A partir de agora é foco total e erro zero

Foto: Pedro Souza

 

Por Max Pereira (@pretono46871088 @MaxGuaramax2012)

O Atlético chega à reta final das Copas do Brasil e Libertadores cacifando-se como um candidato potencial ao título destas duas competições, ao mesmo tempo em que vai se consolidando na liderança do campeonato brasileiro. Mas, se até agora o Galo foi capaz de sustentar estas campanhas, os títulos só virão se, a partir de agora, o clube adotar a postura do erro zero e do foco total e absoluto.

No futebol dos dias atuais, ou no futebol moderno como queiram, não se ganha apenas dentro das quatro linhas. Com a disputa concomitante do Brasileiro e das duas Copas e, como ao Atlético, por sua tradição, torcida e gigantismo natural, nunca é dado o direito de priorizar nenhuma competição, agora então, diante da qualidade do elenco atual e da posição que ostenta nos três torneios que está disputando, é fundamental tomar determinados cuidados, imprescindíveis à manutenção do alto rendimento atingido até agora e, consequentemente, à conquista dos títulos almejados.

Desnecessário explicar porque a disputa simultânea de três competições de ponta espremidas em um calendário perverso e jogadas sob condições adversas em decorrência da pandemia, traz um desgaste considerável que precisa ser administrado e minimizado com competência e inteligência.

Casos de contusão continuam incomodando, ainda que seja forçoso reconhecer que, na atual temporada, o Atlético vem registrando números de casos bem menores que aqueles que, habitualmente, se verificavam em anos anteriores. A novidade de 2020 para cá fica por conta dos fantasmas relativos aqueles infortuitos casos de contaminação pela Covid-19.

“Cuca precisa rodar o elenco”, recomendam alguns. “Cuca precisa dar ritmo a jogadores como Micael, Calebe, Echaporã, Savinho, Neto e Alan Franco”, recomendam outros torcedores preocupados com a maratona a que o time está sendo submetido. “Ah! Tem que lançar força máxima em todos os jogos”, exigem aqueles galistas para os quais os jogadores parecem não ser diferentes de máquinas.

Em meio a todas essas cobranças e “sugestões”, o treinador, naturalmente ancorado pelos médicos, pelos preparadores físicos e pela fisiologia, tem também que dar ritmo e administrar o aproveitamento tanto dos jogadores que estão voltando de lesão como Keno e daqueles que apresentam índices elevados de CK e de risco de se lesionarem como recentemente ocorreu com Allan e Zaracho, como de jogadores que estão chegando ao clube como Diego Costa e, portanto, precisam de um tempo de preparação e adaptação. O objetivo final deve ser sempre o de deixar o elenco satisfatoriamente nos cascos para o sprint final da temporada.

Esse cuidado de rodar o elenco é primordial, vez que alguns jogadores tendem a se cansar com mais intensidade, seja em função da idade (lembrando que vários jogadores do atual elenco já estão na casa dos trinta), seja em razão da função desempenhada, que irá exigir mais de uns do que de outros, conforme o esquema tático adotado. Nunca é demais lembrar que, cada jogo é um jogo, e que, dependendo do que cada adversário propor, este ou aquele jogador deverá ser escalado, por melhor responder ao esquema indicado.

E, à medida que o time vai se encaixando e praticando um futebol mais intenso e dinâmico e, ao mesmo tempo, as competições de mata-mata vão se afunilando e os adversários, cada vez mais qualificados, vão exigindo mais e mais da equipe, os jogadores passam a se movimentar com mais intensidade, trocando constantemente de posição, o que faz o desgaste, físico, emocional e mental, crescer perigosamente e algumas lesões inevitáveis.

Jogo após jogo, o Atlético será exigido a mostrar a maior valia do elenco que montou. Mas, não pode jamais se esquecer de que qualquer desfalque a partir de agora, seja por contusão, seja em razão de alguma negociação, seja ainda por alguma indesejável contaminação pela Covid 19, pode ser fatal tanto na campanha do brasileirão quanto nas Copas do Brasil e Libertadores.

Um dos principais problemas do atlético ao longo dos anos é a descontinuidade. Descontinuidade de projetos, de elencos e de foco. Um dos requisitos fundamentais para se conquistar uma competição de tiro longo como o Campeonato Brasileiro é a regularidade. E regularidade tem sido, ao longo dos tempos, peça de ficção no Atlético.

Assim, é preciso reforçar sempre: a manutenção do elenco torna-se também uma obrigação do clube, i.e., da diretoria, do presidente e dos gestores. Como manter uma espinha dorsal, como manter uma identidade de time e de jogo, em meio a um entra e sai ensandecido, absolutamente desfocado de qualquer objetivo esportivo e, em particular, da conquista de títulos?

Se dentro das quatro linhas o foco, a concentração e a determinação devem ser totais e o erro deve tender a zero, fora de campo a realidade não é diferente. Foco total dentro e fora das quatro linhas não é opção, é obrigação, é vital. É imperioso que a diretoria, o presidente e os gestores/mecenas não se descurem do extracampo futebol clube. A comissão técnica, o treinador, o time e o próprio Atlético como um todo, têm que se preparar para derrotar, além dos adversários de chuteiras, toda a sorte opositores que, fatalmente, buscarão desestabilizar o time e o clube.

O jogo contra o Fluminense em São Januário pela antepenúltima rodada do 1.º turno do Brasileirão trouxe, por exemplo, vários ingredientes que servem de alerta para os jogadores, comissão técnica e para o comando do futebol alvinegro. Gramado bastante ruim, esquema fortíssimo de marcação do adversário e arbitragem polêmica roubaram a cena e deram o tom do espetáculo. O empate, se não foi o resultado esperado, ficou de bom tamanho e serviu para aumentar em um ponto a diferença par os vice-líderes.

Se de um lado, os jogadores têm que saber que, a partir de agora, vão precisar, em vários jogos, de ultrapassar obstáculos cada vez mais pesados, o clube precisa estar preparado para, fora das quatro linhas, blindar e proteger o elenco cada vez mais, como também manter e prover o espírito de união, cumplicidade, comprometimento coletivo e individual, do gostar de jogar junto, do gostar um do outro, do gostar do clube e da camisa, do gostar da torcida e a vontade de ser campeão.

Administrar e manter tudo isso não é fácil. Aliás, administrar egos e vaidades nunca foi uma coisa banal. O Atlético tem uma vantagem nesse quesito. O ambiente é bom. Os jogadores se gostam e gostam do clube e da torcida. Mas, também, tem uma enorme dificuldade: os seus inimigos jogam pesado e, muitas vezes, sujo, são incansáveis e, com o passar do tempo, a cada avanço do Atlético, ficarão mais perigosos e perversos.

Aqui não se pode deixar de observar que as arbitragens ruins, as revisões equivocadas e as não revisões desastrosas do VAR e a adoção de uma postura equivocada por parte do clube, dentro e fora do campo, em relação a tudo isso, o que por vezes já aconteceu com frequência indesejável, fazem gerar um desgaste adicional. Nesse sentido, todo o cuidado é pouco porque, não só o time acumulará desgastes que poderiam ser evitáveis ou contornáveis, como o clube poderá deixar no caminho pontos mais do que importantes.

O time tem que estar preparado para fazer dois gols para valer um, fazer três para valer dois, resistir às provocações para não tomar cartões desnecessários, não cair na pilha da torcida adversária e, nem tampouco, nas malandragens dos adversários, etc.

Não deixa de ser elogiável o fato de que o Atlético já consiga, por vezes, resistir e sair incólume de alguma boataria. Mesmo assim, o clube tem que melhorar muito nesse quesito, pois, o disse me disse, as ondas, as notícias plantadas e as maldades destiladas nas redes sociais e muitas vezes na própria mídia convencional, ainda podem causar muitos estragos.

O Atlético ainda peca muito em sua comunicação institucional e a torcida, além de apaixonada, é excessivamente passional e irracional em muitas situações, nesse contexto, os boatos podem provocar estragos irrecuperáveis, vez que o risco de cobranças indesejáveis, inadequadas, cruéis e devastadoras é sempre presente e possível.

Infelizmente, a história atleticana é prenhe de exemplos de situações ruins que tiraram do clube vitórias importantes e frustraram a conquista de títulos considerados certos.

E, não bastassem, os ataques daqueles que sempre jogam contra os interesses do clube, dois fatos preocupam sobremaneira a todo e qualquer torcedor consciente. Primeiro, a tentativa sórdida de requentar aquela acusação de estupro de Cuca, não por uma questão moral ou ética, mas, para, pura e simplesmente, desestabilizar o clube e o time.  Segundo, a exploração igualmente vil de questões políticas. O Atlético não pode ser prejudicado porque um de seus ex-presidentes é o atual Prefeito de Belo Horizonte e nome forte nas próximas eleições ao governo do Estado. O Atlético tem que se manter estanque a tudo isso. E, também, não pode permitir que querelas políticas internas e, muito menos, choques de egos, sacudam o clube e conspurquem o ambiente interno. É preciso blindar o clube, elenco, comissão técnica e funcionários, contra tudo isso, antes que seja tarde demais.

E, nisso tudo, qual é o papel da massa atleticana? Simples: torcer, vibrar, torcer, filtrar as notícias, torcer, não compartilhar fofocas, ondas e boatos, torcer, ajudar o clube no que lhe for possível, torcer, apoiar, torcer, cobrar com acerto, torcer, não vaiar e não jogar contra nos momentos ruins, torcer, acreditar, torcer, acreditar, torcer, acreditar e torcer, torcer e acreditar.

Por fim, é preciso entender que o futebol moderno se tornou uma competição na qual o alto rendimento é peça fundamental, onde além do elevado nível técnico, a evolução e a estruturação táticas, o condicionamento físico ajustado e equilibrado e o nível mental aguçado e bem cuidado dos atletas e dos treinadores, são fundamentais. Os torneios olímpicos mostram isso claramente. E muita gente ainda não entendeu.

A PARTIR DE AGORA É FOCO TOTAL E ERRO ZERO.