O dilema de Tostines na motivação do Atleticano

 

Por Professor Denílson Rocha 

Nos últimos dias, os jogos do Galo nos trouxeram experiências e sentimentos que reforçaram a bipolaridade típica do Atleticano. Primeiro, uma derrota vergonhosa para o principal rival local, com uma postura apática. Ainda assim, o torcedor lotou o Independência para o segundo jogo, deu apoio e assistiu a uma partida com comportamentos bastante diferentes, que receberam aplausos, mesmo com a desclassificação. E, por fim, um jogo que parecia ganho (sem nenhum mérito próprio), que terminou em um empate e muitas – e merecidas – vaias.

Ao final do jogo da quarta-feira, 17/07, os jogadores declararam a importância do apoio da torcida. Em sua entrevista, Elias – geralmente um dos mais sonolentos em campo – afirmou que “o apoio da torcida torna o Atlético quase imbatível no Independência”. A declaração buscava, em princípio, ressaltar como a sintonia entre torcida e time criam um ambiente especial, uma pressão no adversário, que nos leva às vitórias. Porém, mostra que os jogadores não só desconhecem a história do Clube como estão desconectados com a realidade.

A sintonia entre torcida e time faz parte da história do Atlético, e não tem qualquer relação com o debate dos últimos anos sobre jogar no Independência ou no Mineirão. Não precisa de muito esforço para encontrar vídeos mostrando o apoio da torcida nos anos 70, 80, 90 ou, inclusive, como a torcida carregou o time de volta à série A. Também não é preciso esforço para ver como a torcida esteve presente no Mineirão na lamentável campanha da Libertadores desse ano. Então, caros jogadores, o apoio da Massa sempre esteve presente – mesmo com times medíocres. A proeza do atual elenco é conseguir desestimular até os mais fanáticos Atleticanos.

O que mostra a total desconexão do time (e, muito provavelmente, da direção) com a torcida é colocar o apoio como motivador para deixar a preguiça de lado e ter vontade de ganhar. E aí vem a semelhança com o dilema de “Tostines”: é o apoio da torcida que motiva o time a jogar para ganhar ou é o time jogando para ganhar que motiva o apoio da torcida?

Sem querer adotar o tom professoral, é preciso compreender o que é a motivação. Segundo os entendedores do assunto, motivação é a razão que te faz agir. Muita gente séria passou anos de sua vida se dedicando a estudar a motivação humana – Maslow, Herzberg, Lawler III, McGregor, McClelland, Vroom… – e, em geral, nos levam a uma mesma conclusão: ninguém motiva ninguém. A motivação é sempre íntima e pessoal. O importante é entender o que acredita, deseja e busca.

A motivação do torcedor Atleticano é fácil de ser compreendida. Ser Atleticano é algo espiritual. Nascemos Atleticanos. Temos o sentimento de participar de algo que é, em muitos momentos, maior que nossa própria existência, que nos deixa alegres, tristes, realizados, frustrados… O Atlético é nossa motivação.

O problema é quando as pessoas que estão no Galo viram nossa fonte de desmotivação. Seja quem veste o Manto, seja quem dirige o Clube, parece que não entendem o sentimento de atleticanidade, não se envolvem, não se dedicam, não se esforçam, não agem com a grandeza que o Atlético tem. Isso é o mínimo que esperamos.

O que motiva esses atletas ou mesmo a direção do Atlético?

As condições de trabalho são excelentes, com um centro de treinamento de primeiro mundo, hotéis de luxo, e recursos (alimentação, hospedagem, transporte, segurança) e profissionais (médicos, fisioterapeutas, fisiologistas, nutricionistas) para darem suporte em tudo o que precisam para exercer adequadamente sua atividade. Não falta nada… Remuneração que poucos no País conseguem alcançar – podem até falar em atrasos mas quer colocar isso como fonte de desmotivação? O ambiente de trabalho parece colônia de férias, com amigos de divertindo, sorrindo e brincando de futebol de mesa logo após uma desclassificação para o principal rival. O que falta para se sentirem motivados?

Para os que atuam em um ambiente de competição, como é o futebol, vencer é motivador. Quem é competitivo quer sempre vencer. Se faz um gol, quer muitos outros para ser artilheiro. Se ganha um título, busca outro ainda maior. A pessoa sempre quer mais e mais… Mentalidade vencedora que falta no Galo.

Aqui, tudo funciona ao contrário… se já estão na história por vitórias e conquistas – seja no próprio Atlético ou em outros clubes –, não preciso mais me esforçar, me dedicar. Se ganharam uma Libertadores, pode ir passear no Mundial. Se venceu o rival (mesmo sendo desclassificado), posso passear em campo no domingo.

E o pior é ver o “menino mimado” que não pode ser substituído, não pode ser cobrado, não pode ser exigido. E nós temos parcela nessa situação ao proteger das críticas aqueles que continuam vivendo das vitórias de 6 anos atrás.

As exigências e cobranças que nos moldaram para exercer nossas profissões estão cada dia mais distantes da realidade do Galo. É estarrecedor que um atleta profissional fique “abalado” após perder um pênalti e não se disponha a bater o pênalti novamente. Estar em um campo diante de milhares de pessoas exige que o profissional esteja preparado para cobrança, pressão e, após um erro, tentar novamente até acertar.

Enquanto a torcida encara suas frustrações e sua raiva com um time sem alma, jogadores e diretoria se fecham na colônia de férias da Cidade do Galo. Provavelmente, chamarão um palestrante motivacional, um especialista em autoajuda ou um coach de vida para lhes dar apoio. Afinal, quem não pode ser cobrado apela para as palavras belas (e vazias).

Então, caros senhores, não venham pedir apoio da Massa. Isso se conquista! Não venham buscar motivação no apoio da torcida. Vestir o Manto do Atlético deve ser motivação suficiente para querer, sempre, vencer. Se não for, pede pra sair.

 

DE CARONA COM O FALA GALO #13

 

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