A história do Atlético pode ser diferente! Um Atlético vencedor e Campeão é possível.

 

Max Pereira
Do Fala Galo, em Belo Horizonte
17/04/2019 – 13h31

Acredito piamente que a história do Atlético pode ser bem diferente, sem tanto sofrimento, sem tantas crises, sem tantas trovoadas. Mas sei que a mudança não vai acontecer da noite para o dia e, tampouco, em um passe de mágica. Será um processo longo, doloroso, de idas e vindas, de altos e baixos.

O grande desafio do Galo mais famoso do mundo será conciliar a urgência com que a sua imensa e explosiva torcida exige que as coisas deem certo e os bons resultados apareçam, com a responsabilidade de planejar, construir, experimentar o novo e o ousado e transformar, conceitual, filosófica e metodologicamente, a gestão do clube e do futebol, única forma de romper com esse carma

É sabido e ressabido que há décadas o Atlético vem sendo sacudido e corroído por recorrentes crises e problemas financeiros crônicos que se traduzem em uma dívida crescente e historicamente mal administrada.

Há 48 anos, o Atlético conquistou o primeiro Campeonato Brasileiro disputado no Brasil. De lá prá cá, o Glorioso conquistou apenas competições de tiro curto e mata-mata, como as duas Conmebol, a Libertadores em 2013, a Recopa e a Copa do Brasil em 2014.

 

Antes, em 1937, o Glorioso já havia conquistado o seu primeiro título oficial em nível nacional, exatamente a primeira edição do torneio Campeão dos Campeões, competição também de tiro curto, patrocinada pela extinta CBD.

Em 1978, já na Era Mineirão, ao vencer o Corinthians na final por 3 x 1, o Atlético também sagrou-se campeão do Super Campeão dos Campeões, mais uma competição de tiro curto, disputada apenas pelos clubes vencedores do extinto Campeão dos Campeões, promovido também pela antiga CBD, festejando o antigo torneio homenageando os antigos Campeões dos Campeões do Brasil.

Poderia ficar aqui rememorando os vários e vários títulos conquistados pelo Galo Vingador em torneios de verão na Europa, na Ásia, na África, nas Américas Latina, do Norte e Central.

Poderia, também, relembrar a vitoriosa excursão do Galo no velho continente na década de 50 do século passado, quando o Atlético se tornou o primeiro clube das Américas a jogar em gramados europeus e, em pleno inverno, enfrentou e venceu os então principais clubes daquele continente, atuando em gramados cobertos de neve e gelo e, portanto, em condições absolutamente desfavoráveis, o que rendeu ao alvinegro da Colina de Lourdes o título honorífico de Campeão do Gelo.

Mas nada disso irá fazer crescer a autoestima do atleticano. Aliás, a história agora é o que menos interessa a qualquer alvinegro.

O que vem incomodando bastante ao torcedor é o longo jejum do Atlético no Brasileirão, o que escancara a dificuldade do clube em se organizar e em se planejar para disputar com regularidade e eficiência competições de tiro longo.

Competições de tiro longo, de pontos corridos, turno e returno, como o Brasileirão, exigem regularidade e fôlego, que só é possível conquistar com planejamento e projeto.

Sai ano, entra ano e, mesmo com os melhores times que montou de 1971 para cá, e contando ainda com jogadores geniais e/ou bastante talentosos como o Rei, Reinaldo, Ronaldinho Gaúcho, Cerezo, Éder Aleixo, Marques, Gilberto Silva, Tardelli, Nelinho, Robinho, Luisinho e agora Cazares, além de outros craques de potencial induvidoso, o Atlético sempre pecou pela descontinuidade e pela irregularidade.

 

Ah, mas o Atlético continuou conquistando títulos regionais, mantendo a primazia de ser o maior campeão das Gerais, diriam muitos. Ocorre que o estadual é uma competição que, por suas especificidades e em razão da disparidade técnica entre os times da capital e os do interior, não exige planejamento rebuscado.

Quem semeia ventos colhe tempestades, dizem os antigos. Os atleticanos, como se estivessem cumprindo uma penitência medieval e eterna, repetem mantras do tipo “Isso só acontece com o Atlético”, “Se não for sofrido não é Galo” ou até buscam mascarar suas frustrações, enaltecendo sua paixão ímpar pelo clube, fingindo acreditar que basta torcer, que somos Atlético e que, pasmem, que os títulos não são necessários e tão importantes para nós e para o próprio Galo, como o são para outros clubes e torcidas.

Cabe tentar descobrir porque tem sido sempre assim, sofrido, cármico, doído e, muitas vezes, frustrante.

E mais: por que o Atlético é sempre suscetível a mudanças bruscas e tumultuadas de rumo e por que a história alvinegra tem sido continuamente sacudida por tempestades e trovoadas?

A resposta a essas perguntas é bastante simples: a raiz de todos os problemas do Atlético é um mal historicamente despercebido ou no mínimo desprezado pelos homens que, ao longo dos tempos, têm sido os responsáveis pela condução do clube, qual seja, a absoluta inexistência de um projeto de time vencedor e campeão e de uma filosofia de clube de futebol.

Não é preciso dizer que esse mal é também totalmente ignorado por maioria absoluta de sua grande massa torcedora, que opta sempre por culpar unicamente os jogadores, elegendo alvos que massacra impiedosamente.

Quem quer que se aventure a observar o Atlético com um olhar crítico vai perceber, a olho nu, que o clube, em sua trajetória existencial, pode ser comparado, com absoluta propriedade, a uma nau que, sem possuir instrumentos de navegação e com o leme quebrado, se obriga a navegar por mares revoltos e desconhecidos do seu capitão, geralmente despreparado para a missão. O naufrágio é o prognóstico natural e consequência óbvia e inevitável.

Sacudido, maltratado, por vezes enlameado, casco furado, fazendo água, ora atolado em bancos de areia movediça ou imobilizado por calmarias traiçoeiras, o barco atleticano vem soçobrando há décadas e o time, por vezes, morrendo na praia.

Até nos pequenos detalhes é fácil observar que no Atlético, clube e time, não têm um Norte a seguir, mas sim caminham ao sabor dos ventos e de fortuitos dribles no azar ocasional ou cavado pela incúria de seus próprios dirigentes, ao contrário de outros clubes, entre eles o rival, em que a certeza do caminho a ser seguido e a assimilação do projeto, da filosofia e dos objetivos da entidade por parte de seus jogadores são algo natural e até espontâneo.

Parece pouca coisa, mas, por exemplo, nas entrevistas coletivas dos jogadores do rival a palavra título e a menção à necessidade do time azul de conquistá-los são repetidas à exaustão, mostrando que esses objetivos são e estão inteiramente internalizados e assimilados por eles: “temos que trabalhar para ganhar os títulos que o time precisa” é a frase mais recorrente. É praticamente um mantra. Já nas coletivas dos atletas alvinegros essas menções são menos frequentes e não mostram o mesmo nível de introjeção.

Nenhum clube, entidade ou empresa atinge um nível de excelência sem um processo de construção e maturação de uma ideia ou filosofia de ser. O Atlético, sob esse ponto de vista, apesar de cronologicamente centenário, é ainda muito primário e imaturo.

Há 111 anos um grupo de garotos se reuniu no coreto do Parque Municipal e fundou um clube de futebol. E, apenas, quase um ano depois, esse time fez o seu primeiro jogo. É que, até que um time estivesse pronto e o novo clube estivesse estruturado para os compromissos e desafios que teria pela frente, foi preciso trabalho, organização, planejamento e até a definição do nome e das cores de seu pavilhão, coisas que seriam para sempre.

Da ideia original de alguns de seus fundadores de se adotar a cor verde até a escolha definitiva das cores preta e branca, significando a universalidade pretendida para um clube queria ser de todos e para todos, passou-se quase um ano, denotando a preocupação com o planejamento, a organização e a construção de uma ideia.

Quase 360 dias depois de sua fundação entrou em campo pela primeira vez o Atlético Mineiro Futebol Clube, cuja vestimenta alvinegra já antecipava a sua história e desenhava o seu gigantismo natural.

Algum tempo depois, o já gigante chamado Clube Atlético Mineiro, fiel à ideia de sua criação e fundação, foi naturalmente conquistando milhões de corações e escrevendo uma história gloriosa.

Mas, quem faz a fama e deita na cama, sem entender que tudo na vida se modifica, evolui ou involui, dependendo da forma com que é conduzido ou cultivado, e que, por isso, todo processo de construção é dinâmico e contínuo, acaba pagando um alto preço.

É esse o karma atleticano. O de ter parado no tempo e no espaço, permitindo que o clube leve sua vida e escreva a sua história ao sabor das vaidades e das particularidades de dirigentes, conselheiros e treinadores, muito mais voltados para a pequenez de suas vaidades e projetos pessoais.

Para agravar essa situação, o Atlético é hoje o clube mais fechado e menos democrático do futebol brasileiro, em que apenas um grupo tem voz ativa e decide, com poder de império, os destinos da agremiação.

Se são bem sucedidos em suas atividades profissionais particulares, os dirigentes atleticanos têm, ao longo dos tempos, demonstrado serem neófitos em futebol.

Inseguros e quase sempre incapazes de conjugar o verbo delegar, eles têm dificuldade de admitir a contratação de profissionais do ramo temendo perder autoridade e, paradoxalmente, acabam se permitindo cercar e assessorar por gente despreparada, inapetente e, em alguns casos, que não merece a confiança depositada. A contratação de Rui Costa parece ser uma tentativa de corrigir esse problema.

 

E por serem geralmente ingênuos em futebol, os mandatários alvinegros quase sempre se mostram impotentes para cobrar do treinador de plantão aquilo que deveria ser cobrado, mesmo porque, leigos no esporte bretão, não saberiam o que cobrar.

Em consequência, o Atlético, além de se sujeitar aos humores do técnico do momento, exatamente como aconteceu agora, deixou de construir a sua própria identidade.

Levir é apenas um treinador que, se aproveitando da incúria e da inapetência dos dirigentes maiores do clube e da inexperiência e do bom mocismo de Marques, fez o que quis e impôs ao clube os seus maus bofes.

O Galo, porém, possui algo poderoso e invejado. Uma mistura costurada em simbiose com sua apaixonada e extraordinária torcida que, por vezes, produz resultados memoráveis nos campos de futebol.

É um elo forjado em uma paixão ímpar que faz a torcida do Atlético ser temida e objeto de aplausos até mesmo fora das fronteiras do país. A torcida do “Eu acredito” que foi o décimo segundo jogador em 2013 na conquista da mais épica das Libertadores da história da competição, da Recopa e da Copa do Brasil de 2014, em que foi co-partícipe fundamental das viradas épicas em cima de Corinthians e Flamengo.

É preciso, a partir dessa simbiose, cozida no fogo da paixão, fazer emergir uma filosofia de clube de futebol, construir um projeto de clube de futebol vencedor e campeão. Portanto, é preciso ir muito além do que o clube e a sua torcida já foram até agora.

Ou seja, é preciso que o Atlético estruturalmente, organizacionalmente, financeiramente, administrativamente, metodologicamente e FILOSOFICAMENTE materialize e reflita essa relação híbrida que só ele e sua torcida conseguem forjar.

De outra forma, o grande desafio que se impõe ao Galo, aos seus comandantes e torcedores é fazer com que o clube, tanto em suas ações internas e externas, quanto em todos seus jogos, reflita naturalmente essa simbiose poderosa que existe entre o clube e a massa e que incomoda a tanta gente, a tantos inimigos do clube.

As palavras do narrador João Guilherme devem inspirar essa revolução e a consolidação de uma identidade vitoriosa, poderosa e campeã: NÃO É MILAGRE, É ATLÉTICO MINEIRO.

O caminho a ser percorrido será longo e penoso. Dele faz parte fazer com que a massa atleticana posse ter voz nos fóruns decisivos clube. E o primeiro passo é buscar que o seu sócio-torcedor participe dos fóruns eletivos do clube, votando e sendo votado, como já acontece em outros grandes clubes brasileiros.

É missão de todo atleticano lutar, agir e cobrar para que o Atlético se torne efetivamente forte, democrático e transparente, refletindo de vez o seu gigantismo natural, tal como projetado por seus fundadores naquele longínquo 1908 e, em consequência, respeitado.

Costumo dizer que o próprio Atlético é o seu maior e mais terrível adversário. O Atlético precisa aprender a derrotar a si próprio e o dia que conseguir esse feito se tornará praticamente imbatível, será de vez um time do mundo.

E, por falar em se tornar de vez um time do mundo, é bom lembrar que o maior desafio do Atlético na Era Ronaldinho Gaúcho não foi conquistar os títulos que conquistou, mas sim se manter na prateleira de cima.

Ainda foi possível ganhar a Copa do Brasil de 2014 sem R10, mesmo porque os reflexos e efeitos da passagem do astro ainda estavam fortemente presentes.

QUEM SEMEIA VENTOS COLHE TEMPESTADES. Não é surpresa, pois, que o Atlético voltasse à mesmice de antes da era R10.

O Atlético precisa aprender a semear brisas para colher bonanças.

Hoje o torcedor diz que se não for sofrido não é Atlético. Ele deve aprender, porém, que é possível que o sucesso, as vitórias e os títulos para o Atlético sejam algo fácil, leve e natural.

UM ATLÉTICO VENCEDOR E CAMPEÃO É POSSÍVEL. DEPENDE DE NÓS.

Revisado por: Mallu Precioso

 

Rogério Ceni e Mauro Zárate no Galo, assista nossa Live: www.youtube.com/watch?v=Sp0o6WzkJOc