Austeridade, ousadia e falta de competência! Os desafios do Atlético para 2020

 

Prof Denilson Rocha
Do Fala Galo
27/12/2019 – 06h13
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Não é segredo para ninguém que os clubes de futebol no Brasil, com raras exceções, estão quebrados. São dívidas e mais dívidas como resultado de décadas de amadorismo e irresponsabilidade. Já houve planos para recuperação, PROFUT e, agora, as propostas para “clube empresa”. Ideias e mais ideias, mas que pouco mudam a realidade: a origem dos problemas está nos gestores dos clubes – e empresas mal gerenciadas quebram.

Nos últimos anos vêm surgindo boas iniciativas que mostram que a recuperação dos clubes não precisa de planos mirabolantes, governo ou ajuda divina. As soluções encontradas por Flamengo, Grêmio, Bahia, Fortaleza, dentre outros, compartilham de princípios bastante básicos e que poderiam ser facilmente aplicados a vários outros clubes: lideranças comprometidas com a recuperação do clube, pacificação política nos bastidores, organização e estruturação interna, adequação e educação financeira (sobreviver só com o que arrecada) e profissionalização.

Outros clubes ainda não conseguiram colocar a casa em ordem, mas já aparecem novas iniciativas para correção dos rumos e, ainda, algumas iniciativas isoladas que merecem atenção, como, por exemplo, a campanha que o Vasco realizou para ampliar o seu programa de sócio-torcedor.

Enquanto isso, no Atlético…

A atual gestão do Atlético ficou marcada pelo termo “austeridade”. Não era um termo normal no vocabulário da maioria de nós e alguns devem, inclusive, ter buscado o Google para saber o significado. Em síntese, significa ter maior controle e rigor nos gastos. E não há qualquer problema em buscar controlar os gastos. Ao contrário, é bom até mesmo nas nossas contas de casa. Mas os números do Galo ainda não mostraram essa austeridade na prática ou, o que é pior, onde deveria ser efetivamente aplicada.

Vamos a um exemplo. Imagina que você comanda uma fábrica de automóveis que está em crise financeira. Para solucionar, você resolve reduzir os recursos que são aplicados na matéria-prima dos carros, na linha de produção e no desenvolvimento dos produtos. Mas você não mexe nas despesas com água, energia elétrica, estrutura física, consumo de material de escritório, publicidade… Você efetivamente reduziu custos e controlou os gastos. Mas ninguém mais compra o seu carro porque perdeu qualidade. Em resumo, foi a decisão aplicada no Galo: enquanto os custos operacionais e administrativos continuaram altos, o que é mais importante para existência da Instituição foi afetado. E a redução na qualidade do time de futebol levou à redução nas bilheterias, nas premiações, no GNV, na atração de patrocínios… As receitas diminuíram e os problemas continuaram existindo.

É bastante tradicional que os gestores falem na relação custo/benefício. Falando de maneira bastante simplificada, é avaliar o que vai conseguir de resultados (benefícios) frente ao que é necessário de recursos (custos). O que se espera é ter o máximo de benefícios com o mínimo de custos. E quando as organizações entram em crise, é comum a fala de reduzir os custos, tentando manter os benefícios. Mas por que se fala tão pouco em buscar aumentar os benefícios?

A pergunta fica mais pertinente quando olhamos o orçamento proposto pela diretoria do Atlético para 2020. A proposta é pouco transparente porque não há detalhamento das despesas. Ainda assim, considerando o histórico dos balanços publicados, existe pouco espaço para redução de custos. De tudo o que o Galo recebe, a absoluta maioria é aplicada em futebol – e nem vamos avaliar se é bem ou mal aplicada – e em pagamento de dívidas. Vai tirar dinheiro daí? Como? Os credores já estão batendo à porta para receber o que lhes é devido e o futebol já não está lá essa “Brastemp”… 

Se não dá para reduzir os custos, precisa aumentar os benefícios. E aí precisa ter ousadia e competência para gerar recursos com o GNV, bilheteria, licenciamentos, patrocínios… Porque é ridículo um clube do tamanho do Atlético e com uma torcida tão fiel e apaixonada só conseguir R$ 18 milhões em bilheteria, R$ 21,5 milhões em GNV ou R$ 26 milhões em patrocínios e marketing. A previsão orçamentária não mostra o tamanho do Atlético!

Vamos retornar ao exemplo do Vasco. A campanha para aumento no número de sócios foi baseada em planos com valores bastante baixos, que provavelmente pagam apenas os custos da operação. Na prática, o Vasco não deve ter nenhum lucro direto com os novos associados. Mas (e sempre tem o “mas”)… Estimulou toda a torcida, criou engajamento, movimentou um torcedor que estava distante, aproximou torcida-clube. O primeiro resultado foi mobilização e retorno de um orgulho da torcida justamente em um momento em que o principal adversário se destacava. Logo em seguida, estádio lotado para um jogo sem grande importância. O engajamento virou presença e presença significa venda de ingressos e consumo de produtos. O mais importante: deu enorme visibilidade ao clube, com todos os jornais e programas esportivos dando espaço para falar da mobilização da torcida. Tenho certeza de que os patrocinadores ficaram bastante satisfeitos com a exposição de suas marcas. E mais certeza ainda de que a negociação de patrocínios para o próximo ano vai ser bem melhor para o Vasco. O que esperar de resultado: melhores patrocínios, bilheteria, venda de produtos… 

O grande desafio está em compreender e planejar de forma integrada Clube, marca, time, bilheteria, publicidade, produtos, serviços, preços, patrocínios etc. etc. etc. É necessário pensar marketing de forma ampla, considerando que o time é peça central nesta relação. 

Quanto ao Clube, é preciso conhecer, reconhecer e valorizar sua história, suas conquistas e sua grandeza. É preciso de lideranças que passem credibilidade, que sejam legítimos representantes da Massa. Atualmente, a torcida não confia na direção atleticana e nem há algum nome que traga essa confiança (e, pelo amor de Deus, deixemos Kalil seguir sua vida e que venham novas lideranças).

Quanto ao time, não estamos falando em medalhões, jogadores consagrados ou caros… Só estamos falando de um time que nos represente enquanto torcida, com atletas que entendam a grandeza do Atlético e estejam dispostos a se dedicar pelo Manto Alvinegro. Quando a torcida gritar “eu acredito”, precisa ser verdadeiro. E tem sido bastante difícil acreditar nos últimos times do Galo. 

Quanto ao GNV, aos produtos, aos serviços, às experiências… é preciso criar e manter relacionamento PERMANENTE com a torcida. É preciso ter oferta diferenciada, com muita variedade e com preços para as diversas camadas sociais. É preciso ter distribuição porque é um sofrimento tentar comprar alguma coisa do Galo fora de Belo Horizonte. A torcida quer comprar, quer viver o Galo, mas o Clube precisa querer (e saber) vender.

O Atlético tem um enorme potencial para ampliar suas receitas, mas nada é feito. Ao contrário, parece existir um enorme desprezo pelas demandas da Massa.

As redes sociais do Íbis conseguem melhor interação com o torcedor que as do Galo, inclusive com quem nem é torcedor do Íbis!!!

É preciso compreender a capacidade que o torcedor tem para gerar receitas. Direta ou indiretamente, é o torcedor quem sustenta o clube. É ele quem dá audiência e gera receitas de TV. É ele quem consome produtos e serviços associados ao Clube e atrai patrocínios. É ele quem paga na bilheteria e no sócio-torcedor. O torcedor é a razão de existir de qualquer clube.

Austeridade é importante. E a palavra precisa ser colocada em prática na gestão atleticana. Mas a palavra que melhor precisa ser compreendida na gestão do Clube Atlético Mineiro é TORCEDOR.