Protagonista ou um eterno coadjuvante: Cabe ao Atleticano conduzir o clube para o seu lugar de direito
Max Pereira
Do Fala Galo, em Belo Horizonte
28/10/2019 – 07h30
A esmagadora vitória do Flamengo sobre o Grêmio, associada a um futebol intenso e absurdamente impositivo despejado impiedosamente pelo rubro-negro carioca sobre o tricolor gaúcho, suscitou ao torcedor atleticano, com justificada e indisfarçável inveja, uma inevitável comparação entre este temível Urubu e o conturbado Galo das Alterosas.
E o disse me disse a esse respeito não só torna atual, como me obriga a profundar as questões tratadas por mim há algum tempo aqui no Fala Galo no artigo “FUTEBOL BRASILEIRO: UMA REALIDADE EM CONTINUA TRANSFORMAÇÃO OU DE COMO O ATLÉTICO, ATÉ AGORA, PERDEU PARA O SISTEMA”.
Naquele ensaio, lembrei que “Refis, Profut, dívidas, crises, prejuízos, balanços e ‘balanços’, penhoras, salários atrasados e bloqueios são algumas das palavras e expressões que foram incorporadas ao vocabulário do futebol moderno”.
E disse mais. Se antes os jogadores eram os protagonistas do esporte bretão, hoje em dia diversos outros atores, que não atuam dentro das quatro linhas, estão roubando a cena.
É sabido e ressabido que o futebol tornou-se um negócio multibilionário e, como tal, se transformou em um sistema complexo e muito perverso para vários clubes.
Nesse sentido, vale repetir que “é apropriado dizer que existe um sistema que comanda e conduz o futebol segundo determinados interesses que, quase sempre, são muito hostis à varias agremiações, particularmente àqueles clubes mal geridos, politicamente enfraquecidos e sufocados por problemas financeiros graves e historicamente muito mal administrados como o Atlético”.
Para se entender o que é hoje o futebol brasileiro, e como se chegou ao nível atual de sofisticação e complexidade, é preciso conhecer a história e como ao longo dos últimos tempos, interagiram, se movimentaram e se organizaram os diversos atores que compõem o sistema com graus diferenciados de poder e influência.
Criado há 30 anos para revolucionar o futebol brasileiro, o Clube dos 13, oficialmente União dos Grandes Clubes do Futebol Brasileiro, foi uma organização brasileira formada em 11 de julho de 1987 para defender os interesses políticos e comerciais de 13 grandes clubes brasileiros.
O Clube dos Treze, porém, não conseguiu chegar vivo aos dias atuais. O que era um grito de independência destes clubes e um embrião para uma futura Liga de Clubes Profissionais, autônoma e independente, a entidade, após romper com a CBF e organizar de forma pioneira a Copa União em 1987, viu sua vocação ir mudando ao longo do tempo e, por fim, se transformou em mera representante dos clubes na discussão de contratos.
Uma cartada de mestre da dupla Rede Globo/CBF jogou uma pá de cal no Clube dos Treze fazendo a entidade sucumbir de vez em 2011, ao produzir um racha insanável na negociação dos direitos de transmissão dos certames nacionais de 2012 a 2014 para a TV. E, um a um, os clubes foram abandonando a organização, uma debandada sem volta. Foi o fim do Clube dos Treze. Do ponto de vista jurídico não foi bem assim que aconteceu.
Implodido há alguns anos o Clube dos 13 continuou existindo, com o CNPJ ativo na justiça, mesmo sem ter nenhum representante, sede e patrimônio. Foi o que constatou a reportagem do ESPN.com.br em 2017, que investigou uma dívida milionária da organização para com a Franco Associados, empresa de Jaime Franco, ex-diretor de marketing do próprio Clube.
Franco deixou a organização alguns anos antes que este fosse esvaziado, mas sua empresa não recebeu o que lhe era devido. O empresário recorreu à justiça e ganhou a pendenga.
Porém, como o Clube dos 13 não tem mais representantes legais e nem patrimônio, poderia recair sobre os clubes que eram membros, o Atlético entre eles, a responsabilidade pela quitação do débito.
Nesse cenário confuso e turbulento configurado com a implosão do Clube dos Treze em meados de 2011, o futebol brasileiro passou, a partir de então, a ter uma fisionomia moldada pela realidade configurada pelos contratos de transmissão televisiva que os clubes pactuaram com a emissora detentora de tais direitos.
Uma instigante e profundamente elucidativa monografia de Danilo F. Christofoletti nos conduz a entender os caminhos que levaram à construção do monopólio da Rede Globo de Televisão sobre o Campeonato Brasileiro de futebol, o que, a partir da ruptura entre as agremiações e o Clube dos 13, que as representava, mudou o cenário esportivo brasileiro, gerando maiores receitas para uns poucos clubes e uma diferença brutal na arrecadação entre estes e os demais, a grande maioria.
E vai permitir, também, compreender porque e como o Atlético foi parar no terceiro escalão do ranking das arrecadações televisas e porque hoje corre o risco de despencar mais ainda.
Esse estudo de caso reveste-se de muita importância, tendo em vista que o futebol é, sem dúvida alguma, o maior fenômeno esportivo popular brasileiro, além de ser uma referência cultural no país.
Uma informação importante e muito elucidativa que esse trabalho nos permite conhecer, por exemplo, é que o esporte movimenta mais de uma dezena de bilhões de reais por ano e que cerca de meio milhão de pessoas vivem hoje do futebol.
Aqui é inevitável relembrar que neste universo multibilionário interagem investidores, parceiros, patrocinadores, fornecedores de matérias esportivos e equipamentos como o VAR, imprensa, empresas de comunicação, de marketing, de análise de potencial de mercado e de gestão esportiva, além, é claro, o agente de futebol, figura hoje, para o bem e para o mal, enraizada no sistema, capaz de frustrar, concretizar e desviar negócios com um simples estalar de dedos. Ética é, às vezes, mera peça de ficção.
Mesmo publicada há alguns anos, tal monografia permanece atual, pois explica os caminhos que levaram o futebol a ser o que é hoje no Brasil.
Nem tudo são cravos e espinhos. O Bahia surge hoje como grande e maior exemplo de uma plataforma moderna de gestão esportiva profissional e transparente, que visa também incluir, de forma holística, a sua imensa torcida sem privilégios de qualquer ordem.
Grêmio e Internacional também tem mostrado interessante evolução no que se refere a uma boa governança.
Outro fenômeno já se materializa com algum significado no futebol brasileiro, os clubes de empresários. Desde experiências ainda embrionárias até a recente e encorpada parceria do Red Bull com o Bragantino, este modelo de clube empresa parece que veio para ficar e, certamente, revolucionará, dentro de algum tempo, as relações que hoje configuram o esporte no Brasil.
Se antes o futebol brasileiro parecia sofrer um processo de “espanholização”, com Flamengo e Corinthians fazendo o papel de Real Madrid e Barcelona, graças ao brutal abismo que se abriu entre estes dois clube e as demais agremiações do ponto de vista da receita em geral e, em particular, daquela advinda das transmissões televisas, o Palmeiras, em razão de um auspicioso patrocínio, invadiu esta seleta prateleira de cima.
Mas, é visível, até o mais incauto dos observadores percebe que, na prática, está existindo um diferencial marcante entre os dois clubes paulistas e o gigante carioca. Os bons ventos que emanam da Gávea trazem a informação de que o rubro-negro carioca está se organizando administrativa, estrutural e financeiramente, saneando o seu passivo e se projetando para um futuro de grandes conquistas. Como reza a lenda, arrumado, ninguém segura o Flamengo.
Já os dois grandes de São Paulo ainda se contorcem sob os auspícios de um modelo de gestão ultrapassado e convulsionado por crises recorrentes, cenário que, ao que tudo indica, ainda vai demorar para ser mudado. O Timão, em particular, ainda vive assombrado por uma dívida impagável referente à sua arena de Itaquera, fruto de um mal planejamento e da incúria devesas dos gestores.
Não custa repisar uma pergunta que vem tirando o sono de muitos atleticanos: “Estará o Atlético, interna, organizacional e estruturalmente preparado para esse futuro que está sendo desenhado?”
E, também, não custa repetir a seguinte provocação: “Cabe a cada atleticano buscar responder a essa questão e, principalmente, convergir os seus esforços na construção de um Atlético forte, vencedor, campeão e apto para enfrentar os desafios que terá pela frente”.
E lembrem-se sempre: é missão indelegável de cada um de nós atleticanos subverter a história e fazer o Atlético vencer o sistema e construir o seu futuro de pujança.
ARENA MRV – Falta pouco para o sonho ser real. Saiba mais…
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Edição: Ruth Martins
Edição de imagem: André Cantini
Edição de texto: Angel Baldo