Vale o investimento?
Silas Gouveia e Prof Denílson Rocha
04/03/2020 – 14h56
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A contratação de Jorge Sampaoli para técnico no Atlético trouxe, novamente, o debate dos valores que são pagos aos profissionais do futebol. Se muitos já falavam dos salários e prêmios exorbitantes, depois da tragédia anunciada que aconteceu com o rival local, ficou um receio ainda maior.
Se os números divulgados estiverem corretos (melhor não crer em tudo que se lê!), o Atlético passa dos R$ 450 mil pagos mensalmente à Dudamel e seus auxiliares e passa a R$ 1,2 milhão com Sampaoli e sua trupe. Desconsiderando encargos, a diferença fica próxima a 10 milhões de reais por ano. Valor inquestionavelmente elevado, especialmente para um clube endividado e para o discurso de “austeridade”. Só para reforçar, estes números são os divulgados na mídia, NÃO são, necessariamente, a realidade.
Sejam números verdadeiros ou não, limitar a discussão apenas ao que será pago à equipe técnica é reduzir demais o que está envolvido.
Para começar, novamente precisamos dizer que “austeridade” significa rigor no controle dos gastos, com a redução das despesas supérfluas. Austeridade não quer dizer que precisa eliminar os investimentos nas atividades que te geram receitas. Mas não foi bem assim que a austeridade foi aplicada no Atlético. Além de manter despesas bastante discutíveis e realizar contratações absolutamente desnecessárias ou com valores descabidos, a interpretação da austeridade levou a uma redução nos investimentos no futebol e, como consequência, a uma diminuição significativa nas receitas de bilheteria, GNV, premiações, vendas de produtos…
A última entrevista coletiva do presidente Sérgio Sette Câmara deixou bastante claro que não há e não haverá mudança na tal postura de “austeridade”. E, para bom entendedor, a contratação de Jorge Sampaoli foi motivada muito mais pelos interesses políticos (leia-se, reeleição) do que esportivos ou financeiros. Ainda assim, atirou no que viu, acertou no que não viu…
A chegada de Sampaoli pode representar mudanças muito maiores que apenas a esperada melhoria no desempenho do time.
Para começo de conversa, sendo real a multa estipulada em contrato (de novo, é melhor não acreditar em tudo que se publica), representa que o Atlético terá que mudar a postura das frequentes demissões de treinadores. Finalmente, será possível pensar em um trabalho de médio prazo. Finalmente, um treinador do Galo poderá ter tempo de trabalho para gerar resultados e não, como acontecia até agora, ser cobrado por resultados para ter tempo de trabalho.
Outro ponto relevante está na mudança na relação com o elenco. Nos últimos anos, estivemos entre “estagiários” e “ex-treinadores ainda em atividade”. Foram técnicos que não tiveram legitimidade ou credibilidade suficiente para conduzir o grupo de jogadores – especialmente aqueles com carreira vitoriosa. Às vezes, faltou competência para gerar resultados. Às vezes, faltou capacidade de relacionamento com o grupo. E geralmente faltou grandeza, “status”, para que o treinador pudesse exigir dos jogadores mais profissionalismo e resultados. Em geral, foram contestados (ou até mesmo sabotados?) pelo próprio grupo. Agora, Sampaoli chega com “status” de um dos melhores técnicos em atividade no Brasil, com uma carreira bastante reconhecida e com personalidade forte o suficiente para implantar suas ideias. Se necessário, tem a grandeza suficiente para afastar medalhões e bancar jovens jogadores. É uma oportunidade para reinstalar a hierarquia do técnico como “comandante da equipe”.
Mas e o dinheiro?
O retorno financeiro do investimento em Sampaoli precisa ser avaliado em diversos aspectos.
Já começou com o retorno de visibilidade do Atlético. Qual a última contratação que mereceu destaque na imprensa nacional, internacional e até em postagem na conta oficial da FIFA? Quanto tempo o Atlético ocupou com destaque nos programas esportivos desde o último domingo? Qual espaço terá na mídia enquanto Sampaoli aqui permanecer? Isso tudo tem valor! E se não é um dinheiro entrando diretamente no caixa do Clube, a exposição da marca permite a negociação de melhores contratos de patrocínio. Se existe apoio da MRV e do BMG, “parceiros” frequentes, não é por gentileza. São negócios que dão visibilidade às duas marcas estampadas no uniforme do Atlético.
🇨🇱 Led @LaRoja to their 1st major 🏆
🌎 Conquered @udechile's only continental title
🇪🇸 Ended @realmadriden's 40-game unbeaten run
🇧🇷 Unexpectedly led @SantosFC to @Brasileirao 🥈
🥉 behind Luis Enrique & Pep Guardiola in #TheBest FIFA Men's Coach (2015)@Atletico 👏👏 https://t.co/h5TKs4Kec1— FIFA.com (@FIFAcom) March 1, 2020
Além da visibilidade, trazer um técnico de maior qualidade gera ganhos esportivos e valorização da equipe – inclusive com melhores possibilidades de negócio.
Quanto aos ganhos esportivos, até a semana passada, todos tratavam o Galo como candidato até ao rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Agora, já se fala em classificação à Copa Libertadores. Qual a diferença nas premiações? Em 2019, o 13º lugar do Atlético significou R$ 13,7 milhões, enquanto um 4º lugar permitiria embolsar R$ 28 milhões. É apenas uma expectativa? Sim. Mas o que poderia se esperar com o que tínhamos até a semana passada? Além disso, uma melhor campanha significa aumento na arrecadação com bilheteria, GNV e venda de produtos. Este efeito já pode ser sentido.
A valorização do elenco também é uma possibilidade. Só como comparação, quantos conheciam Yefferson Soteldo até o início de 2019? Qual seria a reação da torcida se comprasse 50% do seu passe por 3,5 milhões de dólares? Um ano depois, e bastante valorizado pelas atuações no time dirigido por Sampaoli, uma proposta de 10 milhões de dólares foi considerada bom investimento. Quantos jovens jogadores do Atlético podem se valorizar em um time competitivo, organizado e bem treinado? Quanto pode se esperar de valorização de jogadores como Guga, Maílton, Igor Rabelo, Gabriel, Guilherme Arana, Allan, Jair, Marquinhos, Savarino…? Existe certeza desta valorização? Obviamente, NÃO. Mas a probabilidade de dar certo e valorizar seu elenco é muito maior com um treinador como Sampaoli do que era com alguns dos que tivemos no Galo anteriormente.
Futebol não é ciência exata. Gestão não é ciência exata. Quando Marcelo Oliveira foi contratado, muitos celebravam. Pouco depois, os mesmos criticaram o técnico. Em atividades humanas, como o futebol, sempre existe a possibilidade de errar, não é possível ter certezas. O que se pode fazer é minimizar os riscos. E isso se faz com gente competente. O caminho sem assumir grandes riscos que o Atlético vinha trilhando era seguro, mas só levava à mediocridade. Segundo Dale Carnegie, “Toda vida é um risco. O homem que vai mais longe é geralmente aquele que está disposto a fazer e a ousar. O barco da ‘segurança’ nunca vai muito além da margem”. Que a chegada de Sampaoli mostre à diretoria Atleticana que é preciso ousar, assumir riscos calculados, pensar (e agir) grande.
Aos que já começaram as críticas, é melhor esperar um pouco mais. Seja verdade ou não, 1,2 milhão ao mês é muito ou pouco? Só o tempo dirá.