Coluna Preto no Branco: Ei Sette!!! Sou eu de novo, cara. Tudo bem?

 

Por: Max Pereira 
03/04/2020 – 06h
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E já que parece que você quer conversar com a torcida, deixa eu te falar algumas coisas.

Sabe, presidente, em meu último artigo “REFLEXÕES EM PRETO E BRANCO” mostrei um otimismo inusual em relação à sua gestão. E confessei que estava gostando do que via e ouvia, sem deixar, entretanto, de reconhecer que ainda falta muito para que a prática ratifique totalmente o discurso, o que na história do Atlético é algo absolutamente normal.

Estranho esse otimismo, não? Sempre fui um crítico contumaz desse modelo de gestão que vigora no Atlético há décadas e que considero arcaico e superado.

Mas, por amor à justiça e à verdade, é forçoso reconhecer, presidente, que desde meados do ano passado a sua gestão vem indicando uma mudança de rumos bem interessante.

Júnior Chávare, por exemplo, sacudiu a base atleticana de forma extremamente positiva e inteligente, ao implementar uma política de captação agressiva e eficiente de talentos potenciais.

É preciso ressaltar, porém, que os frutos dessa nova fase da base atleticana só serão colhidos dentro de algum tempo e à guisa de um trabalho proficiente de formação e maturação da garotada.

A boa notícia, não é Sette, é que o Atlético tem estruturado as suas categorias de base e contratado profissionais qualificados com esse objetivo.

A operação de guerra” com 91 atletas, “devolvidos” às suas cidades por tempo indeterminado, com custos bancados pelo clube e com atividades físicas monitoradas semanalmente, além de treinos filmados, mostra como o Atlético-MG tem cuidado com esmero profissional de sua base.

O clube tem, hoje, 120 jogadores nas categorias de base. Dos 120, 91 moram na Cidade do Galo. São atletas de cidades variadas, de 12 estados diferentes. Se o primeiro desafio envolveu resolver a questão urgente de enviar 91 garotos para as suas casas, o seguinte foi, em relação aos 120 atletas, orientar e controlar os treinos em casa de cada um deles. Independentemente da categoria.

Foi orientado a cada jogador que filmasse os treinos domésticos. Isso facilita o controle à distância e a busca dos resultados esperados. Além da preocupação com a questão física, o Atlético está fazendo um acompanhamento completo nas áreas psicológica, educacional e da assistência social, categoria por categoria. Todos os atletas recebem semanalmente todas as programações de atividades físicas, pra que possam estar se cuidando.

Outro exemplo é a equipe de transição, recriada em 2019 que vem suprir um vácuo, muitas vezes letal para muitos e muitos garotos, na passagem deles para o profissional.

Sempre chamei esse vácuo de limbo e, para quem quiser aprofundar essa questão, recomendo a leitura do meu artigo “FUTEBOL DE BASE. NEGÓCIOS SEM BASE. DO SONHO AO LIMBO E DO CÉU AO INFERNO. MAS, RESSURGIR DOS MORTOS É POSSÍVEL”.

Presidente, sempre no intuito de colaborar e provocar a reflexão tenho insistido em mandar alguns recados para você. Por exemplo, em 7 de janeiro passado mandei uma mensagem para você. Foi no artigo “UM RECADO AO PRESIDENTE: NÃO EXISTE MELHOR MARKETING DO QUE INSPIRAR CONFIANÇA“.

Algum tempo depois, escrevi também algumas coisas CURTAS E GROSSAS. E, por fim, disse poucas e boas em “Fala Sette!!! E aí cara, tudo bem? Deixa eu te falar… “.

Sabe cara, a rapidez com o que o meu otimismo foi atropelado pelos seus últimos anúncios, no fundo, no fundo, não me surpreendeu. E nem o fato de que o corte de despesas foi uma exigência da MRV para continuar apoiando financeiramente, reconhecido publicamente por você, causou-me estranheza.

Assim, nada mais natural que a empresa tivesse participado de todas as reuniões sobre a tomada de decisão nesse sentido. Como sacou um nobre atleticano em suas redes sociais: “Pra quem ainda tinha dúvida da influência da empresa no clube…”.

Se de um lado, nada mais normal e óbvio que a influência da MRV nas tomadas de decisão do clube, o que, aliás, não poderia ser diferente, em razão dos termos de parceria certamente ajustados entre as partes, também seria de se esperar que os funcionários teriam aquiescido, caso contrário o risco de uma enxurrada de processos trabalhistas seria enorme.

Uma decisão dessas jamais poderia ser unilateral. Diálogo, negociação e, por fim, um acordo consensual. Este seria o caminho natural em uma instituição que primasse pelo respeito e pelo senso profissional. Pelo menos, foi o que o bom senso indicava e assim imaginei.

Mas, uma declaração sua deixou nas entrelinhas que isso não aconteceu. E não precisaria ser vidente para antever que, em consequência, o Atlético teria muitos dias negros pela frente.

“Os insatisfeitos que saiam”. Esse tipo de declaração, autoritária e antipática, desmonta todo o discurso dos dirigentes e dos parceiros que davam a entender que o Atlético estaria iniciando uma nova era, onde o profissionalismo demarcaria a gestão do clube e o trato do futebol.

Não. Eu me recusava a acreditar que uma decisão dessa tenha saído sem que antes houvesse uma conversa com profissionais envolvidos. É inimaginável que tal decisão tenha sido tomada sem o envolvimento de profissionais da estatura de Sampaoli e Mattos, por exemplo. É uma decisão complexa que, tomada de forma vertical e sem diálogo, traria implicações severas e talvez incontornáveis.

Um contrato pressupõe acordo bilateral em as partes envolvidas e, portanto, alterar o que nele foi pactuado, deve também ser precedido de acerto entre os contratantes. O rompimento unilateral, quando uma das partes der motivos, o que não é o caso, só pode ocorrer nos termos da lei.

A infeliz declaração do presidente sobre possíveis insatisfeitos que contrasta com a imagem que ele mesmo está tentando passar nesse último ano de seu mandato e com o modelo de clube que ele e os parceiros estão vendendo, parece apenas uma reafirmação desnecessária de autoridade.

Lionel Messi anunciou que o elenco do Barcelona aceitou reduzir salários em 70%. O anúncio feito pelo mais importante ativo do clube catalão e, se não o maior, um dos maiores jogadores da atualidade, indica acordo, concordância e consenso.

E não podia ser diferente. Um clube sério negocia com seus profissionais. Duvido que o presidente do Barcelona tenha dado ou dará uma declaração do tipo: “os incomodados que saiam”. Gestão efetivamente profissional não comporta estribilhos autoritários e nem jogos de cena.

Curiosamente, o Atlético é um dos líderes de um movimento de clubes brasileiros que buscar encontrar soluções de interesse comum para os problemas que a pandemia lhes está impondo.

Uma das resoluções pétreas desse movimento orienta os clubes buscarem o entendimento com os seus jogadores sobre as medidas a serem tomadas.

Nesse sentido, representantes dos clubes já contactaram as entidades representativas dos atletas buscando agilizar esse consenso. Seria no mínimo risível ver o Atlético agindo na contramão das orientações de um movimento do qual é um dos líderes.

Buscando, talvez, apagar o fogo aceso pelo presidente, antes que um incêndio de grandes proporções irrompesse no clube, o Atlético, por meio de seu vice-presidente, Lázaro Cândido, diz que os jogadores aceitaram bem redução salarial. O dirigente disse ainda que o contato com os jogadores que foram afetados pela medida foi feito pelo diretor de futebol, Alexandre Mattos, o que parece evidenciar diálogo e respeito bilateral.

Mas não é que o vice-presidente acabou também por repetir a pérola presidencial sobre os possíveis descontentes. Uma no cravo outra na ferradura. Êta Atlético!!! Você tem muito a aprender ainda.

Lásaro ainda revelou que outras medidas deverão ser tomadas, como demissão, por exemplo, mas não especificou em quais setores. “Em determinados níveis há de se fazer um ajustamento e só essa redução não vai resolver. Então o presidente já determinou que vai haver o enxugamento em diversos setores, mas esse processo ainda está em avaliação e em desenvolvimento”, destacou.

Alguém vai pagar o pato. Tal notícia certamente tirou a tranquilidade de muitos funcionários do clube. Ou seja, ficou nisso tudo uma chama remanescente que, se não for debelada com habilidade, pode gerar problemas graves em um futuro próximo.

Mas nem tudo são espinhos. Se manifestando em relação à redução de salário implementada pelo clube, o técnico Jorge Sampaoli divulgou uma nota compreendendo a crise econômica no mundo e a medida do Atlético.

Uma opinião de um torcedor, preocupado com esses recentes anúncios, varreu as redes sociais e foi dirigida como alerta ao vice-presidente Lásaro Cândido da Cunha: “Acho que o presidente @camara_sette já está exagerando na quantidade de entrevistas. Principalmente em rede nacional. Isto atraí holofotes demais, cria uma expectativa exagerada que, se não se cumprir, será muito execrada depois”.

Sette, quem avisa amigo é.

Em tudo isso, duas coisas precisam ficar claras e muito bem explicadas, ainda que as cláusulas de confidencialidade dos respectivos contratos sejam respeitadas.

Primeiro: MRV é investidora? Sim. Claro, ninguém vai tirar dinheiro do bolso e doar ao Atlético. A relação entre Atlético e MRV não é a de um doador e um donatário. É de parceiros.

E, obviamente, também não é e nem pode ser um negócio onde se retira o dinheiro e o coloca onde quiser e na hora que quiser. Por isso, é sempre muito importante questionar de onde vem, como vem, como será aplicado este montante investido pelo parceiro e também como será o retorno.

Segundo, recente matéria do jornalista Thiago Fernandes (@thirfernandes) trouxe informações muito interessantes e alvissareiras sobre a contratação de Sampaoli, na contramão daquele alarmismo da mídia do eixo.

Se tudo o que foi falado de ruim sobre a vinda do argentino não passou de exagero ou de uma rematada idiotice, não sei. Mas, segundo @thirfernandes, o contrato foi espetacular para o Galo. Um dos melhores e mais resguardados investimentos da história do clube. “Há um valor estabelecido em contrato para que seja feita a rescisão. A quantia é a mesma para ambas as partes. Portanto, caso Sampaoli tenha a intenção de deixar a Cidade do Galo antes do fim do acordo, previsto para dezembro de 2021, ele também precisa ressarcir os mineiros.”

E aí Atlético? Qual é a verdade nisso tudo? Quem tem razão? Quem aposta no desastre ou quem coloca as suas fichas no sucesso? Até quando vc purgará os seus paradoxos?

Olha, transparência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Muda, pô!