Um mau vendedor por excelência! Sina? Carma? DNA? Incompetência congênita?

 

 

 

Max Pereira
28/01/2020 – 06h
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“AS OPINIÕES QUE CONSTAM NO TEXTO, SÃO DO ATLETICANO MAX PEREIRA E NÃO DO FALA GALO.”

Os tempos de hoje tem tornado cada vez mais complicado e difícil o trato com o diferente e com as frustrações de toda ordem. Aqui e ali, o que se vê, em número cada vez maior, são pessoas que, levadas pela fúria das paixões e pelo binômio ódio/intolerância, se mostram cada vez mais incapazes de ver as coisas com parcimônia, racionalidade e, principalmente, com humanidade. Crise civilizatória? E no futebol, por óbvio, não é diferente.

Nesse contexto e, em um ambiente de absoluta falta de transparência, caracterizado por uma comunicação institucional falha, os atos e decisões dos dirigentes atleticanos quase sempre são mal percebidos pela torcida.

O pouco que é possível conhecer e saber, porém, é também, com frequência indesejável, bastante criticável, seja porque não se dispõe de informações claras e suficientes, seja porque são de fato tomadas de decisão temerárias.

O aproveitamento de ex-atletas em funções várias no clube, por exemplo, é geralmente mal recebido pela torcida que atribui o fato à existência de um cabide nefasto de empregos no Atlético.

A verdade é que a torcida do Galo nunca se acostumou com ex-atletas se aposentando e passando a exercer novas funções no clube.

Nem mesmo ídolos consagrados e inquestionáveis são bem vistos e aceitos se continuam no clube seja em que função for, independentemente do que estejam entregando nessa nova etapa, mesmo porque muitos “críticos” pouco ou nada sabem sobre o que de fato acontece e é feito dentro do clube. Apenas despejam seus maus humores.

Questões culturais e sociológicas estão na raiz dessa reação adversa de grande parte da torcida. Muito diferente do que acontece no velho continente, onde essa prática é recorrente e, via de regra, muito bem sucedida

Historicamente o Atlético sempre foi um mau negociante e um paraíso para os agentes/empresários e para os clubes interessados em seus jogadores. Sina? Carma? Incompetência congênita? Seja o que for, infelizmente o ódio da massa sempre alimentou essa trágica tradição. E aqui chegamos ao cerne desse artigo.

A torcida do Atlético tem sido cada vez mais o pior adversário do próprio clube. A passionalidade, a irracionalidade e a irreflexão, somadas a um complexo de vira latas monstruoso, são a marca registrada de parcela significativa da massa. A diretoria agradece e faz “merda”. Não é o que reza a lenda?

De modo geral, o atleticano vem reagindo, ao longo dos tempos, em relação aos negócios do clube, de modo absolutamente esquizofrênico. Se a diretoria busca realizar uma contratação de peso o torcedor diz que o clube vai falir e, se o Atlético não busca este tipo de reforço, diz que diretoria é medíocre e tem que tem que repensar a sua estratégia.

Vez ou outra, alguma voz lúcida lembra nas redes sociais que o Atlético “sempre fez o contrário do ideal, que seria não vazar nada antes (nenhuma informação) e ser transparente depois (todas as informações)”.

Nada contra realizar contratações em parceria com investidores, desde que não sejam negócios leoninos para o clube e que, as chamadas cláusulas de confidencialidade não resultem em surpresas desagradáveis.

Por outro lado, sempre que uma venda é confirmada uma pergunta recorrente é repetida onde quer que o assunto seja tratado: qual seria a parte que cabe ao clube?

É que repartir direitos econômicos de seus principais atletas sempre foi um caminho percorrido por vários clubes brasileiros, o que só levou, a quem nele investiu, a mergulhar em crises infinitas e ao caos financeiro, técnico e moral.

Olhem os últimos negócios, os primeiros dessa temporada. O Galo diz que recebeu 9 milhões de reais pelo Alerrandro e que, se as saídas anunciadas se concretizarem, o clube, em princípio, irá receber mais ou menos 20 milhões pelo Cleiton e 12 pelo Cazares. Mas, será isso mesmo?

E se forem mesmo esses valores teriam sido bons negócios? Acredito que não.

De outro lado, o Atlhetico Paranaense negociou o jovem volante Bruno Guimarães por algo que pode chegar a 110 milhões de reais.

O que estaria na raiz dessa brutal diferença? Lá, uma espiral de valorização e de bons negócios. Aqui, ocorre sistematicamente o contrário.

O caso Cazares é emblemático e se tornou um excelente “case” de como não se deve tratar nenhum profissional e, tampouco, colocá-lo no mercado de forma tão leviana e temerária.

E pasmem: vários são os “gênios” que ainda aplaudem a diretoria do Atlético daqui. Aqueles mesmos que, ao longo dos tempos, vêm avalizando esses péssimos negócios e que e só sabem chamar jogador de vagabundo.

Não bastaram as infelizes declarações públicas de dirigentes afirmando que o craque equatoriano só joga quando quer. A última pérola, agora proferida pelo novo treinador, dá conta de que Cazares não está mais com a cabeça no clube e quer sair.

Surge então, em uma “coincidência” surreal: um clube árabe interessado no jogador.

As últimas notícias, entretanto, indicam que, no tradicional jogo de propostas e contrapropostas, o Al-Ain se recusa a pagar os 3 milhões de euros (R$ 13,8 mi) que teriam sido pedidos pelo Atlético e mantém a oferta de US$ 2,8 milhões (R$ 11,6 mi) por Cazares.

Uma notinha ardilmente plantada em um veículo do eixo Rio-São Paulo, traz a “notícia” de que os árabes estariam apostando no desejo do jogador de se transferir, conforme revelado por Rafael Dudamel, para acertar a negociação nos próximos dias. Uma troca nada sútil de recados.

A estratégia traçada pelo Al-Ain para tirar o meia atacante do Atlético seria a seguinte: Cazares pode assinar pré-contrato em julho e, assim, o clube árabe esperaria a data e faria nova oferta para levá-lo em 2021, sinalizando usar os US$ 2,8 milhões, valor da proposta até então recusada pelo Atlético, para pagar as luvas ao atleta.

Na verdade, essa “matéria” visa normalizar a saída imediata de Cazares pela oferta irrisória dos árabes, sob o argumento fajuto de que, caso o negócio não se efetivasse agora, ele fatalmente sairá ao final da temporada de graça. E, ainda que Cazares saísse pelos valores pedidos pelo Atlético, seria um péssimo negócio.

Se o Atlético vai resistir a esse “canto da sereia” e aprender, de vez, a se impor ao mercado ou se vai sucumbir às “pressões” dos árabes e se submeter às “vontades” do jogador, efetivando tal negócio, quem viver verá. Particularmente, acho a segunda hipótese mais factível.

E não é que aos poucos uma hasteg vem crescendo e se transformando em uma onda incontrolável? #FicaCazares. Aleluia aos torcedores de boa vontade e amantes do talento.

Mesmo acreditando ser aconselhável e possível não se desfazer do jogador, renovar seu vínculo, permitir a Dudamel explorar o seu potencial e valorizá-lo, eu não aposto nessa possibilidade.

O que me parece claro é que os negócios do Atlético não podem mais ser balizados pelo ódio e pela intolerância de quem quer que seja e, nem tampouco, continuar a correr ao sabor das notinhas plantadas, de pressões de credores e de interesses de empresários. E, claro, dos clubes interessados nos tais negócios.

Até quando o torcedor atleticano vai permitir que suas idiossincrasias sejam exploradas para normalizar negócios temerários do clube?

Em todas as fotos recentes, Cazares vem mostrando uma tristeza profunda. Natural para quem é xingado, maltratado e atacado cruelmente. Para quem tem sido vítima de uma crueldade sem limites e de uma intolerância por parte da torcida e da própria diretoria que não tem poupado críticas públicas ao craque, querer sair nessa condição é até natural. E ser atacado por isso é mais uma brutal covardia.

Se Cazares, por meio de mil e uma bocas que não são dele, tem dito e feito muitas coisas, prefiro acreditar que aquele craque, que tem treinado com afinco e que tem sido elogiado por Dudamel, que nunca escondeu que quer contar com ele, ainda pode trazer muitas alegrias para mim e para milhões de atleticanos espalhadas pelo planeta.

Aqui, é preciso lembrar que um grande desafio está a se impor ao comando atleticano. Um desafio que exige planejamento, estratégia, criatividade e engenharia financeira. É sabido e ressabido que o clube acumula uma dívida significativa, preocupante e crescente, ao mesmo tempo em que a receita cai.

A atual crise econômica e política que assola o país e a própria situação financeira do Atlético, reconhecidamente delicada, não podem, entretanto, servir de desculpa para a concretização dos negócios ventilados, como sempre ruins em relação aos valores anunciados e péssimos quanto a inoportunidade da saída de determinados atletas e da chegada de outros.

Essa diretoria entraria para a história do clube e seria carregada nos braços pela torcida se buscasse romper de vez com essa sina de mau negociante. A porteira dos negócios temerários, a bem do clube e dos profissionais envolvidos, deve ser fechada para sempre.

Em seu Twitter, o atleticano Roberto Gallo faz uma pergunta que não pode ficar sem resposta: “Alguém consegue compreender o motivo que leva o clube mais empresa do Brasil (Red Bull), que visa resultados econômicos acima dos desportivos, ter o Galo como principal alvo em sua primeira janela de Série A aqui no Brasil?”

Alguém duvida que essa vocação cármica de mau vendedor, que marca a história atleticana, é a resposta para essa pergunta?

DNA? Sina? Carma? Incompetência congênita?

Nas terras encharcadas dos cursos d’Agua invisíveis, dos rios que, ora se formam, ora transbordam e dos céus que choram copiosamente, tem gente se chafurdando na lama em todos os sentidos.

Será esse também o futuro do Atlético, cujos negócios quase sempre são desconhecidos, muitas vezes misteriosos e inacessíveis aos olhos de seu torcedor?