Coluna Preto no Branco: Virando a chave…

Foto: Pedro Souza
Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012

Ainda com gosto de Chopp na boca e curtindo a melhor ressaca de sua vida o atleticano já começa a voltar os seus olhos e a pensar na final da Copa do Brasil. E isso vale para o time também. Virar a chave é necessário e não é um processo simples como pode imaginar a vã filosofia de quem ainda imagina que o jogador de futebol é apenas um ser formado por músculos e ossos, imune a problemas, uma máquina de jogar futebol.

Ronaldinho Gaúcho foi o último romântico do futebol. O genial astro sempre aliava o competir com a diversão. Embora alertasse que, quando estava valendo, estava valendo, o sorriso que sempre o acompanhava e o futebol matreiro, prenhe de magia, revelava que para o Bruxo era imprescindível se divertir. Para ele jogar sem se divertir era impossível.

O futebol dos dias de hoje, transformado em um negócio multibilionário e pulverizado por interesses poderosos e muitas vezes heterodoxos, tornou-se físico, mental, tático e competitivo ao extremo e, fundamentalmente, vem exigindo dos atletas muito esforço mental. Muita água vem passando por baixo da ponte e o futebol vem sofrendo profundas transformações, dentro e fora dos campos, na forma de jogar e de gerir futebol, no perfil dos dirigentes, dos treinadores e dos jogadores. E também na relação dos clubes com as suas torcidas.

Várias são as variáveis que justificam o futebol ruim e pouco vistoso que, em geral, vem sendo mostrado nos campos brasileiros O futebol de hoje está impondo aos treinadores brasileiros um grande desafio. O futebol brasileiro vive agora o auge da batalha entre o lúdico, o técnico, o plástico, o belo de um lado e o físico, o tático, o mental, o prático e o feio, de outro. E, na guerra entre o belo e o feio, o primeiro está perdendo de goleada.

A técnica e a plasticidade, hoje cada vez mais raras, se tornaram símbolos de resistência. E o anti-jogo passou a ser considerado por muitos como uma estratégia válida e eticamente aceitável. Não atoa, jogadores que ainda insistem em mostrar habilidade, em dar leveza ao futebol e em dar diversão aos torcedores são incompreendidos, acusados de desrespeitar o adversário e têm sido advertidos pelos árbitros. Haveria espaço no futebol de hoje para Garrincha, o gênio das pernas tortas, a alegria do Povo?

Soma-se a isso um calendário perverso e o fato de o Brasil ser um país de dimensões continentais, o que obriga os times a se submeterem a viagens extremamente cansativas e de difícil logística. Esse quadro se agravou com a pandemia e com a intercalação de jogos pela Copa do Brasil, Sul-americana e Libertadores. O desgaste, em consequência disso tudo, é imenso. A técnica vem se tornando artigo de luxo e jogadores diferenciados e acima da média, seres em extinção.

Nesse contexto, o Atlético voltou a ganhar o campeonato brasileiro, sacudindo de forma vigorosa os alicerces do futebol brasileiro, o que, sem nenhuma surpresa, incomodou a gregos e troianos. E, uma vez, assumida a liderança do campeonato para não mais largar, o time atleticano foi submetido a um nível de tensionamento e pressão ímpar na história do futebol brasileiro. E respondeu com futebol de muita qualidade e com uma capacidade gigantesca de resiliência, determinação e de superação. O desgaste físico, mental e emocional é consequência natural e inevitável da maratona que os atletas alvinegros vêm enfrentando.

Uma das transformações ocorridas no futebol, que não pode e nem deve ser desconsiderada, se deu no ambiente interno dos clubes, onde se misturam jogadores diferentes, de origens diversas, que professam religiões diferentes e que possuem alta rotatividade, o que impede a muitos de cristalizarem alguma identidade com os clubes por onde passam. Alguns são verdadeiros nômades. E com o atlético isto não é diferente. Porém, Cuca, que vem se destacando entre os treinadores brasileiros, soube administrar com maestria os egos e as vaidades de um elenco pesado e multifacetado como este que foi colocado sob o seu comando.

Um a um, os adversários do Atlético buscaram se prevalecer do jogo físico, mental, tensionado e até violento em vários momentos, com o claro objetivo era desestabilizar os jogadores atleticanos e explorar o desgaste que o time alvinegro não conseguia esconder e fazia das tripas o coração para superar. Um a um, estes mesmos adversários foram sendo superados, alguns até mesmo com viradas épicas, como aquela apoteótica reação contra o Bahia, quando 5,6 minutos foram suficientes para mudar o jogo e garantir o título.

Com o grito de campeão solto e liberado, o que os jogadores do Atlético que, incrivelmente, tinham incorporado todas as angústias, expectativas e medos da Massa, queriam, era, depois de comemorar e extravasar tudo aquilo que estava entalado em suas gargantas, entrar em férias, curtir suas famílias e, por um bom tempo, não mais ouvir falar de futebol. Pelo menos, é o que eu, se fosse um deles, estaria desejando. Mas virar a chave é preciso. Para o atlético o ano ainda não acabou.

A final da Copa do Brasil está batendo às portas do Glorioso. E conquistar mais este título está na ordem do dia de todo atleticano e todos dentro do clube sabem disso e querem ganhar. Ou alguém acha que esse time que jogou o que jogou e superou o que superou não está nem aí para a copa do Brasil?

Como eu escrevi no artigo “RESSACA, SAMBA, ROCK AND ROLL E… COISAS DO ATLÉTICO” publicado ontem, quarta-feira, 8.12, no Blog CANTO DO GALO, “Jogamos juntos até agora, juntos derrotamos o vento, juntos vamos virar esta chave e juntos arrostaremos mais esse Furacão. E depois?” Depois, com as benções dos deuses do futebol, quem sabe mais festa e mais comemoração. Ah! E o descanso merecido. Quem viver, verá.