Sobra dinheiro, falta convicção e planejamento
Foto: Reprodução / FIFA
Rodolfo Simões
06/03/2020 – 08h03
Clique e siga nosso Instagram
Clique e siga nosso Twitter
Clique e siga nosso YouTube
Clique e siga nosso Facebook
Após duas eliminações vexatórias, Rafael Dudamel foi desligado do clube. Foram pouco mais de 50 dias de trabalho até a queda do venezuelano. Na tarde do último domingo (01), o presidente Sérgio Sette Câmara anunciou a contratação de Jorge Sampaoli. O argentino, que já havia sido especulado e até esteve negociando com o alvinegro em dezembro, resolveu aceitar o desafio no momento mais improvável da temporada.
Com a chegada de Sampaoli muito se fala da parte financeira do clube. Pelo que apurou o Fala Galo e outros portais, o valor de toda a comissão técnica gira em torno de R$1 milhão e 200 mil mensais. É, sem dúvida, um valor bem acima do teto do clube. A resposta do torcedor está na ponta da língua: investidores. Trocando em miúdos, família Menin, BMG e Mater Dei.
O que me preocupa não é o fato de o clube ter empresários interessados em injetar dinheiro no time, mas sim a incapacidade de quem administra. São incontáveis erros em poucos mais de 2 anos de mandato. Inadmissível o clube ter 8 treinadores e 3 diretores de futebol em um espaço tão curto de tempo. Em entrevista coletiva na última sexta-feira (28), o presidente disse que os técnicos terão alguma perenidade quando apresentar resultados. É impossível o trabalho de um técnico não oscilar, não enfrentar períodos de instabilidade. Por isso, seria fundamental ter um departamento de futebol profissionalizado. Com profissionais gabaritados evita-se erros de avaliação, como aconteceu nas contratações do Zé Welison, Maicon Bolt, Denílson, entre outros. Um bom diretor de futebol pode não minimizar os erros de avaliação, apesar disso deveriam ter mais responsabilidade na hora de alinhar valores, tempo de contrato e salários. Além disso, são responsáveis por contornar problemas de grupo e manter um bom ambiente dentro do CT. Engana-se quem pensa que um time vencedor é formado apenas por bons jogadores. São muitos detalhes na hora de montar um grupo vencedor.
Pelo que foi divulgado após a demissão de Rafael Dudamel, essa catástrofe poderia ter sido evitada. Se havia um grupo de jogadores insatisfeitos, por qual motivo não foram afastados? Se sabiam dos problemas, por qual motivo não tentaram resolver? Faltou diálogo. Dudamel errou muito, mas quem trouxe sabia que ele não conhecia absolutamente nada. Não é justificativa para o desempenho e resultados pífios, mas é inacreditável pensar que Dudamel saiu do clube antes mesmo de ter as três melhores peças do ataque à disposição (Cazares, Savarino e Tardelli). Falta planejamento. Existe um calendário e nele haviam jogos programados que praticamente definem o ano do clube.
Chegou Sampaoli. Gostei? Claro. No entanto, farei o papel do diabo. A diretoria sabe o que veio no pacote? Sampaoli não vai dar descanso enquanto não chegar as peças solicitadas. O presidente Sérgio Sette Câmera saberá lidar com isso? Há relatos de torcedores do Santos de que ele não tratava nada bem os funcionários. Em que pese o fato de nenhum funcionário do clube ter admitido isso publicamente, uma matéria divulgada pela Folha de São Paulo em agosto, coloca alguns indicativos em relação a veracidade dessas informações, pois na parada da Copa América Sampaoli solicitou um vestiário exclusivo para sua comissão técnica. A reportagem informa ainda que os auxiliares encabeçados por Serginho Chulapa foram informados pela direção e remanejados para um outro espaço, bem mais modesto. Outro fato curioso é que Sampaoli não permitia a participação de funcionários durante o treinamento temendo o vazamento de informações. O argentino desconfiava até das atividades da equipe de futebol feminino, com isso, qualquer treinamento no CT deveria ser informado previamente ao treinador.
E a relação com os jogadores? Bom, o treinador chega com muito mais moral e acredito eu, vai contar com o apoio de quase todo o elenco. Tem tudo para potencializar vários jogadores, contudo, é tão exigente quanto o Dudamel. Não adota o estilo militar, mas não é nada parceiro. O volante Jobson, que chegou a ser especulado no Atlético, reclamou do argentino quando perguntado sobre as diferenças entre Jesualdo e Sampaoli. A Gazeta Esportiva publicou uma matéria na qual o volante falou sobre o ex-treinador. “Sampaoli é bem elétrico e Jesualdo é mais tranquilo. Procura conversar mais e ver o ser humano, isso faltava para o Sampaoli. Faltava procurar entender o lado do jogador” afirmou o atleta.
Quem também reclamou de Sampaoli foi Cueva. Em entrevista à rádio peruana Ovacion, o meia falou sobre a relação com o seu ex-treinador: “A imagem do Cueva no Santos não é a minha imagem. Eu não joguei, foi tema pessoal com o treinador e agora posso dizer. Tive de suportar coisas, pois não quero cometer mesmos erros anteriores na carreira. Se as pessoas do Peru querem saber o tema é só ir ao clube e averiguar. Podem perguntar aos roupeiros, seguranças e presidente, passando pelos meus companheiros. É normal treinadores não escalarem alguém, é o futebol, mas o respeito tem que ser igual a todos. ”
Outro ponto é a reformulação no elenco. Como isso vai acontecer? Aliás, como o elenco vai reagir a mais um combo de mudanças? Só o tempo vai dizer.
Em resumo, falta planejamento, convicção e diálogo, ou seja, falta tudo. Dinheiro na mão é vendaval. Vamos ver como o navio atleticano se segura em meio à tempestade.