Vexames, apostas, equívocos e os mecenas salvadores: o triênio 2018-2020 do Atlético
Foto: Flickr oficial do Atlético / Edição: Lucas Porto
Por: @CentralDoCAM
Tudo começou em 2018. Foi um baque para todos tudo o que aconteceu depois de daquele ano. Vínhamos de gestão que acumulou dois vices de campeonatos importantes no Brasil e fez com que o endividamento do clube aumentasse gradativamente. O discurso na época era de “austeridade” – palavra que assusta a Massa.
As primeiras medidas foram cortar gastos. Salários absurdos de jogadores como Fred e Robinho foram desfeitos. O clube estava a vir passar por uma reformulação. Mal sabíamos o que estava por vir. Tivemos no total de 45 jogadores negociados para equilibrar as contas. O maior acerto daquele ano foi a contratação por empréstimo do Róger Guedes. De resto… Bom, é melhor nem entrar em detalhes.
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Depois de uma partida com o Atlético-AC, pela Copa do Brasil, o técnico Oswaldo de Oliveira foi demitido após ter discutido acintosamente com o jornalista Léo Gomide. Para seu lugar, foi contratado Thiago Larghi, como interino. Uma aposta. Tentando defender o título do Estadual de 2017, perdemos para o rival, vencendo o primeiro jogo e deixando com que eles buscassem o resultado no jogo de volta.
Já bastando o vice do Estadual, o Galo foi eliminado na Sul-Americana pelo San Lorenzo e na Copa do Brasil para a Chapecoense. Tudo isso num espaço de cinco dias. Com as duas eliminações em menos de uma semana, o Galo mineiro deixou de arrecadar R$ 4 milhões. Larghi teve boa performance em boa parte da sua passagem com um futebol que impressionou muitos – alguns até sonharam com o título brasileiro. Mas sem planejamento algum, foram vendidos todos os jogadores principais daquela equipe (Otero, Bremer, Róger Guedes – esse por forças maiores) e uma das maiores perdas foi a lesão do meia Gustavo Blanco. O time era voltado a esses cinco jogadores. Não foi contratado ninguém para repor e o futebol, obviamente caiu. A solução? Demitir o técnico.
Para o seu lugar, veio Levir Culpi. O começo do trabalho não foi bom, com três derrotas e um empate nos seus quatro primeiros jogos à frente do Alvinegro. Nas últimas rodadas, no entanto, o trabalhou encaixou e a equipe conseguiu quatro vitórias nos últimos cinco jogos. O Galo terminou o Campeonato Brasileiro na sexta colocação, com 17 vitórias, oito empates e 13 derrotas. A equipe passou 34 rodadas das 38 no G6, garantindo o retorno à Copa Libertadores depois de um ano de ausência.
Resumo da temporada 2018:
– Vice no Estadual;
– Eliminado da Copa do Brasil nas oitavas-de-final para a Chapecoense;
– Eliminado na primeira fase da Sul-Americana;
– Sexto lugar no Campeonato Brasileiro;
A temporada 2019 chegou. Depois de uma temporada de altos e baixos – mais baixos, a euforia por estar de volta a Libertadores era grande. A torcida ficou cega para muitas coisas. O Estadual, a primeira competição do ano, o Galo ficou na primeira colocação na primeira fase, com nove vitórias, um empate e uma derrota. O clube foi para a final e mais uma vez foi vice para o rival.
Sobre a Libertadores, uma atuação vexatória. A classificação para a competição em 2018 foi para a pré. O Galo eliminou o Danubio e o Defensor – o segundo com uma maior “tranquilidade”. A eliminação veio precocemente, ainda na fase de grupos. Após a goleada sofrida para o Cerro Porteño, no Paraguai, por 4×1. A solução? Demitir o técnico. De novo. Ficando em terceiro colocado, o clube teve o direito de disputar a Sul-Americana – competição desdenhada pelo então Presidente.
Rodrigo Santana foi contratado para ser o técnico. Mais uma aposta. O filme se repetia como 2018. O novo treinador conseguiu implementar o seu estilo de jogo e os resultados iniciais eram razoáveis.
Vieram as competições: Sul-Americana, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. A expectativa pelo título da primeira competição citada era imensa e as chances eram reais. A eliminação veio contra o Colón, na semifinal. O clube estava com o pé na final, mas o Elias fez um pênalti e fez com que a disputa fosse para os pênaltis. Galo eliminado.
Na Copa do Brasil, o Galo foi eliminado pelo Cruzeiro – o clube celeste já estava enfrentando a maior crise da história do Brasil. Depois de perder o primeiro jogo por 3×0, o Atlético venceu o segundo jogo por 2×0, mas não foi o suficiente. Galo eliminado.
No Campeonato Brasileiro, o Galo não almejava muitas coisas. Depois das eliminações e restando apenas o campeonato nacional, o ritmo caiu. A demissão do Rodrigo Santana veio após 11 jogos com apenas duas vitórias. As chances de um possível rebaixamento, apesar de difícil, começou a assustar a cúpula do Galo e os torcedores. Para seu lugar, foi contratado Vagner Mancini. Literalmente para “tampar o buraco” e evitar uma tragédia. O treinador comandou o clube por 13 jogos, com quatro vitórias, cinco empates e quatro derrotas.
Resumo da temporada 2019:
– Vice do Estadual;
– Eliminado nas quartas-de-final para o rival;
– Eliminado na semifinal da Sul-Americana;
– 13° no Campeonato Brasileiro;
Chegou 2020. A última temporada do triênio. Depois do desempenho vexatório nos anos anteriores, o clube começou a investir de forma modesta no clube por meio dos investidores. Vagner Mancini, técnico que terminou a temporada de 2019, não comandava mais o clube. Para o seu lugar, foi contratado Rafael Dudamel.
Muita expectativa foi criada no venezuelano – alguns torcedores foram buscá-lo no Aeroporto. A demissão do treinador acontece após apenas 10 jogos de Dudamel no cargo. Foram quatro vitórias, quatro empates e duas derrotas (53,3% de aproveitamento), além de duas eliminações, para o Unión-ARG (primeira fase da Sul-Americana) e Afogados-PE (segunda fase da Copa do Brasil). A partir da eliminação para o Afogados-PE, tudo mudou no clube.
Quatro investidores bilionários entraram fortemente no clube para arrumar a casa. Investiram milhões em jogadores e contratou Jorge Sampaoli para o comando do clube. Depois dessas atitudes, o clube literalmente mudou de patamar. O profissionalismo chegou. O treinador argentino pegou um time desacreditado e humilhado nacionalmente após o começo tenebroso de 2020. Arrumou a casa juntamente com os investidores.
Sampaoli foi o primeiro treinador a completar uma temporada inteira no Campeonato Brasileiro no comando da equipe após Levir Culpi (2014-2015). O argentino anunciou recentemente sua saída do clube com destino ao Olympique de Marsellie. Com ele, foram 45 jogos, 26 vitórias, nove empates e 10 derrotas.
Vale destacar que essa diretoria quitou muitas dívidas deixadas pelas péssimas gestões passadas do clube. Dívidas milionárias e juros exorbitantes eram debitados das contas do clube anualmente e algumas mensalmente. O triênio pagou cerca de R$ 60 milhões na FIFA, sem contar as taxas. A atuação do jurídico do clube foi essencial para muitas das vezes ter dívidas com seus valores reduzidos drasticamente.
Em resumo, o triênio foi feito para colocar a casa em ordem e sem gastos excessivos. Foi por isso que os investidores entraram. Nisso o triênio tem seu mérito. Porém, foi muito difícil conciliar a duas coisas: contas equilibradas e bom desempenho nas quatro linhas.
Resumo da temporada 2020:
– Campeão do Campeonato Mineiro;
– Eliminado na segunda fase da Copa do Brasil;
– Eliminado na primeira fase da Sul-Americana;
– Terceiro colocado no Campeonato Brasileiro;
ALGUMAS CONTRATAÇÕES QUE NÃO DERAM CERTO:
Arouca, Erik, Samuel Xavier, Tomás Andrade, Matheus Galdezani, Denílson, Edinho, José Welison, Leandrinho, Di Santo, Lucas Hernández, Ramón Martínez, Maicon Bolt, Geuvânio, Iago Maidana, Martín Rea, Papagaio, Bueno e Mariano.
ALGUMAS QUE DERAM CERTO:
Róger Guedes, Gustavo Blanco, Emerson, Guga (divide a torcida), Jair, Igor Rabello (divide a torcida), Vina (divide a torcida), Hyoran (divide a torcida), Diego Tardelli (divide a torcida) e Rafael.
JOGADORES QUE VIERAM COM OS INVESTIDORES:
– Allan, Guilherme Arana, Savarino, Dylan Borrero, Keno, Alan Franco, Junior Alonso, Marrony, Nathan, Léo Sena, Eduardo Sasha, Eduardo Vargas e Zaracho.
É isso. Esse foi o triênio 2018-2020. Uma gestão que teve muitos mais erros do que acertos. O acerto maior foi equilibrar as contas do clube. O Galo fora das quatro linhas foi exemplar. Já o desempenho no futebol, beirou o ridículo.