilidades, que não há um único caminho a ser adotado e, especialmente, que o debate precisa ser transparente, aberto, claro, e que as escolhas sejam conscientes.
Deixemos de lado as paixões e os apegos: o Atlético é um clube que tem o futebol como principal razão de existir. Mas vender um patrimônio deve ser uma decisão bastante debatida com fundamentos técnicos – não valem as paixões ou apegos. É a hora de mostrar que o Clube está diferente e o profissionalismo é parte da rotina. Que a decisão seja tomada com muita prudência porque esse diamante é único.
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