A bola não perdoa…
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Por Max Pereira (@pretono46871088 @MaxGuaramax2012)
No artigo “A TODO EFEITO PRECEDE UMA CAUSA. A FÍSICA DETERMINA E A BOLA PUNE!”, publicado em 5 de novembro de 2020, escrevi que “tudo o que acontece dentro de campo é consequência do que acontece fora das quatro linhas”. E mais: asseverei que as muitas escolhas erradas não se restringem aos erros e falhas pontuais dos jogadores em campo que no Atlético de hoje ainda acontecem e se repetem além do desejável.
O que também acontece fora dos gramados, tanto na preparação e na definição do time que vai entrar em campo, quanto no cuidado com o jogo dos bastidores é também decisivo e pode ser até fatal em relação às pretensões maiores do clube. E o jogo de ida da semifinal da Libertadores contra o Palmeiras em São Paulo mostrou à larga o quanto a bola pune, o quanto a gorduchinha não perdoa.
Foi um jogo tenso e intenso que começou muito antes do arbitro trilar o seu apito pela primeira vez. E não poderia ser diferente disso. Do lado atleticano, a dúvida lançada sobre a presença de Arana no duelo parece não ter produzido o efeito esperado pelo alvinegro. Aliás, sem nunca acreditar que Arana não iria para o jogo, Abel Ferreira já havia definido escalar Roni exatamente por aquele lado para inibir o lateral atleticano e ainda ajustou a marcação para neutralizar as investidas do jogador alvinegro, fonte de muitos gols do Atlético nesta temporada. Se não jogou mal, Arana esteve longe daquele lateral ofensivo e perigoso de outras jornadas.
Durante todas as horas que antecederam o confronto notícias vazavam de lado a lado em relação às possíveis escalações e, pasmem, até mesmo sobre a forma de jogar dos times e as funções daqueles que iniciariam a partida. Houve comentarista de TV que cravou o time atleticano e discorreu sobre como o jogo do Atlético seria jogado, baseado, segundo ele, em informações que gente do clube teria lhe confidenciado. E não é que ele “incrivelmente” acertou?
Já as notícias relativas ao provável time do Porco e ao porquê da escalação apontada como a mais provável, vinham carregadas com a informação de que Abel Ferreira pretendia mandar um time cascudo a campo. Afinal, era jogo decisivo da Libertadores e que valia uma vaga para a final da competição. “Tirem as crianças da sala. É hora dos homens”, diria aquele locutor de MMA.
Houve outro comentarista que, antes do jogo, já cravava a escalação desde o início do volante Felipe Melo com a finalidade precípua de “PEITAR” Hulk e Diego costa. Isso mesmo, PEITAR. Verbo transitivo direto, autoexplicativo e que se configurou com todas as letras antes mesmo dos 10 minutos do primeiro tempo. Em dois lances seguidos e que não deixaram dúvidas quanto à sua missão, Felipe Melo cometeu duas faltas grosseiras e PASSIVEIS DE CARTÃO, atingindo violentamente e nesta ordem, Hulk e Nacho Fernández. E não se limitou a isso. Partiu para a provocação em cima do atacante atleticano e quase conseguiu tirar Hulk do sério.
O árbitro a tudo assistiu e não advertiu o volante palestrino. Aliás, o primeiro e único cartão amarelo erguido pelo apitador no primeiro tempo foi para Zaracho, merecido, diga-se de passagem. Mas, a pergunta que não quer calar é: por que Felpe Melo não foi advertido?
O jogo, a partir dessas duas faltas agressivas de Felpe Melo, atingiu o seu ápice de tensão. Os jogadores atleticanos davam sinais claros de que tinham entrado na pilha palmeirense e, claro, o nervosismo, como sempre, compromete a técnica, o raciocínio e leva a escolhas erradas. De tudo isso resultou um primeiro tempo feio, muito disputado, nada plástico e palmilhado pelo estresse e pela inquietude dos jogadores. Hulk, antes mesmo de chutar o pênalti na trave, espelhava tudo isso em seu semblante.
Ainda assim, se se tivesse que definir um time melhor em campo esse seria o Atlético que exibiu durante todo o jogo aquela já costumeira consistência defensiva adquirida nessa temporada sob a batuta de Cuca. Everson, rigorosamente, não foi exigido.
O segundo tempo não foi muito diferente. Um time tentava jogar, propor o jogo e chegar a vitória, o Atlético. O outro se limitava a marcar, a criar dificuldades para o adversário e, se possível, a jogar no erro do oponente, o Palmeiras.
Mas, cair na armadilha do descontrole emocional não foi o único e nem o maior problema do Atlético. Se a defesa se houve muito bem e os três volantes mais uma vez tiveram uma atuação soberba, o mesmo não se pode dizer de Nacho, Hulk e Diego Costa. O argentino que não vem jogando bem foi muito mal, em particular no primeiro tempo quando errou muitos passes e, em alguns lances, evidenciou limitações de vigor físico.
Hulk, que durante a semana que antecedeu o jogo, já vinha sendo provocado por ter sido na infância e na juventude torcedor do Verdão ou ainda ser aficionado do clube paulista, depois do episódio com Felipe Melo se mostrou muito tenso, incomodado e, claro, isso comprometeu o seu rendimento. Profissional e experiente, Hulk certamente driblou tais provocações. Mas, certamente foi afetado pela tensão que envolveu o jogo.
Já Diego Costa, como já era esperado, se ressentiu da sua má condição atlética, da falta de ritmo e, principalmente do desajuste tático da formação atleticana do meio para frente. A sua lesão muscular, não obstante ter acontecido em um lance de falta clara a favor do Atlético não marcada pela arbitragem, se deveu em muito ao desgaste físico que o jogo lhe impusera desde o seu início.
Nacho, Hulk e Diego Costa não tinham jogado juntos tempo suficiente para gerar um entrosamento minimamente desejável. Em razão de suas características e, óbvio, do perfil dos outros jogadores que compõem o grupo atleticano, escalar os três juntos requer treino, tempo e ajustes que, claramente ainda inexistem.
E Cuca sabe disso. Nas experiências anteriores quando lançou Diego Costa ao lado de Hulk, Cuca fez importantes alterações no time. Nas vezes em que saiu do banco de reservas DC sempre foi acompanhado por Réver que entrava em campo no lugar de um dos volantes, Jair ou Zaracho, para cumprir a função de terceiro zagueiro, permitindo a Nathan Silva e a Alonso fazerem a dobra de marcação nas costas de Mariano e de Arana, respectivamente, que assim, podiam avançar e criar, com mais segurança e eficiência, situações de ataque que favoreciam ao atacante ibero-brasileiro e ao super-herói atleticano. Nessas oportunidades ou Nacho estava fora ou era também substituído.
Já diante do Sport, quando começou jogando, DC contou com uma ala fortíssima pelo lado esquerdo com Keno e Arana explorando com maestria aquele corredor. Foi por ali que nasceram os gols que deram no primeiro tempo a vantagem parcial ao Atlético por 2 x 0. Mais uma vez, quando Nacho, inicialmente preservado, saiu do banco, DC já não estava mais em campo.
E, se Cuca sabia que DC ainda está longe de sua melhor forma físico-atlética, que Nacho atravessa uma péssima fase e que não havia tido tempo para fazer e treinar os ajustes táticos necessários para que os três juntos pudessem render o que deles se espera, porque, então, os escalou nesse jogo desse o início?
Parte da torcida vinha polemizando a escalação de um Atlético ideal com base em argumentos rasos quase sempre pautados pela rejeição irracional ou emocional de desse ou daquele jogador. Nesse sentido, um dos alvos dessa ala raivosa era sempre o atacante Vargas que, ironicamente, desde que o Atlético perdeu Savarino lesionado, vinha jogando muito bem e suprindo a falta do até então titular.
Ouso dizer que Cuca, por razoes que desconheço, errou grosseiramente ao não escalar Vargas de início ao lado de Hulk e não Diego Costa, o que teria dado mais mobilidade ofensiva ao time, além de equilíbrio tático. Diego Costa e Keno eram armas para o segundo tempo. E, embora alguns possam entender que estou blasfemando, entendo que para escalar Diego Costa desde o início, Cuca deveria ter optado também por outra alteração, sacrificando Nacho Fernandes que já não vinha bem, e colocando em campo ou Réver como um terceiro zagueiro ou Keno desde o início, com a missão de, ora buscar a linha de fundo, ora flutuar por dentro, abrindo o corredor pela esquerda para Arana.
Isso não quer dizer, porém, que Cuca não continua merecendo todos os aplausos e todo o reconhecimento pelo brilhante trabalho que vem executando até agora. Os méritos de Alex Stival são inegáveis.
Erros acontecem e devem servir de lição, pois a bola, inclemente, não perdoa. Ainda que seja imperioso agir ou reagir, ou mesmo não partir para a ação, o risco de uma decisão errada está sempre presente. Muitos erros têm raiz em outros erros e são esses que merecem toda a nossa atenção.
Por fim, um último alerta: no artigo “PARA CADA JOGO EXISTE UMA ESCALAÇÃO IDEAL…”, publicado em 15 de julho desse ano, escrevi que “parte significativa dos analistas da atualidade entende que no futebol de hoje não existe um jogo igual ao outro” e acresci que o grande desafio de Cuca que, naquela época, vinha sofrendo, apanhando e aprendendo jogo a jogo, era definir, partida por partida, entre quem estiver disponível, o melhor e mais adequado onze para realizar a melhor proposta de jogo para enfrentar e superar o adversário da vez.
Aprendida a lição, tenho certeza de que Cuca, que sabe das coisas e é competente como o seu trabalho vem mostrando, daqui para frente continuará escalando o Atlético ideal para cada jogo.