Uma semana tipicamente atleticana e um alerta necessário…
Por Max Pereira, colaborador do Fala Galo, em Belo Horizonte
Nestes dias que antecedem a uma decisão tão esdrúxula quanto inexplicável para muita gente dentro e fora do país, o Atlético vive mais um de suas típicas semanas: fim de pré-temporada, jogo ruim contra o Athletic pelo campeonato mineiro, estreia positiva de Otávio, confirmação oficial da venda de 75% dos direitos econômicos do jogador Marquinhos para o Ferencvárosi da Hungria por 1,6 milhões de euros, conforme noticiado pelo clube em suas redes sociais, anúncio da possível cessão de parte dos direitos do atacante Savinho para o grupo que detém o tradicional clube inglês Manchester City por cerca de 6,5 milhões de euros e com a possiblidade do Galo lucrar mais 3,5 milhões de euros de acordo com o desempenho do jogador, manifestações de apoio a estes dois negócios e outro tanto de opiniões contrárias às vendas, algumas até com uma surpreendente veemência, críticas à falta de um projeto de transição da base para o profissional e à recorrente desvalorização dos ativos do clube, protestos plenamente justificados quanto ao preço e ao sofrível sistema virtual de vendas de ingressos e também ao recorrente desrespeito ao torcedor seja ele sócio ou não, mais uma péssima arbitragem e claro, as intermináveis polêmicas, alimentadas de lado a lado e potencializadas pela mídia, como sempre sequiosa de audiência, em torno dessa “final” caça níqueis da “Supercopa” dos Campeões do Brasil.
Em meio a tudo isso, o torcedor vai dando asas à sua imaginação e especula a todo instante sobre a escalação do time que entrará em campo no próximo dia 20 em Cuiabá diante do Flamengo. Mohamed prometeu escalar diante do Athletic uma equipe mista e cumpriu. A atuação pouco convincente e, principalmente, pouco eficiente do time atleticano deixou, entretanto, “zilhões” de pulgas atrás das orelhas de cada torcedor alvinegro, ainda que na etapa final o time tenha sido mais agressivo e tenha buscado fazer uma marcação mais dura e efetiva na saída de bola do adversário e o treinador tenha posto em campo três de seus principais atletas, Hulk, Nacho e Savarino.
Se o Atlético não for feliz nesse confronto e perder o título de supercampeão brasileiro para um time que ano passado foi apenas o vice-campeão brasileiro e não ganhou nenhum dos dois principais títulos nacionais em disputa, com certeza não será o fim do mundo, embora tenhamos que reconhecer que será doído para a Massa, surreal e estrambótico, bizarro. Mas, se o atleticano fazer disso um campo de batalha e se descuidar de coisas muitas mais importantes que estão a requerer sua vigilância, sua crítica acurada e sua cobrança parcimoniosa e criteriosa, aí sim, o clube poderá conhecer o que é terra arrasada em toda a sua plenitude.
O Galo que foi duplamente campeão em nível nacional na temporada passada, que foi eliminado de forma invicta na semifinal da Libertadores, que viveu um ano mágico, que amealhou as maiores premiações já distribuídas a um clube brasileiro em uma temporada, que bateu recordes de receita, que ampliou como nunca em sua história um leque tão expressivo de patrocínios como festejado pelo próprio clube em suas plataformas oficiais, que inovou em tecnologia e também comemorou o pioneirismo nessa área, que terminou o ano com superávit orçamentário, não obstante não ter cumprido a meta de vendas de jogadores, iniciou 2022 alardeando dificuldades financeiras, lamentando a queda sazonal de receita normal nos primeiros meses de cada ano, defendendo a venda dos 49,9% do shopping como solução vital e imprescindível à sua sobrevivência, priorizando quase que obsessivamente o cumprimento da meta de vendas de jogadores prevista no orçamento deste ano, sofrendo inúmeras e preocupantes defecções em seu staff administrativo e gerencial em praticamente todas as áreas da agremiação e, paralelamente fazendo contratações tipo custo zero como as de Otávio e Godín. Coisas de Atlético, diria a velha Zulmira, aquela torcedora que não entendia nada de futebol, mas compreendia e conhecia como ninguém os descaminhos atleticanos.
Sendo campeão ou não da Supercopa, repetindo ou não a fantástica campanha de 2021, melhorando ou não o desempenho da temporada passada, conquistando ou não a Libertadores de 2022 e se qualificando para o mundial interclubes ou não, uma coisa é certa: o Atlético caminha celeremente para a maior transformação de sua centenária existência: a SAF ATLETICANA VEM AÍ e muitas, muitas questões clamam por esclarecimentos e atenção especial.
É cada vez maior no mundo do futebol a crença de que as SAF’s são a única salvação do esporte bretão no país e no próprio planeta. Este é assunto polêmico e complexo que demanda não apenas um artigo específico, mas muitos, muitos debates e questionamentos, mesmo porque não é uma simples alteração da constituição social de um clube que irá torná-lo viável, autossustentável e pujante. A qualidade da gestão, sim, é essencial, além, é claro, de determinados cuidados em razão da tipicidade própria dos clubes de futebol e do espectro cultural e social que reveste o esporte no país. A identidade do clube, por exemplo, é joia preciosa que deve ser preservada a todo custo.
Por ora, em meio a estas mil e uma especulações, provocações, críticas, broncas de torcedores sejam em relação a isso ou àquilo, e a todo esse disse me disse que fermenta e desenha mais uma semana tipicamente atleticana fica o alerta: muita água ainda vai passar por debaixo da ponte alvinegra e todo o cuidado é pouco. E atenção: a vida do Atlético não se resume a noventa minutos de um jogo, seja ele bem jogado, seja ele mal jogado.
E se, como não canso de repetir, tudo o que acontece dentro de campo é consequência direta do que acontece fora dele, é preciso vigiar e cuidar para que a maionese atleticana não desande. Não vai adiantar chorar depois que o leite for derramado.
*As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do FalaGalo