Não tão curto, porém grosso. A gênese do vexame. #OpiniãoDoTorcedor
Max Pereira
Do Fala Galo, em Belo Horizonte
13/04/2019 – 13h31
A semana começou leve em razão da goleada aplicada sobre o Boa Esporte que garantiu ao Glorioso disputar a décima terceira final consecutiva do Campeonato Mineiro.
E ficou ainda mais feliz com a notícia de que Gustavo Blanco passou a fazer corridas sob gravidade zero, graças a um aparelho de última geração recém importado pelo clube, o que vai adiantar em três meses a sua recuperação.
Há tempo de criticar e tempo de elogiar. Se em relação à estrutura da Cidade do Galo os dirigentes alvinegros têm merecido todos os aplausos, no que se refere ao trato do futebol, à gestão da dívida, aos cuidados com a marca do clube e a maximização da receita, eles são merecedores de críticas veementes.
Já tenho mais de sessenta anos e aprendi que as coincidências existem, mas aprendi também a não confiar nelas.
Em meio às comemorações da goleada imposta ao Boa Esporte começaram a surgir aqui e ali algumas notícias com poder de demolição e clara intenção de desestabilizar o time.
Primeiro veio a informação de que o Atlético estaria contratando um novo diretor de futebol e que Marques seria rebaixado para a função de gerente de futebol. No recheio dessa notícia, o Xodó da Massa não foi poupado de pesadas críticas sobre a sua atuação à frente do futebol atleticano.
Vazou também a informação de que o Glorioso estaria há alguns dias negociando com o técnico Enderson Moreira que, por sinal, já trabalhou na base do clube anos atrás, para substituir o já desgastado Levir Culpi. Nitroglicerina pura.
Na véspera da decisão contra o Cerro Porteño surge no Twitter um questionamento sobre as AtleticoCoin ou GaloCoin, moedas virtuais lançadas pelo Atlético com certa pompa e expectativa de grande retorno para o clube.
Se já está ruim, por que não piorar? Exatamente no mesmo dia do confronto contra a equipe paraguaia surge uma notícia plantada em um jornal paulista, segundo a qual Levir não seria mais unanimidade entre os jogadores mais experientes do time que estariam descontentes com os treinamentos ministrados pelo comandante por considerá-los improdutivos e exaustivos.
Se você acha que no Paraguai a delegação estava blindada e alheia a tudo isso, está completamente enganado. Além disso, Luan, que tem sido o motor e a alma do time, desceu do avião em Assunção sentindo-se mal, diagnosticado com virose e tornou-se dúvida para a decisão diante do Cerro Porteño, do Paraguai.
Ao saber disso lembrei que Ricardo Oliveira, que começou a temporada voando e marcando muitos gols a ponto de tornar-se o maior artilheiro do país neste início de ano, também foi abatido por uma misteriosa virose que o tirou do time por dois jogos consecutivos. Depois disso ele nunca mais foi o mesmo.
Ah, essas viroses certamente já estão na lista daquelas coisas que só acontecem com o Atlético. Coincidências? Sei lá. Teorias da conspiração à parte, a história do Atlético é recheada de fakenews, notícias plantadas, bombas desestabilizadoras, contusões inesperadas e viroses que surgem do nada, sempre que o time atravessa momentos decisivos e delicados.
Ainda que a contratação de um novo diretor de futebol, obviamente experiente e competente, seja uma necessidade urgente para o clube, fica claro que a divulgação dessa notícia na forma e no momento em que foi plantada teve a clara intenção de desestabilizar o time e precipitar a eliminação do Atlético na Libertadores.
O mesmo pode se dizer das outras informações, ainda que seja absolutamente claro que o clube passa por problemas internos e de vestiário bastante sérios, que Levir perdeu a mão no comando da equipe, que o time está muito mal treinado, e que dia após dia o treinador vinha ficando sem clima para continuar o seu trabalho. Marques, merecedor de respeito e carinho, está queimando etapas como dirigente, mesmo porque o modelo centralizador de gestão do Atlético castra-lhe a autoridade necessária para o exercício de suas atuais funções.
É induvidoso o direito do torcedor questionar e ser informado sobre as moedas virtuais do clube. A absoluta falta de transparência e o fato do Atlético ser um dos clubes mais fechados do país favorece a toda sorte de especulações.
Outrossim, a irritante e crônica suscetibilidade do clube às recorrentes ações desestabilizadoras daqueles que sempre jogam contra o Glorioso, por razões que não precisam ser explicadas, está na geratriz de vários fracassos colhidos pelo Galo dentro e fora dos campos.
Que Levir esgotou seus recursos e se mostrava cada vez mais inapto para continuar a exercer o comando do time é líquido e certo. Ainda assim, qualquer especulação extemporânea sobre nomes para substituí-lo tem efeito explosivo no elenco, pois provoca reações disformes entre os jogadores, alguns simpáticos à permanência do treinador, outros desejosos de vê-lo pelas costas.
Qualquer treinador que seja contratado já chegará sob uma chuva de pedras e obrigado a desenvolver o seu trabalho em um campo minado e só o Atlético perde com isso.
Quem pensa que estou tentando justificar o vexame de Assunção está totalmente equivocado.
Ainda que reconheça que essas especulações contribuíram para derrubar ainda mais o moral dos nossos jogadores, já muito machucado nessa temporada, é preciso, a bem da verdade e da justiça, apontar as responsabilidades, os erros e as escolhas equivocadas do comando central e do treinador recém demitido, o péssimo planejamento de elenco, a má gestão do clube e das dívidas, a crônica incapacidade de blindagem da instituição e de seus profissionais em relação às ações de agentes externos, a inexistência de uma estrutura profissional no futebol do Atlético, de uma filosofia e de um projeto de clube vencedor e campeão.
Portanto, além de não desprezar as recorrentes e intermináveis ações externas que visam desestabilizar o clube, não se pode deixar de reconhecer as debilidades internas que vêm solapando a história, a respeitabilidade e as estruturas do Atlético e, por óbvio, minando o futebol do time.
Em apenas sete dias o Atlético experimentou momentos diametralmente opostos, algo esquizofrênico e muito perturbador. Na quarta-feira anterior, time e torcida foram do inferno ao céu e, muitos torcedores como eu, deixaram o Gigante da Pampulha com a sensação de que estavam mergulhados no purgatório e que lá ficariam por um bom tempo ainda.
No domingo seguinte, a caravana atleticana fez um passeio no paraíso. E ontem, bastaram cerca de 10 minutos no último terço do primeiro tempo para o atleticano experimentar mais uma vez uma frustração dolorida e angustiante.
É fato que as ações externas e as cobranças geralmente insanas da torcida têm um efeito demolidor no time e no trabalho, como Levir apontou em sua coletiva. É também verdade que o clube em todos os níveis e em vários aspectos, desde o presidente até toda a comissão técnica, vêm falhando grosseiramente na condução do clube e do time.
Em sua caquética entrevista coletiva Levir foi patético, trocou alhos por bugalhos e tentou, sem convencer, mostrar que existe um trabalho em evolução. Existe na verdade um trabalho em ebulição.
Ao chamar o Cerro Porteño de Peñarol em duas oportunidades e dizer que o Atlético havia chegado em vantagem na final do Campeonato Gaúcho, Levir evidenciou que não estava bem. E seus comandados dentro de campo apenas conseguem refletir a desordem que reina no clube e os desequilíbrios emocionais decorrentes.
Os inimigos agradecem e nadam de braçada.
Fazer qualquer análise tática do time relativa ao vexame de ontem é perda tempo. A pane ou o apagão acontecido nos últimos quinze minutos do primeiro tempo não se dissocia da atuação ruim de todo o jogo.
O que aconteceu é resultante de todos os erros e equívocos que vêm sendo apontados e que, por incúria absoluta, nunca foram objeto de cuidados, trabalho e ações corretivas por parte do comando e do próprio treinador em sua área específica de atuação.
As falhas bisonhas de alguns jogadores, a insegurança e as cabeças ruins, evidenciando ou desequilíbrios emocionais mal trabalhados ou nunca trabalhados, ou a existência de problemas de foro pessoal graves igualmente mal conduzidos, a elevada idade de alguns atletas, a restritiva condição físico atlética e a inadaptabilidade de alguns jogadores, em razão de suas características pessoais, para exercerem funções a eles confiadas pelo treinador, o péssimo planejamento do elenco, a timidez de alguns atletas e a falta de ritmo de jogo e/ou o desconforto de jogadores que ainda se sentem estranhos no ninho são os reflexos da inexistência de um projeto de time vencedor e campeão e de uma estrutura de futebol com este fim.
Citar nomes e criticar este ou aquele jogador agora é promover caça às bruxas exatamente em um segmento mais vítima do que culpado e deixar de cobrar de quem efetivamente deve ser cobrado por ser quem tem o poder de comandar e decidir.
Não tenho ilusões. O Atlético já está eliminado da Libertadores. Se der sorte vai, por ironia, disputar a Sul-Americana, competição ridiculamente desdenhada por Sette Câmara no ano passado.
Levir colheu o que semeou e Sette Câmara foi premiado pela incúria, pela incompetência, pela arrogância, pela empáfia, pelo desconhecimento do futebol, pelas escolhas erradas que fez e pela inapetência no trato do futebol.
Twitter: @MaxGuaramax2012