Causa e efeito: as leis da física também valem para o Atlético

Por Max Pereira, colaborador do FalaGalo, de Belo Horizonte

Fiquei surpreso com as reações positivas e a aprovação do artigo “ATÉ QUANDO VAI SER PROIBIDO CRITICAR E COBRAR DO TIME, DO TREINADOR E DOS DIRIGENTES ATLETICANOS?”, publicado na quinta-feira passada, dia 28 de abril, aqui no Fala Galo. Esperava muitas pedradas e elas não vieram. Acho que o encantamento da torcida está acabando e dando lugar a uma postura mais reflexiva, ponderada, racional.

É bom para o Atlético, é bom para a torcida, é bom para os próceres do clube, é bom para os funcionários e atletas, pois qualquer relação estabelecida apenas no emocional, no encantamento, na idolatria e, portanto sem qualquer concretude, não gera confiança, não se pereniza, não discute os problemas em profundidade e não gera conteúdo que pode orientar e prevenir mudanças de rota desastrosas.

Quanto maior é a idolatria maior é a decepção quando se descobre que os ídolos são de barro. E quanto maior a decepção maior é a ruptura e mais danosas as suas consequências. A idolatria retira do ídolo a sua humanidade e o direito de errar. Isso é ruim para o clube e para quem é idolatrado. Além disso, o direito de criticar, de discordar e de cobrar é sagrado. E pior, muito embora não percebam de pronto e talvez nunca venham a se dar conta, uma oposição inteligente, construtiva, reflexiva, justa e independente é o melhor que pode acontecer para quem comanda e para qualquer instituição.

A crescente indignação no seio da Massa atleticana, traduzida pelo número cada vez maior de críticas e desaprovações à venda de Savarino que ainda estão varrendo as redes sociais, está escancarando que os galistas estão se mostrando cada vez mais conscientes e que o encantamento não resiste por muito tempo se as ações de quem se admira e até idolatra incomodam, desagradam e não respeitam a inteligência de ninguém. As críticas e cobranças cada vez mais fortes e numerosas mostram que o torcedor atleticano está aprendendo a ser reflexivo, não perdeu sua capacidade de se indignar e que, ao contrário, do que muita gente pensa, não é aquela vaquinha de presépio que só diz amém a tudo e a todos.

Infelizmente muitos reagem se dizendo cansados e com a intenção de desistir, acreditando que não há nada que se possa fazer em contrário. Penso diferente. As críticas, as cobranças e o posicionamento firme e independente incomodam e mostram que sempre existem limites. Vigiar, cuidar, cobrar é o mínimo que qualquer ser humano faz por quem ama. Se o Atlético que conquistou o que conquistou na temporada passada e no início deste ano de 2022 é produto do que se tem feito de bom no clube, o Atlético de amanhã poderá ser bem diferente e para pior se as correções de rota que já se fazem necessárias não forem promovidas. Chegar ao topo é muito difícil, mas se manter nele é muito mais difícil e complicado do que chegar lá.

Em 5 de novembro de 2020 iniciei o artigo “A TODO EFEITO PRECEDE UMA CAUSA. A FÍSICA DETERMINA E A BOLA PUNE!”, reproduzindo um clamor de uma atleticana que se alastrava, cada vez mais estridente e angustiado, no seio da massa:

“Será que vocês não conseguem ver que o time tá ANDANDO EM CAMPO????? Nos últimos 4 jogos o time ficou assistindo o adversário jogar, não faziam questão de nada, se perdessem ou não, pra eles dava no mesmo… Não é possível que está tão difícil de ver a preguiça do time”.

Esse brado exprimia naquela época o sentimento de grande parte da torcida que, angustiada e profundamente irritada, via o time alvinegro se perder e jogar no lixo a esperança da tão sonhada conquista do Brasileirão. Era o início do fim da era Sampaoli no Atlético que, ao contrário do que aconteceu com Cuca, não teve ninguém para lhe dar um choque de realidade.

Independentemente do que vai acontecer daqui em diante, o Atlético já está, como sempre, pagando pelos erros e pelas escolhas equivocadas dentro de campo, no banco e fora das quatro linhas. Ainda há tempo de se fazer os ajustes necessários e salvar o trabalho de Mohamed.

Esperto, inteligente e não querendo achar sarna para se coçar, o Turco foi curto, grosso e protocolar em sua última entrevista coletiva após a suada vitória contra o América pela Libertadores no Horto, quando foi perguntado se o enxugamento do elenco atleticano está atrapalhando o seu trabalho. Disse que não. A expressão sisuda e de pouca conversa, porém, revelava exatamente o contrário. Aliás, em reiteradas coletivas Turco sempre defendeu como base de seu trabalho aquilo que ele, em bom espanhol, chamava de elenco “LARGO”.

“Sem opções ofensivas, Turco deveria escalar as notas de dólar que o Atlético recebeu por Savarino”, sacou um Galista bastante indignado com a saída do venezuelano. E, cá entre nós, com carradas de razão. Além do valor irrisório e injustificável, o momento foi absolutamente inadequado. Daqui a dois meses as janelas européias se abrirão e as chances de se realizar negócios melhores são infinitamente maiores. A venda de Savarino foi um negócio sob todos os pontos de vista indefensável.

Se Turco tem sim responsabilidade por estas más recorrentes atuações, certamente ele não é o único culpado. A cabeça ruim do time, a dispersão de vários jogadores e o arrefecimento brutal daquela vontade de ganhar e de ser campeão e, também, daquela capacidade de superação, marcas do time no ano passado, tem causa, tem uma razão de ser. E é preciso ir a fundo à raiz desses problemas e cobrar. Causa e efeito, as leis da física valem também para o futebol.

Jogo após jogo, o que se vê em campo é um time sem energia, sem contundência, sem intensidade. Vários jogadores muito abaixo do que podem render. Cabeças muito ruins. E em razão de tudo isso o time vem oscilando muito durante os últimos jogos, se mostrando pouco ou nada focado na partida. Espírito de Libertadores inexistente.

Essa falta de concentração no jogo, caracterizada por escolhas equivocadas, passes errados, falta de decisão em várias jogadas e fragilidade nas disputas físicas, particularmente no pé de feto, vem escancarando a cabeça muito ruim de vários jogadores. As chances claras desperdiçadas também mostram que mental, emocional e psicologicamente o time está dançando. Não há como não pensar que algo de muito estranho esteja acontecendo intramuros da Cidade do Galo.

Entre notícias explosivas, denúncias e um interminável disse me disse, o Atlético continua vivendo os seus dias, sempre sacudido. Para quem conhece o alvinegro das Gerais nada fora do normal. Apenas uma típica semana atleticana sucedendo a outra típica semana atleticana. Mas, quem acha que o elenco atleticano passa incólume a tudo isso está redondamente enganado.

Será que aqueles jogadores, titulares e reservas que, à exceção de Everson que inteligentemente não abandonou a sua meta, foram abraçar Savarino e comemorar com ele os dois últimos gols do venezuelano com a camisa alvinegra, ficaram satisfeitos e receberam bem tudo aquilo que foi falado de mal e destrutivo sobre o hoje ex-companheiro? Claro que não.

E será que as noticias e “noticias” e essas discussões igualmente intempestivas, mal conduzidas e muito pouco esclarecedoras sobre as finanças do clube, sobre as contrapartidas da Arena e sobre essa necessidade incontrolável e frenética de vender, vender e vender, sejam os 49,9% restantes do Shopping, seja qualquer jogador para que o clube continue sobrevivendo, também não estariam afetando o grupo?

Savarino foi o último a ser rifado do barco atleticano e a ser atirado aos piratas da mídia e das redes sociais. Quem será o próximo? Quem sabe não está aí a razão principal para esta enorme queda de rendimento e de inspiração do time nos últimos jogos? Ou existem outras razões? Causa e efeito, as leis da física valem também para o futebol.

Em suas manifestações públicas, os jogadores atleticanos não poupam elogios ao Turco. Hulk e agora Arana, por exemplo, foram enfáticos na defesa do treinador atleticano. As imagens das comemorações dos títulos mineiro e da Supercopa mostram Mohamed sendo carregado e festejado por todo o grupo. Os vídeos que registraram as comemorações do aniversário de “El Turco” apenas ratificaram o quanto ele é querido pelo elenco atleticano. Se a relação entre o grupo e o treinador é boa, como os jogadores não cansam de mostrar, o que estaria por trás destas atuações que não mais encantam a massa alvinegra?

E é isso que se tem que investigar e resolver. Afinal, causa e efeito, as leis da física valem também para o Atlético.