Falta planejamento: Até quando atacaremos o efeito e não a causa?

 

 

Silas GouveiaAngel Baldo e Betinho Marques
02/10/2020 – 5h
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Eis que me pego aqui, mais uma vez, escrevendo sobre técnicos no Atlético. Pois bem, sabemos que é algo recorrente nos últimos anos, algo que incomoda não só a mim, mas a tantos outros atleticanos que sonham em ver um técnico iniciando e terminando uma temporada inteira no Galo.

Para ilustrar o que estou falando vou recorrer aos números. Nos últimos cinco anos, nove treinadores diferentes passaram pelo Atlético. É isso mesmo: nove treinadores. Algo surreal. Nessa estatística, o Galo só não supera o São Paulo, que teve onze treinadores no mesmo período, Chapecoense, que mudou de técnico dez vezes, e o Athletico, considerando que o time paranaense trocou de técnico nove vezes, mas utilizou dois treinadores diferentes no campeonato estadual. Empatado com o Galo está o Palmeiras, que também teve nove treinadores diferentes no time profissional. Estes cinco clubes encabeçam a lista de times da série A que mais trocaram treinador de 2014 para cá.

Cuca comanda o Atlético no Mundial, na derrota contra o Raja / Foto: World Soccer

Complementando a informação, os técnicos que passaram pelo Atlético após o Cuca (de 2013 até 2019) foram: Autuori (2014), Levir Culpi (2014/2015), Diogo Giacomini (2015), Aguirre (2016), Marcelo Oliveira (2016), Diogo Giacomini novamente (2016), Roger Machado (2017), Rogério Micale (ainda em 2017), Oswaldo de Oliveira (2017/2018), Thiago Larghi (2018), Levir Culpi (2018/2019) e, por último, Rodrigo Santana. Este último esteve à frente do comando técnico da equipe como interino do dia 12 de abril ao dia 24 de junho deste ano, quando foi efetivado no cargo.

Estamos com um treinador há cinco meses no cargo e há pouco mais de três meses ele foi efetivado. Rodrigo Santana está sob enorme pressão e, se não fosse a vitória sobre o Ceará no último domingo (29), poderíamos estar aqui escrevendo sobre a queda do décimo primeiro técnico nos últimos seis anos. Minha intenção neste texto não é defender a permanência do Rodrigo e muito menos pedir sua saída, mas mostrar o que vem acontecendo com o Atlético nos últimos anos.

Rodrigo Santana comanda o Atlético na derrota para o Cruzeiro, na 1ª partida do Estadual / Foto: Cantini

Nenhum dos técnicos citados esteve à frente do clube no primeiro e no último jogo da temporada (lembrando que Levir saiu antes de terminar a temporada de 2015). Assustador, não acham? A exceção do Palmeiras, ganharam títulos nas últimas temporadas os times que tiveram menos treinadores neste período. É o caso de Grêmio (três), do rival (cinco) e do Corinthians (sete). Coincidência? Creio que não. Planejamento seria a palavra que eu usaria para definir, algo que tem faltado (e muito) ao Atlético.

Com a troca frequente de treinador, automaticamente o time não tem uma filosofia definida de jogo. No mesmo ano você tem um técnico com proposta e característica de jogo de um time reativo e na outra metade da temporada um técnico com ã filosofia de um time proativo, ofensivo e de posse de bola. E, assim, o time não ganha uma cara e o torcedor não sabe como o time vai atuar dentro de campo.

Soma-se a isso o fato de os técnicos indicarem jogadores que não levam consigo quando saem. O resultado é um elenco inchado, com jogadores jogados para escanteio, fora dos jogos, às vezes até treinando em separado. Muitos deles com anos de contratos a cumprir e com salários altos para o clube arcar. Muitas vezes o clube tem que emprestá-los pagando parte dos salários para trazer novos atletas, pleiteados pelo técnico atual, o que incha ainda mais a folha salarial.

Levir Culpi comanda treino antes da “decisão” contra o Corinthians, em 2015 / Foto: Cantini

O que me incomoda no Atlético é que praticamente em todas as demissões o treinador caiu no seu primeiro momento de crise. Ou seja, na primeira sequência de jogos sem vencer ou eliminação, o Atlético já demite o treinador e interrompe o trabalho. É óbvio que tem casos em que o trabalho precisa ser interrompido. Porque é fácil perceber quando o treinador não trará resultados em longo prazo, como foi o caso da última passagem do Levir Culpi pelo clube. Aí sim, não tem por que segurar. Vimos clubes no Brasil mantendo treinadores após eliminações e até mesmo com longas sequências de derrotas, mas, mesmo assim, mantiveram o treinador e colheram frutos.

Finalizo este texto com minha opinião sobre o assunto. A meu ver, as trocas reincidentes de técnicos no Atlético são o efeito da causa. O clube, ao invés de atacar a causa, a raiz do problema, ataca apenas o efeito. Por que quem indica e quem escolhe o técnico quase nunca é demitido? Por que apenas o treinador é trocado? São perguntas que me vejo fazendo a cada vez que o Galo troca de treinador. Enquanto o clube não resolver outras questões, que acabam permitindo essas trocas frequentes, vamos continuar nesse ciclo sem fim, com um treinador diferente a cada início de temporada.

 

ENTREVISTA COM JÚNIOR CHÁVARE