O Rei e a luta: Reinaldo lembra caminhada político-social quando era jogador e opina sobre a necessidade do posicionamento de outros atletas
Catharina Tomazzi
16/06/2020 – 08h50
Clique e siga nosso Instagram
Clique e siga nosso Twitter
Clique e siga nosso YouTube
Clique e siga nosso Facebook
Um dos maiores ídolos do Atlético-MG diz que posicionar é um dever de todos os cidadãos e ao mencionar o gol de 78 pela Seleção, afirma: “faria muito mais”.
CLICA AQUI E SAIBA COMO GANHAR UMA CAMISA OFICIAL AUTOGRAFADA
José Reinaldo de Lima, o maior camisa 9 da história alvinegra, foi um grande ativista na luta antirracista e também contrária à Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). Diretamente, com suas entrevistas, principalmente ao Jornal Movimento, no qual foi intitulado de “Reinaldo: bom de bola e bom de cuca” e indiretamente, com o famoso gesto na comemoração de gols, fazendo alusão aos Panteras Negras, partido político estadunidense que surgiu como protesto à violência policial contra pessoas negras.

Punho Cerrado
Dentre todos os gols convertidos em comemorações com o braço direito para cima e o punho cerrado, um deles se tornou o mais marcante: o de empate contra a Suécia, na Copa do Mundo de 1978, em plena ditadura militar brasileira, na Argentina, que também vivia sob regime ditatorial. Reinaldo relembra ao Fala Galo:
“Antes da Copa do Mundo foi recomendado a mim não fazer o gesto na hora do gol, não comemorar daquela forma, mas eu não podia perder essa oportunidade da celebridade fazer um gol em copa do mundo e fazer o gesto que é contra o racismo e também é político. Então eu fiz justamente porque era do movimento black power, do partido Pantera Negra americano, não só político, mas também racial e se fosse hoje eu faria muito mais.”
A comemoração do gol custou caro ao então jogador da Seleção Brasileira, como foi destacado em seu livro, ‘Punho Cerrado: a história do Rei’ (2017): “Depois do jogo, Reinaldo recebeu um envelope em espanhol, vindo da Venezuela, com supostas informações sobre a Operação Condor, a colaboração entre as ditaduras sul-americanas para o assassinato e desaparecimento de ativistas de esquerda e pró-democracia. Depois do empate em 0 x 0 com a Espanha, em que toda a equipe atuou mal, Reinaldo foi substituído por Roberto Dinamite. No auge da carreira, reconhecido nacionalmente como um gênio da camisa 9, Reinaldo era tirado do time e nunca mais voltaria a jogar uma partida de Copa do Mundo pela Seleção Brasileira.”

Naquela época, os jogadores de futebol, os artistas e qualquer outra pessoa que se opusesse ao governo, lutava não só pelo que acreditava, mas também pelo direito de se manifestar. Atualmente, a liberdade de expressão é garantida a todos. Porém, não é comum ver jogadores de futebol brasileiros com atitudes semelhantes a de Reinaldo. Ao ser questionado sobre o dever de ídolos do futebol de se manifestarem dispara:
“É um dever do cidadão. Independente se ele é ídolo ou outro cidadão qualquer, deve sempre se posicionar e exercer sua cidadania. O ídolo, a celebridade se posicionando, sem dúvida, é muito bom pela repercussão e eco que dá, é a representação de uma maioria, mas esse posicionamento político tem que ser bastante libertário. A pessoa que quer participar tem obrigação (de se posicionar), o interessante seria que todos tivessem essa consciência política e social, mas não passa a ser um dever desse profissional.”
Além disso, o Rei completa:
“Uma voz isolada é importante, mas perde muito o eco depois. O interessante é o engajamento político, tem que exercer com a consciência política.”
A luta continua
Apesar de acreditar que existiram alguns avanços em relação à época em que pisava nos gramados, como aquisição de alguns direitos civis, o Rei afirma que o racismo ainda existe e que deve ser combatido, que esse preconceito é “um desvio de personalidade e até mesmo psicológico”. Além disso, afirma que como as leis não punem devidamente o crime, a população deve tomar atitudes como as de “ir para a rua e demonstrar a força do povo no Brasil.”
Como demonstração do combate ao preconceito racial, alguns jogadores brasileiros se posicionaram, como Marcelo, lateral do Real Madrid que comemorou o gol contra o Eibar, no último domingo, em gesto demonstrativo da luta antirracista. Porém, as manifestações de ídolos brasileiros do futebol são bem brandas e esporádicas, o engajamento político, ainda mais raro, ecoando pouco entre seus fãs e gerando quase nenhuma repercussão.
Assim como pontua Reinaldo, o mais importante dos movimentos político-sociais é o engajamento, para que possam surtir consequências efetivas para a população, mas o exemplo é imprescindível. E quem melhor para ser seu exemplo que o seu maior ídolo?