Galo 2021, um amontoado de sonhos, de desafios e, ao que parece, de mais pesadelos…

Foto: Flickr oficial do Atlético

 

Por Max Pereira (@pretono46871088 / @MaxGuaramax2012)

Cuca se apresenta ao Atlético com a missão de enfrentar desafios táticos interessantes que, de acordo com as suas escolhas e habilidade, podem ou não ser espinhosos, além da tarefa, igualmente instigante e delicada, de gerir um grupo heterogêneo e pesado e, tudo isso em um 2021, que pode ser o ano da guinada definitiva do Galo ao estrelato colimado pela diretoria e, em especial pelo grupo gestor, e tão sonhado pela sua massa torcedora.

O treinador campeão da Libertadores de 2013 viveu no Atlético experiências e momentos diametralmente opostos. Assim como várias gerações de jogadores que entravam em campo carregando nas costas um peso enorme de décadas e décadas de frustrações, de erros, de equívocos, de fracassos, de verdades verdadeiras e outras nem tanto e de muitas, muitas historias mal contadas, Cuca, em sua singular passagem pelo Galo forte vingador, foi do inferno ao céu e ainda conseguiu sair do Atlético mal amado e amaldiçoado por muitos.

Um amontoado de jogadores. Assim era o Galo quando Cuca chegou ao clube em 2011. Aliás, esta quase sempre foi a primeira e devastadora impressão que os times do Atlético têm transmitido ao longo dos tempos a quem se dispôs a acompanhar os seus jogos. Um amontoado de jogadores que ora corriam, ora buscavam o gol adversário, ora brilhavam, ora vagavam pelo gramado, aparentemente sem rumo algum, ora pareciam excessivamente calmos e relaxados, ora se mostravam tensos e de cara amarrada, ora superavam obstáculos aparentemente intransponíveis e ora se prostravam diante de adversários de potencial duvidoso.

Fora de campo, o Atlético sempre tropeçou em um amontoado de erros. Na verdade, os times atleticanos ao longo de décadas têm sido o reflexo nu e cru da própria realidade histórica e cultural do clube. Tem sido assim há muito tempo. E continuará assim se muita coisa não mudar e não acontecer dentro do clube, na sua relação com a imprensa, com seus jogadores e com a sua própria torcida.

Se não houver uma mudança de cultura, de postura e, não implodir de vez com este carma de derrotados, o Atlético vai continuar sendo um amontoado de jogadores e de torcedores arrastados e destroçados por um amontoado de problemas, de dramas, de medos, de sofrimentos, de fracassos, de erros, de pesadelos, de equívocos, de maldades, de histórias mal contadas, de sensacionalismos baratos e de sonhos não realizados.

Assim, se não acontecer uma revolução de conceitos que possa transformar o Atlético em todas as suas dimensões, o clube, tal e qual “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes, vai continuar a se atirar contra os moinhos de ventos que os inimigos colocam à sua frente, acreditando iludido e delirante que está, de fato, enfrentando os verdadeiros dragões que estão sempre ameaçando devorar de vez o Galo Forte Vingador.

Mas, o próprio clube parece saber que, para mudar essa história, deverá enfrentar um ano pesadíssimo, de muitas batalhas cruentas, de muitos enfrentamentos, com a obrigação de buscar errar menos e acertar mais. Parece mesmo? Pelo menos, é o que sinalizam as medidas e os investimentos em curso e o que dizem os inúmeros recados que o próprio clube e, em particular, seus investidores/mecenas têm enviado para a torcida.

Ainda que a sua passagem pelo Atlético tenha terminado de forma abreviada, tensa e conturbada, Sampaoli é indiscutivelmente a mais significativa sinalização de mudança e um marco na historia do clube. E os percalços do argentino, por sua vez, deveriam servir de alerta tanto para o novo técnico, quanto para próprio comando e o grupo gestor.

No artigo ENTRE MODELOS TÁTICOS, A BUSCA DE UM JEITO PRÓPRIO DE JOGAR, publicado no ultimo dia 17 deste mês no Blog Canto do Galo, busquei detalhar o que, a meu ver, eram os desafios de Cuca em relação à transição dos modelos táticos, já em curso com o time alternativo de Lucas Gonçalves, e com a administração de um elenco heterogêneo e pesado como o grupo atual do Atlético. Mas, e fora das quatro linhas quais são os desafios e como clube indica que está lidando com eles?

A nova chegada de Cuca ao Atlético coincide com o agravamento da pandemia que agudiza indiscutivelmente os problemas de caixa das empresas. E, com os clubes de futebol e o Atlético, em particular, não é diferente. Mas, isso não justifica algumas medidas que estão sendo anunciadas, mesmo porque, podem trazer consequências desastrosas para o clube.

Tudo indica que há um redirecionamento no que chamam de projeto. Revanchismo em relação à diretoria anterior, como questionam vários torcedores? Pode até ser. Mas, o que justifica de fato a descontinuidade de vários trabalhos, as demissões e as limpas no elenco temerariamente anunciadas?

Parece óbvio que as dificuldades de caixa estão pipocando e que, pressionados por isso, o clube está adotando as soluções mais fáceis e óbvias. Filme velho. E o Galo já pagou muito caro por isso.

Ah! Mas, se alguém sair haverá espaço para a chegada de reforços? Quer dizer, então, que o trabalho de Lucas Gonçalves não serviu de nada? Quer dizer, também, que os jogadores dos times de transição e alternativo e os garotos da base devem buscar outros lugares já que não terão espaço no clube? Pois é assim que muitos estão entendendo essa mudança. Echaporã, por exemplo, em uma coletiva foi até perguntado pelo mestre Silas Gouveia sobre isso. Cuidado, um bom ambiente é fundamental para o sucesso.

Cuca nem bem chegou e já promete uma limpa no elenco em nome da “excelência” do trabalho. É isso mesmo? Que conhecimento ele tem do elenco atual para fazer isso? Todas as vezes que no Atlético falaram em limpa no elenco em nome da excelência do trabalho só fizeram bobagens em nome da redução da folha. E que bobagens fizeram.

O Atlético vai disputar várias competições importantes simultaneamente. E precisa de um elenco encorpado, rico em opções tática e quantitativamente. As paralisações forçadas pelo agravamento da pandemia vão aumentar os prejuízos. Fato. Mas, também as chances de fazer maus negócios, especialidade cármica do Atlético. A crise é mundial. O mercado da bola se ressente dela, as receitas caem e as despesas parecem explodir. Outro fato. Mas, anunciar uma limpa agora premido apenas por isso é certamente um tiro no pé.

O futebol argentino, p.ex., vive crises recorrentes há anos e, nem por isso, vendem mal e, muito menos, anunciam limpas. Isso desvaloriza o elenco. Que o comando e os gestores aprendam com os “hermanos”. Se insistirem com essa estratégia em nome da redução da folha irão derrubar o time e verão os prejuízos aumentarem, as crises se multiplicarem e as oportunidades de cacifar mais receita minguarem.

O momento desafia a habilidade e a competência da diretoria e dos gestores/mecenas. Fazer o mais simples qualquer um faz. Se quiserem realmente fazer o Atlético grande como apregoam aos quatro ventos, então pensem grande. Esses anúncios infelizes podem ter jogado no lixo todo o trabalho feito até agora por Lucas Gonçalves. A insegurança e a insatisfação devem reinar agora na Cidade do Galo.

Sobre isso olhem o que diz o grande atleticano e multiprofissional Marco Coelho, ex-comentarista da Rádio Clube de Curitiba:

“Pelo que acompanho, estão para começar a nova etapa de forma equivocada. Não é hora de o Cuca assumir e tão pouco do retorno dos ‘titulares’. Cito algumas razões:

  1. Eminente paralisação do campeonato, o que daria mais tempo ao treinador para preparar melhor física e taticamente a equipe;
  2. Manter a equipe que vem bem é reconhecer o bom trabalho feito, valorizar o plantel e não desestimular jogadores que poderão ficar esquecidos nesta nova etapa, principalmente Calebe e Dylan;
  3. Calendário será muito pesado, temos a oportunidade de rodar o elenco, preparar melhor e planejar, porém, estão jogando esta oportunidade fora;
  4. Cuca está abalado psicologicamente, certamente em razão do delicado estado de saúde da mãe. Nunca o vimos tão melancólico. Este tempo a mais, sem pressão, por menor que seja neste momento, daria a ele mais tempo para se organizar e preparar a equipe.

Infelizmente o futebol profissional é muito mal gerido, pois os envolvidos são imediatistas e se preocupam em demasia com o que pensa a imprensa. Momento era oportuno para melhor planejar, mas infelizmente nossa cultura prefere a teoria do erra / conserta à do pensar e planejar. Torço para que dê o contrário do que imagino, mas, infelizmente estamos mais uma vez no mais do mesmo”.

Nada do que se fizer trará os resultados esperados enquanto o clube permanecer mergulhado no seu, já crônico, inferno astral. E não importam quais sejam os jogadores que venham a vestir o manto preto e branco e não importa qual seja o adversário que vier pela frente.

Afinal, tudo não é difícil para o Atlético e tudo se justifica, não é mesmo?