Refazendo as contas: A realidade financeira do Atlético
Prof. Denílson Rocha
Do Fala Galo, em Belo Horizonte
14/09/2019 – 4h
O tempo passa, o tempo voa… e já caminhamos para o final de mais um ano. Além das decisões em campo, já começam a aparecer as primeiras informações do planejamento para 2020 – o orçamento e a montagem do elenco – e dos resultados financeiros de 2019. Como torcedores, continuamos mais interessados no que acontece no campo e damos pouca importância ao que ocorre fora dele. Porém, vendo o que vem acontecendo com outros clubes no país, passamos a ter mais atenção com as finanças e a gestão esportiva. Aprendemos (nem todos ainda) que as asneiras praticadas por alguns dirigentes podem colocar clubes tradicionais em situações bastante complicadas – e basta olhar nosso adversário local ou o Figueirense.
Infelizmente, o Atlético ainda é um clube nada transparente. Não existe o menor esforço para divulgar, durante o ano, os resultados financeiros. Mal e porcamente são publicados o orçamento e o balanço patrimonial – mais por obrigação legal que por interesse dos nossos dirigentes. E mesmo essas peças são estruturadas de forma a passar o mínimo possível de informação. O orçamento previsto para 2019, aprovado pelo Conselho Deliberativo em novembro de 2018, evoluiu bastante em relação aos anos anteriores, mas permanece com poucas informações e alguns números inexplicáveis. E após aprovado, o silêncio é absoluto. Não se fala nada sobre as contas do Galo.
Enquanto isso, os clubes mais organizados e transparentes vão mostrando o que deveria ser uma obrigação: publicam balancetes e mostram suas condições financeiras. Recentemente Flamengo, Grêmio, Internacional, Vasco e Bahia publicaram seus resultados do primeiro semestre de 2019. E não é publicação só para mostrar que estão bem. O Inter, por exemplo, teve resultado bastante negativo e os números foram apresentados abertamente. Enquanto isso, por aqui nada. Silêncio total.
Com o pouco que temos disponível, vamos tentar avaliar como estão as finanças do Galo em 2019.
O orçamento aprovado previa uma arrecadação total de quase 305 milhões de reais, sendo 212 milhões provenientes das atividades esportivas, 11 milhões dos clubes sociais e 81 de receitas patrimoniais, que incluíam 70 milhões em cessão (venda ou empréstimo) de direitos federativos/econômicos. Parte dessa arrecadação é certa, como o contrato do Diamond Mall ou a transmissão do Campeonato Mineiro. Outra parte varia bastante, como o que pode gerar com bilheteria ou com as mudanças recentes, a transmissão do Campeonato Brasileiro.
Vamos considerar que o Atlético receberá os valores previstos com atividades sociais (Labareda e Vila Olímpica), Diamond Mall, licenciamento e loterias, afinal, os números previstos para 2019 são bastante próximos do que já foi realizado em 2017 ou 2018. Ou seja, dá para confiar. Isso significa um total de 25 milhões de reais.
São previstos 35 milhões em patrocínios. Porém, o valor de 2018 foi bastante inferior e parte dos atuais patrocinadores adota remuneração variável (por resultados esportivos ou comercialização de produtos ou serviços). Desta forma, é prudente acreditar que a arrecadação de 2019 fique similar à de 2018, próxima dos 26 milhões de reais. Se conseguir mais recursos, melhor.
Os valores de GNV e bilheteria em 2018 foram uma tragédia – muito baixos para um clube do tamanho do Galo. Ainda assim, o orçamento aprovado trazia uma esperança de números melhores (ainda que baixos em comparação a outros clubes). A expectativa da direção Atleticana era de passar de 13,7 milhões no GNV para 20,3 milhões. Assim como no caso dos patrocínios, é melhor ser cauteloso e é difícil acreditar em uma arrecadação superior a 15 milhões anuais enquanto não foram implementadas mudanças no programa.
A bilheteria não dava para ser pior que 2018, que só gerou algo próximo de 8 milhões em todo o ano. Até o momento, o Galo já arrecadou em bilheteria algo próximo a 15 milhões de reais. Ainda assim, está longe dos 23,1 milhões previstos em orçamento. De qualquer forma, é possível perceber como 2018 foi péssimo e as eliminações precoces na Copa do Brasil e na Copa Sul-Americana afetaram as finanças do clube – e mostra que certas economias são bastante burras. Desta forma, com a participação nas Copas do Brasil, Libertadores e Sul Americana, em 2019, a arrecadação deve ser bem superior. Porém, para alcançar os 23 milhões previstos no orçamento de 2019, será necessário chegar à final da Copa Sul-Americana.
A participação nas competições gera receitas de transmissão e premiações. O orçamento aprovado não destaca as premiações, apresentando um total de 131 milhões a serem arrecadados com o Campeonato Mineiro (12,8 milhões), Brasileiro (109,6 milhões) e outras competições (9 milhões). O valor do Campeonato Mineiro é garantido em contrato. Já o Campeonato Brasileiro teve alteração na forma de distribuição das receitas e a participação que o Atlético tem no Pay Per View foi reduzida consideravelmente. Desta maneira, é também prudente acreditar que o Galo vai, no máximo, manter o que arrecadou em 2018: 100 milhões. Porém, enquanto previa 9 milhões em outras competições, a realidade até o momento já mostra mais de 26 milhões arrecadados, sendo 5,5 milhões da Copa do Brasil, 16,2 milhões da Copa Libertadores e 4,4 milhões da Copa Sul-Americana. Chegando à final desta última, a premiação pode passar de 22 milhões. E ainda há a premiação pela posição alcançada no Campeonato Brasileiro, que é bem superior aos anos anteriores. Com isso, as premiações devem passar da casa dos 50 milhões de reais.
Uma outra receita não prevista no orçamento é a de créditos a receber em função de operações realizadas em anos anteriores. Do mesmo jeito que passam dívidas de um ano para outro, também há valores a receber. E o Atlético tem, segundo o balanço patrimonial, 18,5 milhões a receber em 2019 de créditos de operações de anos anteriores.
Por fim, o orçamento previa 70 milhões em receitas de venda ou empréstimos de atletas. Além dos atletas que saíram em fim de contrato, o Galo cedeu, por empréstimo ou venda, 18 atletas. Destes, temos a informação de que apenas um atleta gerou receitas para o Clube: Émerson. Além dele, ainda há recursos provenientes da venda do lateral Douglas Santos, do Hamburgo. No total, são 42 milhões sendo arrecadados, o que é muito abaixo do previsto. Agora, é esperar e ver se saídas ao final do ano ajudam nessa conta.
Além dos valores a receber, o orçamento também apresentava as despesas previstas para 2019. E aí fica a grande dúvida: será que a tal “austeridade” está sendo aplicada? Porque não temos acesso aos números, não há prestação de contas, não há interesse em mostrar à Massa o que acontece. Novamente: deveria ser obrigação divulgar mensalmente a condição financeira do clube e as principais transações.
Somente uma “despesa” pôde ser identificada e chama atenção: existia o plano de investir 20 milhões em aquisição de atletas, mas o valor realizado já supera os 40 milhões. Então, o clube gastou bem mais do que se esperava.
Ainda lamentando que o Atlético não divulgue seus números para a Massa, é certo que a arrecadação de 2019 será superior ao previsto em orçamento. Se os recursos forem aplicados conforme previsto nesse orçamento, podemos esperar uma redução significativa no endividamento (a previsão é de pagar quase 92 milhões em 2019) e é bastante provável, ainda, que o clube volte a fechar um ano com saldo financeiro positivo – algo bastante raro. Poderia ser ainda melhor se a diretoria compreendesse que é preciso aumentar a arrecadação com ações junto à torcida, como melhorar o GNV (com mais sócios e mais receita), estimular que o torcedor vá ao estádio (permitindo maiores receitas de bilheteria e match day), oferecer produtos e serviços (continuamos vendo um fornecedor de material que não entrega peças no momento e na quantidade adequados), licenciamentos, parcerias… e, especialmente, entender que ter um time vencedor é INVESTIMENTO, não gasto.
A gente continua querendo saber do time, que tenha um elenco qualificado, que nos traga vitórias e conquistas de campeonatos. Porém, fica cada vez mais claro que o que acontece fora de campo afeta os resultados esportivos. Ter “a casa arrumada” atrai patrocinadores e investidores. Organizar as contas vai permitir melhorar os investimentos no time, o que vai permitir conquistas e manter as contas em dia, fazendo com que o ciclo virtuoso se repita.
Não precisaria ser um processo tão doloroso, especialmente se a diretoria buscasse, verdadeiramente, alternativas para o aumento de receitas. De qualquer maneira, e com todas as críticas à diretoria, poderemos esperar um 2020 bem melhor. As dívidas vão sendo equalizadas, a credibilidade vai sendo recuperada, investidores voltam a aparecer, as categorias de base vão sendo reformuladas para revelar valores e o elenco vai sendo qualificado. Ainda falta muito – especialmente TRANSPARÊNCIA –, mas é possível ter esperanças de um futuro melhor.
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Edição: Ruth Martins
Edição de imagem: André Cantini