Entre a razão e a emoção
Por Max Pereira (@pretono46871088 / @MaxGuaramax2012)
A irregularidade do time do Atlético vem despertando no seio da massa várias criticas ao trabalho de Sampaoli, cada vez mais contestado. Jogo após jogo cresce a certeza de que efetivamente algo não vai bem nos interiores do clube. Mas, se é fato que o treinador tem que ser cobrado, alguém mais, dentro e fora do campo, também deve ser cobrado. Cabe ao comando alvinegro apurar o que está acontecendo, a começar por fazer uma autocrítica.
O time atleticano ora começa bem um jogo, mas, gradativamente vai diminuindo o ritmo, dando espaço e moral para o adversário. Ora já inicia uma partida confuso, sem inspiração. Aos poucos parece que vai tomar o comando do jogo, mas, sem espírito competitivo, à exceção de um ou outro jogador, apenas desenvolve um futebol irritante, sem gana de gol, burocrático, previsível. Por que vários jogadores passam para o torcedor galista que não estão nem aí para o titulo e nem para o clube? Ou estaria a emoção corrompendo a razão destes torcedores?
Mesmo considerando que o trabalho de Sampaoli é recente, que o time vem sendo montado dentro do Brasileirão, que muitos jogadores deixaram o clube e outros tantos chegaram, muitos com problemas naturais de adaptação e condicionamento físico deficiente, que o treinador argentino impôs ao Atlético uma forma jogar estranha para vários jogadores do elenco que foram obrigados a sair de suas zonas de conforto, que a ideia de jogo proposta pelo treinador e a intensidade decorrente dela trouxe prós e contras para o time que demandam tempo para serem ajustados, algumas considerações se fazem necessárias à luz da razão e driblando o coração.
Sem um gênio criativo o Atlético parece uma vitrola antiga quebrada e com a agulha presa que fica repetindo o mesmo trecho da musica. O jogo do Atlético é como um samba de uma nota só: previsível, permite a qualquer adversário anular todas as suas investidas. O elenco e o time atleticanos são formados por operários táticos condicionados a uma ideia de jogo posicional que já está manjada pelos adversários. Como não tem ninguém que faça o diferente, que saia do script, o time fica cada vez mais improdutivo, incapaz de superar a marcação contrária.
É cada vez mais forte a impressão de que o esquema tático esteja funcionando como uma camisa de força para vários jogadores. Isso talvez explique a impotência que transparece no semblante e na atitude de vários deles durante os jogos. O condicionamento físico também parece deficiente e, com certeza, o surto de COVID é a razão deste problema.
Elenco reduzido e desequilibrado física e emocionalmente. E, em consequência, os pecados técnicos aparecem, tornando mais e mais evidente a falta de um gênio criativo. O oscilante Hyoran e o enigmático Nathan, ainda que mostrem possuir visão tática interessante, não inspiram confiança e pouco conseguem produzir.
A zaga, por sua vez, embora busque jogar sério, é lenta, pesada. E, embora, o Atlético já não esteja se expondo com tanta frequência aos contra-ataques, erros individuais decorrentes de deficiências pontuais continuam acontecendo, levando o time a tomar gols que irritam bastante o seu torcedor e a deixar para trás os chamados pontos bobos. Com a palavra, Jorge Sampaoli e a direção de futebol do clube.
Se é óbvio que o elenco e o time têm claras limitações e problemas, também é evidente que existem outras razões que o estão levando a praticar este futebol sem espírito de competitividade. O surto de COVID, em razão dos fatos acontecidos, parece também ter abalado a confiança do elenco em si próprio e na Comissão Técnica. Há claramente algo de muito estranho.
Competições de tiro longo como o Brasileirão exigem de quem quer ganhar o título regularidade, tendência de erro zero, força no jogo de bastidores, planejamento, organização e ambiente saudável. Já escrevi outras vezes que não se ganha campeonato se também não se vencer o jogo em todas as suas dimensões e esferas.
Tão importante quanto o que acontece dentro de campo é o que ocorre fora dele, seja nos intestinos do clube, seja nos bastidores do futebol, no extracampo. E, uma vez que tudo o que ocorre dentre das quatro linhas é reflexo e consequência do que acontece fora delas, não é difícil concluir que o Atlético precisa de correções de rota e de ajustes de gestão e do trato do futebol. O comando atleticano tem, pois, que se voltar para as suas próprias ações e medidas de forma critica e responsável.
Assim, independentemente do que possa acontecer daqui para frente e ainda que o Atlético jogue bem e ganhe com autoridade um ou outro jogo, é urgente e imprescindível que a diretoria haja para diagnosticar todas as causas desta queda de produção e de competitividade que o time vem mostrando e, se for o caso, cobrar energicamente de quem deve ser cobrado. Isso significa ir além das questões de ordem tática, física e técnica que, por óbvio, não podem ser negligenciadas.
Se o momento da equipe é estar disputando a ponta de um campeonato dessa dimensão, ou, no mínimo, uma vaga direta na próxima Libertadores é preciso entender que pensar e planejar o futuro não pode atropelar o presente. Também é preciso medir as consequências do que se faz, do que se fala, do que se omite, seja não fazendo, seja se silenciando. Como diziam os antigos é preciso medir o fubá antes de fazer o bolo.
O recente episódio da troca de patrocínio máster na camisa do clube é uma demonstração irrefutável de amadorismo surreal. Segundo o Portal UAI o Galo não teria comunicado ao BMG que cederia o espaço “máster” para outra empresa gerando um conflito desnecessário. O clube chegou a anunciar que a Betano, nova patrocinadora máster já estaria na camisa do Atlético na partida contra o Red Bull Bragantino. Acordo teria sido fechado em euros. O novo presidente, inclusive e ao lado do Galo Doido, chegou a posar com a camisa indicando o novo patrocinador máster.
Para a surpresa e espanto geral, o Banco BMG não reconheceu a troca de patrocinador máster do Atlético. E uma duvida pairava no ar: ou o Galo continuava navegando por águas turvas e traiçoeiras ou esta era mais uma daquelas notícias que visam desestabilizar o clube. Qual seria a posição oficial do Glorioso?
O que inicialmente foi dado a entender é que se tratava de uma questão interna entre o presidente do Banco, Ricardo Guimarães que havia concordado com a alteração e o Conselho de Administração do BMG que a rejeitava. E não é que o Galo acabou estampando o logo do BMG na camisa que usou no jogo contra o Bragantino?
Em nota oficial, divulgada nesta segunda-feira amenizar o conflito com o BMG, o Atlético disse que segue em tratativas com a Betano, empresa grega de plataformas esportivas on-line, para vislumbrar novas possibilidades de patrocínio e que estuda também acordos para manter o banco como um de seus patrocinadores.
Coisas desse tipo não deveriam fazer parte do dia a dia de um clube que fala em profissionalização, gestão moderna e compartilhada, compliance e transparência. Por outro lado, é preciso lembrar que os torcedores, arquibaldos e geraldinos, blogueiros, youtubers, influencers, donos e apresentadores de canais e jornalistas atleticanos devem jogar juntos.
E jogar juntos significa união em torno do clube, transmitindo, recebendo, compartilhando, multiplicando, potencializando, repercutindo, informando e noticiando tão somente aquilo que for de interesse e some a favor do clube. Ah! E criticando e combatendo tudo o que for prejudicial, o que não significa esconder a verdade e nem distorcê-la.
Como no Atlético transparência é peça de ficção e o clube sempre peca por manter uma comunicação institucional deficiente, por não blindar os seus ativos e por ser um manancial de “notícias” e de crises, os inimigos do clube e os caçadores de likes e de cliques deitam e rolam.
Infelizmente grande parte da torcida, de forma irreflexiva, dá audiência para os caça likes. A narrativa panfletária que caracteriza hoje o “noticiário” atleticano em boa parte da mídia convencional e também das redes sociais dificulta cada vez mais filtrar o que é verdade do que não é. Para muitos caçadores de likes não há limites. E isso é preocupante e os inimigos do Atlético deitam e rolam. Todo o cuidado com os fakes, com as notícias plantadas, com a narrativa panfletária e com os caçadores de cliques, de likes e de audiência, sejam aqueles da mídia tradicional, sejam aqueles das redes sociais, atleticanos ou não, é pouco, MUITO POUCO. É preciso saber filtrar.
É só pensar um pouquinho e examinar quais as circunstâncias que favoreceram ou provocaram o surgimento desta ou daquela “informação”. Basta os principais concorrentes ao titulo titubearem, perderem pontos e as chances de título do Atlético voltarem a crescer para que um certo tipo de notícias chamarizes de crises começarem a sair aqui e ali e, também serem repercutidas e potencializadas nos tais canais caça likes e também pela mídia tradicional. E pior: tem atleticano que gosta, dá audiência e ainda espalha, naquela base de que, quem conta um conto sempre aumenta um ponto.
Listas de dispensa, jogadores fora dos planos de Sampaoli, Rafael infeliz quer sair, insatisfeito com o que Marquinhos vem apresentando nos treinamentos, Sampaoli o colocou à disposição para ser negociado, crise no Atlético: clube deve cerca de 15 a 20 dias de salários atrasados, Sampaoli ameaça sair e toda a imprensa mineira faz mil e uma matérias, geralmente copiadas e aumentadas pelos caçadores de cliques. Estes são apenas alguns exemplos de “noticias” que pululam por ai sempre com segundas, terceiras e quartas intenções. Isso sem falar das especulações e vazamentos de possíveis contratações do Atlético, o que já trouxe inúmeros prejuízos ao glorioso.
Se exigimos do clube, de seus dirigentes e de seus atletas que acreditem, lutem e façam de tudo para conquistar este título, inclusive cuidar do extracampo, cada um no seu quadrado, como o Atlético raramente fez com eficiência em sua história, temos também que fazer a nossa parte. Dizem que o coração tem razões que a própria razão desconhece e que o coração do atleticano tem razões que nem a razão é capaz de decifrar. Entre a emoção e a razão, sempre vai existir um atleticano que acredita no impossível. E é entre a razão e a emoção que o atleticano apontará os caminhos.