Um teatro dos horrores: Atlético 0x2 Chapecoense
Max Pereira
Do Fala Galo, em Belo Horizonte
31/10/2019 – 00h03
É verdade que o Atlético de ontem contra Chape e dos últimos tempos tem mostrado um time mal treinado e muito mal escalado.
E não é menos verdade que os problemas do Atlético vão muito além das quatro linhas.
A cada jogo fica mais e mais evidente o mau trato com o futebol do clube. Mau trato aqui significa ausência de planejamento de elenco, comando omisso e inapetente e preparo deficiente do time. Tudo isso associado a uma crescente desimportância política, a crises recorrentes e a uma gestão administrativa-financeira, ultrapassada, desastrosa e temerária.
Assim, não é de se estranhar que o time seja escalado com dois zagueiros lentos e pesados, um deles de 40 anos e, à frente deles, com dois volantes sem pegada e de recuperação limitada e ambos com 34 anos.
Antes do jogo, em entrevista no banco de reservas, o treinador da Chape disse, em alto e bom som, que exploraria essa escalação do Atlético e, para isso, escalou um time leve e jovem do meio para frente.
Não é o primeiro técnico adversário a fazer isso e, sem querer ser fatalista, não será o último a se aproveitar das deficiências do time escalado pelo treinador alvinegro de plantão e também de sua proposta tática, ultimamente sempre inadequada e ineficiente, antes com Rodrigo Santana e agora com o sempre e, hoje mais do que nunca, contestado Mancini.
E não é só isso: o que dizer de um sistema defensivo onde, um lateral direito que não sabe marcar é quase sempre encarregado, nas bolas aéreas, da marcação de um adversário no mínimo 20 cm mais alto?
O primeiro gol da Chape foi apenas mais um entre vários que o Atlético já tomou nessa temporada em lances desse tipo, seja com Guga em campo, seja com Patric jogando.
Os tempos do jogo foram diferentes, o que não quer dizer que o Atlético melhorou de um para outro ou que aconteceu alguma coisa digna de nota e que desse ao torcedor alguma alegria.
Na etapa inicial o Atlético foi irritantemente impotente. Mal posicionado, Nathan não sabia se armava o time ou se jogava como um terceiro volante, o que obrigou Otero e, principalmente, Luan a fecharem por dentro sem, entretanto, produzir algum resultado satisfatório com essas variações.
Fechada atrás, fazendo marcação baixa, a Chapecoense não correu riscos e, ainda na etapa inicial, já poderia ter feito o seu segundo gol, se tivesse sido feliz no contra-ataque.
Mal treinado e mal escalado como já dito acima, o Atlético é uma presa para qualquer adversário minimamente organizado.
Mandar a campo esse quadrado robótico, zaga e volantes, e não escalar Cazares logo de cara, em um jogo no qual a vitória era obrigação, só agradou a ala raivosa da torcida e à diretoria que está fazendo leilão do jogador. Um absurdo.
Sem o equatoriano faltou transição, fluidez e inteligência à equipe.
O segundo gol foi mera consequência de um rearranjo no quadrado letárgico para a acertada entrada de Cazares na etapa complementar, somada a mais uma falha pixotesca de Guga.
Não costumo tecer críticas pesadas a nenhum jogador, principalmente para quem tem o infortúnio de vestir o manto alvinegro em momentos hostis como este. Mas, que seja recebido como um alerta: Guga como marcador é uma excrescência. Pavoroso.
Léo Silva não voltou para o segundo tempo e Réver foi para a zaga com Igor Rabelo passando para o lado direito. Com Elias e Nathan, este uma vez mais improvisado, remanesceu uma linha de volantes de pouca pegada e o Atlético continuou sendo presa fácil para o time de Chapecó, caso esse encaixasse um contragolpe qualquer.
Sem ser brilhante, o único jogador que colocava a bola no chão e tentava jogar com lucidez era Cazares que deveria ter começado jogando.
Logo após gol de Everaldo, o equatoriano pôs a bola na cabeça do Pastor praticamente dentro do gol catarinense e o centroavante de 40 anos cabeceou para fora. Nas redes sociais, a culpa de tudo o que estava acontecendo nesse jogo era, para muitos atleticanos, era incrivelmente de Cazares.
Quando falo em um time mal treinado, quero dizer mal preparado tática, técnica, física, emocional e mentalmente.
Um time desestruturado em todos esses quesitos obviamente vai falhar em demasia e alguns jogadores irão mostrar com mais nitidez as suas deficiências.
O segundo gol do Índio Condá, marcado por Everaldo, mostrou, por exemplo, o nível de impotência do time atleticano fruto desse despreparo.
Elias saiu da marcação do Everaldo, cobraram vários torcedores. Ele percebeu a jogada, o jogador e não acompanhou, disseram outros. Não quis acompanhar ou não pôde? Prefiro, por várias razões, acreditar na segunda hipótese.
Di Santo perdeu o pênalti e muitos estão perguntando porque F. Santos, nosso melhor batedor, não assumiu a responsabilidade. Reza a lenda que, duramente vaiado durante todo o jogo, o veterano lateral esquerdo teria buscado se resguardar. Ficção ou fato? De qualquer maneira, preocupante e emblemático.
O time do Atlético nesse segundo turno tem se mostrado emocionalmente arrebentado. É isso é um fato inegável.
Os jogadores, no fundo, no fundo, também são vítimas, em que pese suas responsabilidades decorrentes de sua incapacidade reativa individual e coletiva.
O que mais se ouve aqui e ali é que o time do Atlético é horroroso. Eu diria o mesmo se o time estivesse jogando assim em um mar de rosas. Conhecendo o clube, a torcida e a imprensa, sei o que os jogadores estão enfrentando.
E, antes que digam que eu disse que o time do Atlético é maravilhoso, o maior do mundo, lembro que reconheci as deficiências do elenco, do time titular e de alguns jogadores em particular. Mas, reconheci, também, as variáveis que contribuíram, e muito, para o time jogar o que jogou ou não jogar o que poderia ter jogado ou jogaria em condições normais de temperatura e pressão.
Além da má fase e das limitações físico-atléticas de alguns jogadores e das deficiências apontadas acima, o time, nervoso e com a moral abaixo das travas das chuteiras, tem se tornado taticamente nulo, potencialmente negativo.
É nítido que o emocional em frangalhos acentuou as deficiências táticas e técnicas do time. Além disso, pesou fisicamente para alguns jogadores e mentalmente para todos.
Não tenha dúvida de uma coisa: uma cabeça e um emocional dançados não rendem nada.
Se não houver uma sacudida para valer iremos para segundona e sem volta à primeira divisão garantida. Mas, quem, dentro do clube, tem condições de dar essa sacudida? E como isso seria possível?
Sem ser apocalíptico, mas realista, não tenho respostas. E é isso que está me assombrando.
Demitir Mancini? Com ele ou sem ele, se não houver uma radical mudança de rota, o caminho sem volta será o rebaixamento. Porém, tudo o que o Atlético precisa agora ele não tem, ou seja, tirocínio e comando.
O comando central do clube é o grande responsável. Estão jogando o time e o próprio clube no buraco. Contam com a omissão do Conselho, com as matérias e as “notícias” da ala tendenciosa e perversa da imprensa e com a passionalidade e a irracionalidade de grande parte da massa.
Não é inacreditável que um time grande como o Atlético tenha chegado a esse ponto de deterioração. Para quem conhece a fundo o clube e o seu entorno, imprensa e torcida, nada é inacreditável.
Dizer que os nossos jogadores são péssimos e perdedores, sem atitude, é simplificar o problema, tirando de foco o que é essencial. Não, não é tão simples assim.
Repito: se o clube não for sacudido pra valer iremos pra segundona. Mas quem fará isso?
FALTA VERGONHA NA CARA
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Edição: Jéssica Silva
Edição de imagem: André Cantini
Edição de texto: Angel Baldo