O clássico que não terminou: Entrevista com APVS e Mineirão
Silas Gouveia
Do Fala Galo, em Belo Horizonte
22/11/2019 – 15h
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No último clássico do dia (11/11/19), dez dias atrás, um show de horrores. Minas tornou nacional um episódio de racismo explícito que só foi apurado e aprofundado porque havia imagens e falas incontestes, gravadas por um terceiro e expostas nas redes sociais de forma tal que os antagonistas não tinham como se esconder. Os envolvidos flagrados procuraram por livre e espontânea vontade as autoridades policiais. Isto mesmo! Não foi a polícia quem os achou.
Para completar o péssimo dia do maior clássico de Minas, que não teve sequer um gol, no fim da partida, segundo informações de colegas da imprensa que estavam presentes, houve muito tumulto e selvageria, com brigas generalizadas, com direito a gás de pimenta e balas de borracha. O estopim de todo o tumulto para muitos dos presentes ocorreu com uma provocação e posterior enfrentamento entre ocupantes de camarotes particulares a torcedores do setor dos atleticanos próximos ao local, no nível inferior. Alguns vândalos que, ao que tudo indica, foram os responsáveis maiores por todo início do tumulto, arremessaram cadeiras, baldes e garrafas de vidro em direção aos torcedores atleticanos, em respostas às provocações verbais e gestuais vindas destes torcedores próximos à área limítrofe dos camarotes.
Desta forma, o Fala Galo buscou de forma imparcial, além das notas oficiais, ouvir todos os atores principais envolvidos e retransmite na íntegra os retornos da APVS e Mineirão em entrevista por eles concedida, sobre as indagações de interesse público, respectivamente.
APVS
Em contato com a empresa APVS-Brasil, fomos atendidos pelo Dr. Rogério Leonardo, advogado da empresa, que respondeu aos seguintes questionamentos:
FG – Vocês confirmam que o camarote de onde partiram os objetos lançados na torcida atleticana pertencia à empresa APVS-Brasil?
APVS: “Sim! Um dos camarotes em que houve a confusão naquele domingo, era sim da empresa APVS. Contudo, houve uma confusão generalizada e outros camarotes também foram envolvidos. Não somente o da APVS”.
FG – Algumas das pessoas que aparecem nas imagens que circulam nas redes sociais são mais facilmente identificadas. Algumas destas pessoas têm alguma relação com pessoas conhecidas da APVS?
APVS: “Sem você me explicar quem seriam estas pessoas, eu não teria como confirmar esta informação, mas a APVS entregou a lista de convidados que adentraram no camarote da associação naquele dia. Mas eu não tenho como te informar que algum dos presentes era conhecido ou parente de alguém da APVS”.
FG – Então vocês têm um controle de quem estava presente neste camarote naquele domingo?
APVS: “Sim! Inclusive já fornecemos a lista completa de nomes e identificação de todos os presentes para a Polícia Civil, que ainda está investigando. Nada mais podemos informar sobre isto, pois corre sobre segredo de investigação”.
FG – Existem alguns boatos nas redes sociais, que dão conta de que um dos envolvidos possa ser parente do Sr. Alexandre Scarpelli, sendo que esta pessoa, inclusive, andou apagando seus perfis nas redes sociais. O Sr. tem notícias disto?
APVS: “Como as investigações ainda estão em curso, eu não posso afirmar ou negar nada sobre isto. O mais importante é que a Polícia Civil vai poder questionar a todos que estavam dentro do camarote naquela ocasião. Neste primeiro momento eu não posso te afirmar se existe ou não esta relação”.
FG – Anteriormente a este episódio, vocês já tiveram algum problema com frequentadores do camarote da APVS?
APVS: “Não! E até gostaria de aproveitar a oportunidade que vocês estão dando para a gente poder se manifestar, para deixar claro que o camarote da APVS não tem nenhuma vinculação clubista. É um camarote no Mineirão e tinha mais presença de torcedores do Cruzeiro porque o Cruzeiro manda seus jogos no Mineirão na maioria das vezes. Apenas isto, para que não haja vinculação a clube A ou B. O camarote é para os convidados da associação, e dentre estes convidados podem ter convidados de Atlético e Cruzeiro e até de outros clubes. A questão tomou esta proporção porque ocorreu durante um jogo entre Atlético e Cruzeiro, sendo este o mandante do jogo. Queremos deixar claro para todos os torcedores do Galo, que são seus espectadores ou leitores, que não há esta vinculação entre o camarote e um clube específico”.
FG – As bebidas consumidas dentro do camarote da APVS eram cortesia da empresa?
APVS: “Não! A bebida eu acho que as pessoas compraram no próprio Mineirão. Parece que a regra é que você não pode consumir estas bebidas em copos ou garrafas, fora de uma determinada área restrita dos camarotes, mas o Mineirão poderia explicar melhor sobre isto”.
FG – O Mineirão rescindiu o contrato de concessão do camarote com a APVS?
APVS: “O Mineirão notificou a empresa. A questão da rescisão ela vai ser tratada nas esferas cabíveis. Eles nos notificaram da rescisão por parte deles. Uma decisão unilateral.”
Mineirão
Como exposto acima, o Fala Galo procurou o Mineirão, que atendeu prontamente nossa reportagem nas figuras dos Srs. Samuel Lloyd e Rivelle. Obtivemos algumas respostas às dúvidas maioria dos torcedores. Abaixo a íntegra:
FG – Qual a responsabilidade da Administração do Mineirão sobre o uso e ocupação dos camarotes que são comercializados no estádio e como é feito o controle da entrada das pessoas na área reservada aos camarotes?
Mineirão: “Responsabilidade contratual do camarote é de quem firma o contrato. Se sua empresa comprar um camarote, é sua responsabilidade das pessoas que você convida para o espaço. São entregues tantos cartões quanto for a capacidade de cada camarote, ao responsável pelo mesmo. A entrada é feita mediante a apresentação destes cartões”.
FG – Como é feito o controle de quem vai ocupar os camarotes, visto ser ali uma área neutra e que podem haver torcedores de equipes rivais no mesmo ambiente?
Mineirão: “O controle também é do proprietário do camarote. Ele deve saber quem está levando e como os mesmos deverão se comportar naquele ambiente”.
FG – Existe uma lista das pessoas que foram convidadas para frequentar um determinado camarote em determinado evento?
Mineirão: “Não! A responsabilidade é toda de quem convida e distribui os cartões de acesso ao camarote”.
FG – Juridicamente, o Mineirão não poderia acabar sendo corresponsável por atos praticados por usuários destes camarotes, por não haver ao menos um controle de identificação de quem estaria frequentando aquelas áreas?
Mineirão: “Entendemos que não, pois isto está claramente identificado no contrato de compra do camarote, de onde se pode extrair as responsabilidades e deveres de quem adquire um camarote no Mineirão. Inclusive, foi por conta destas determinações contidas no contrato que foi possível o rompimento do mesmo com a empresa proprietária”.
Segue a transcrição do que consta no contrato de compra de camarotes, que embasou a decisão de rescindir com a empresa:
8.14. As seguintes condutas são expressamente proibidas ao Permissionário e aos seus Prepostos e Convidados, sem prejuízo de outras proibições constantes do Contrato, de Lei ou de regulamentos:
- arremessar objeto, de qualquer natureza, no interior do Complexo do Mineirão, em especial do Camarote em direção a outra pessoa ou local, tal como nas cadeiras inferiores e no campo;
- subir ou apoiar-se em estruturas e instalações não planejadas para tal uso em especial, mas não se restringindo a fachadas, cercas, muros, grades, alambrados, postes de luz, barreiras ou guarda-corpo;
III. praticar conduta que possa atrapalhar o aproveitamento do Jogo Oficial ou Evento por outros espectadores, ou dar causa à sua interrupção ou não realização;
- incitar ou praticar atos de violência física ou moral no Complexo do Mineirão;
- criar qualquer ameaça para a vida ou para a segurança de si próprio ou de terceiros;
- entoar cânticos, portar ou ostentar mensagens, cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens de que sejam ofensivas, inclusive de caráter discriminatório, racista ou xenófobo, ou que de qualquer modo incitem a violência e a desordem; …
FG – São vendidas bebidas alcoólicas nos camarotes. Quais os tipos de bebidas são permitidas no interior do camarote? Os usuários podem levar suas próprias bebidas e comidas?
Mineirão: “Não é permitida a entrada de bebidas ou bebidas trazidas de fora do Mineirão. As bebidas alcoólicas vendidas nas áreas dos camarotes são whisky, vodka, gin, vinho e cerveja em lata”.
FG – O Mineirão pensa em mudar alguma coisa no atual regimento interno, visando melhorar o controle de acesso, ou ao menos identificar melhor quem esteja usufruindo dos camarotes em dias de eventos como os clássicos, no intuito de inibir atos como os que foram praticados?
Mineirão: “O Mineirão está sempre pronto para que os torcedores tenham a melhor experiência no estádio e atento às sugestões dos torcedores.”
A direção do Mineirão respondeu todas as nossas perguntas e, mesmo que não nos tenha trazido alguma solução, ao menos demonstrou interesse na busca de elucidar todos os lamentáveis fatos ocorridos naquele fatídico domingo de clássico.
Esperamos que novas medidas de segurança estejam sendo pensadas e que o Mineirão tome iniciativas para demonstrar seu empenho em elucidar plenamente todos os atos.
De todo este lamentável episódio, mais que a indignação e revolta, ficaram a sensação de impotência da população, junto com uma certa descrença com os órgãos investigativos para dar respostas mais rápidas e contundentes aos atos de tamanha selvageria. Longe ainda de esgotar o assunto, o Fala Galo de forma responsável, até pela abertura proporcionada, listará em breve uma série de sugestões que possam contribuir com os atores principais, de forma a não aceitar que o clássico morra nas diversidades das arquibancadas, mas que, de fato, seja funcional e seguro para quem tanto o deseja por todo ano.
O Fala Galo continuará seu trabalho de investigar e apresentar todas as informações e novidades sobre o caso.
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Edição: Jéssica Silva
Edição de imagem: André Cantini
Edição de texto: Angel Baldo