Coluna Preto no Branco: Entre falsas polêmicas e algumas bizarrices

Por Max Pereira, colaborador do Fala Galo, em Belo Horizonte

Enquanto o time atleticano vai se ajustando sob a batuta de “El Turco” que, inteligentemente, vai aproveitando todos os legados positivos de Cuca, i.e., a estrutura já montada e o padrão de jogo já definido pelo seu antecessor e surfando no ambiente positivo e vencedor que encontrou o que, obviamente, vem facilitando a ele fazer as coisas e o time jogar à sua maneira com leveza e sem rompimentos bruscos, como não podia ser diferente, os entornos do campeonato mineiro e da próxima decisão de uma Supercopa surreal geram polêmicas, algumas talvez justificáveis, outras prenhes de interesses nebulosos.

Questões como os preços dos ingressos, liberação ou não do público nos estádios nestes tempos mais uma vez agudos de pandemia com a proliferação de variantes cada vez mais agressivas, queda sazonal de receita dos clubes neste período em que se se disputam os torneios regionais, cada vez menos atraentes, o que, particularmente, deixa os clubes médios e pequenos em situação de quase insolvência e expostos a todo tipo de aventura administrativa, inclusive à criação de SAF’s, consideradas por muitos, quase sempre de forma açodada e pouco empírica, como a única salvação para o futebol brasileiro, se misturam e são, por vezes, tratadas de forma equivocada, quando não direcionada por um determinado interesse o que, forçosamente, deixa em segundo plano ou até mesmo invisíveis variáveis que deveriam estar sendo consideradas em razão de sua importância.

Enquanto muitas pessoas protestam, com alguma razão, em relação ao alto custo que se exige hoje de um torcedor assalariado para ver um jogo de futebol, preço de ingresso, teste de Covid, transporte e alimentação, outras tantas denunciam uma falha recorrente nos protocolos de segurança o que permite a entrada de pessoas nos estádios sem a correta monitoração sanitária.

O descaso para com a saúde, seja de quem deveria estar cuidando e monitorando corretamente os protocolos sanitários, seja da própria pessoa que se aproveita disso para entrar nos estádios sem o teste e sem cumprir o plano vacinal e seja ainda daquelas pessoas que defendem a liberação de publico nos estádios sem qualquer exigência sanitária, chega às raias do absurdo. E o que dizer da tese casuística segundo a qual os estádios são absolutamente seguros porque ali adentram apenas as pessoas que estão com o ciclo vacinal completo ou que portam testes negativos de Covid? Quem, em sã consciência, pode garantir isso?

Por outro lado, não podemos nos esquecer de que vivemos em uma economia de mercado e que o futebol, como é sabido e ressabido, é hoje um negócio multibilionário, cada vez mais caro e excludente. Não atoa, é cada vez maior o numero de dirigentes que têm defendido que o acesso aos estádios ficará cada vez mais restrito a quem pode pagar. Um time caro justifica um ingresso caro, defendem. E, não sem razão, tem se apostado na construção de arenas de porte médio, com capacidade em torno de 40 a 60 mil espectadores. A Arena MRV, com capacidade prevista para um publico de 46 mil pessoas, não foge desse conceito que parte da definição do valor do ticket médio e, claro, de outras variáveis que irão permitir que o empreendimento seja autossustentável.

Uma dessas variáveis é exatamente a manutenção de um time forte e estelar e que, portanto, justifique o ingresso caro e que, apesar da sazonalidade/rotatividade natural, cative um público médio a cada jogo que garanta a casa funcionando e o retorno colimado. A previsão de um setor popular atrás de um dos gols, resgatando a antiga Geral, não se contrapõe a este raciocínio. Ao contrário, o ratifica. A elitização do futebol é sim um fenômeno ao que parece irreversível e que merece uma análise particular e profunda.

Tempos pandêmicos e, portanto, excepcionais, impõem desafios complexos que exigem criatividade, soluções conjuntas e estratégias também singulares, i.e., fora dos padrões normais. E isso exige um esforço coletivo que envolve a todos indistintamente, desde o poder publico em todas as suas esferas e níveis, passando por toda a iniciativa privada, aqui incluindo os clubes de futebol independentemente de sua constituição social, empresa ou associação, e claro, por cada um de nós individualmente. Mas, isso é apenas um discurso politicamente correto e, como tal, retoricamente e apenas na teoria nada produz de concreto.

O futebol brasileiro, em particular, ainda está longe de atingir um grau de maturidade cultural que o esporte já atingiu em outros países, de modo a possibilitar a adoção de medidas coletivas que permitam ao negócio florescer de forma equânime, equilibrada, sem os espasmos de rivalidades autofágicas, de casuísmos protecionistas e de interesses inconfessáveis. Não, longe de dizer que existam experiências absolutamente perfeitas em outros países, totalmente livres de fisiologismos e de intentonas nebulosas. Mas, deixando claro que, mesmo assim, se comparado com outros centros, o futebol brasileiro ainda está nos tempos das trevas, na pré-história civilizatória.

As noticias tendenciosas e o material panfletário em torno da busca de uma sede para a decisão de uma Supercopa do Brasil entre um clube que ganhou as duas principais competições em disputa no país e outro que foi apenas o vice-campeão de uma delas, escancaram não só o interesse financeiro, caça-níquel da já desmoralizada “final”, como também mostram a clara intenção de esvaziar as conquistas do Atlético, aquele clube suburbano das Gerais que ousou desafiar o sistema.

Afinal, como insinuou de forma patética um jornalista assumidamente rubro-negro, o Atlético deve temer jogar fora de Belo Horizonte a decisão da Supercopa porque em qualquer outro lugar do território nacional a torcida do Flamengo será maioria e porque nem tudo os seus benfeitores poderão comprar.

Entre falsas polêmicas e algumas bizarrices, a vida vai seguindo o seu curso, o vírus continua assustando e se espalhando, o dinheiro faltando, o disse me disse se alastrando, o Atlético vai se afinando e jogando, e o atleticano, como sempre, torcendo e se contorcendo.