É preciso saber virar a chave…

Por Max Pereira, colaborador independente, de Belo Horizonte

 

O campeonato mineiro chega ao fim e, para o Atlético, além do título, cuja importância intrínseca e histórica é óbvia e jamais pode ser desprezada, constitui uma importante e substancial virada de chave, dentro e fora de campo. E Saber virar esta chave é mais do que preciso. É vital.

 

Se dentro das quatro linhas os muitos Atléticos de Antônio Mohamed estão pedindo passagem e prometendo muita coisa boa, fora delas outros Atléticos estão em jogo e podem ser determinantes positivos ou negativos daqueles outros que “El Turco” está preparando para por em campo e, conforme suas próprias palavras, para confundir e sobrepujar qualquer adversário que tiver pela frente.

 

Os próximos dias prometem ser muito agitados na vida do Atlético. Nada, porém, que não seja típico da história atleticana. De 2 a 10 de abril o Atlético fará três jogos por três competições diferentes e todos eles decisivos pela importância própria de cada um. O primeiro é uma decisão de título contra o seu mais tradicional rival e, estes dois fatores, por si só, já são suficientes para determinar a importância dessa partida, independentemente da situação atual dos dois clubes e da clara superioridade técnica do elenco atleticano em relação ao grupo cruzeirense.

 

Os outros dois jogos marcam as estreias do Atlético na Libertadores e no Campeonato Brasileiro. Uma vitória na estreia de qualquer competição sempre produz um efeito psicológico importante e evita aquela sensação desagradável de ter que correr atrás do prejuízo para recuperar os pontos perdidos. Na competição continental, então, um torneio disputado por fases de tiro curto, cada vitória é um passo dado rumo ao título. Uma pontuação expressiva na fase de grupos, por exemplo, garante um caminho teoricamente mais suave e confortável rumo à grande final.

 

Assim, quando o treinador alvinegro em sua última entrevista coletiva afirmou que para ele o próximo jogo é sempre o mais importante, ele não estava dando uma resposta protocolar. Ele estava, na realidade, reconhecendo que o caminho atleticano a partir de agora será cada vez mais espinhoso, exigindo mais e mais cuidados e atenção com cada passo a ser dado, dentro e fora de campo.

 

Sempre exaltando o fato e a importância de ter à sua disposição o que ele chama de plantel largo, “El Turco” obviamente não quis adiantar o time que tem em mente lançar na grande final do próximo sábado. Cauteloso, diz que, embora, vá ter ao seu dispor, além de Hulk, mais seis “reforços”, ou seja, aqueles atletas convocados para os jogos de suas seleções nas Eliminatórias da Copa do Mundo, será necessário avaliar em que condições cada um retornará ao clube.

 

O futebol é sempre uma caixinha de surpresas e, por vezes, a distância entre a teoria e a prática é intransponível. De repente, por exemplo, o Atlético disputou os dois jogos de uma semifinal com jovem armador recém-saído das categorias de base improvisado na lateral esquerda.

E a bruxa parecia solta na cidade do Galo. Além de Dodô lesionado no joelho, também Echaporã se contundiu durante os treinamentos e passou por cirurgia. O sub-20 atleticano também não passou incólume à visita da bruxa. O jovem zagueiro Leo Simoni, vítima de uma grave lesão nos ligamentos de um de seus joelhos, também frequentou o bloco cirúrgico e se tornou baixa por um longo período.

 

Experiente, o treinador atleticano sabe que, embora ele possa ter um time ideal na sua cabeça, aquele que vai entrar em campo deverá ser sempre o melhor para aquele jogo e para o momento em que aquela partida for realizada. Cada passo deverá ser calculado e, dentre os Atléticos factíveis, estarão em campo os melhores possíveis para aquele jogo. Mas, para isso acontecer, ele deve ter também respaldo, estrutura, base e condições de trabalho.

 

Se os próximos dias do Atlético prometem ser agitados e densos dentro de campo, fora das quatro linhas o Glorioso também viverá momentos de tensão, de tomadas de decisão e de discussões de temas delicados que podem roubar a cena e comprometer o trabalho de “El Turco”.

 

Enquanto no futebol o clube já adiantou que, ao final do campeonato mineiro, vai iniciar um processo de enxugamento no elenco o que não só já suscitou inúmeras especulações e gerou outras tantas explorações que só trazem prejuízo ao Glorioso, mas que requer um cuidado extremo para não fazer desaparecer os vários Atléticos projetados por Mohamed que, inclusive, já começaram a entrar em campo nesses últimos jogos da competição regional e que já fazem o atleticano sonhar com muita coisa boa, nos bastidores a inevitável discussão sobre a aprovação de um novo estatuto, a venda do restante do Shopping e a criação da SAF atleticana indicam que o clube vai viver intramuros dias de muita agitação política.

 

Em suas entrevistas os próceres atleticanos sempre deixam claro que tudo está sendo feito sem açodamento e que o clube está sendo preparado, passo por passo, para avançar com segurança e efetividade em todas as etapas necessárias e tomar, cada qual no momento certo, todas as medidas que, ao final do processo, levarão à criação do melhor modelo possível de SAF para o Atlético. Que os deuses do futebol digam amém.

 

Se dentro das quatro linhas todos os Atléticos possíveis e imaginados por Antônio Mohamed devem se fazer cada vez mais presentes e intensos, fora delas, os técnicos da vida atleticana tem que buscar construir um único Atlético, forte, pujante e harmônico.

 

Nos próximos dias o clube inevitavelmente passará por uma virada de chave delicada e que ditará o seu futuro na temporada e em sua história contemporânea. E Saber virar esta chave é mais do que necessário. É vital.