Coluna Preto no Branco: Quem tem medo de Cazares?

Foto: Flickr oficial do Atlético

 

Por: Max Pereira 
09/06/2020 – 04h
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Quem nunca gostou do equatoriano, torceu e até trabalhou pela saída do craque, deve estar muito satisfeito com a possível, segundo as más línguas, saída iminente do amaldiçoado jogador.

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Como de há muito, sempre ao acordar, vou às redes sociais e vejo que Cazares continua sendo um dos assuntos mais comentados, por vezes ocupando lugar de destaque nas chamadas “Trend Topics”. Por isso, o polêmico craque é sempre um assunto atual.

E, ao que tudo indica o ciclo de Cazares parece mesmo ter chegado ao fim. Lamento muito por tudo isso. Particularmente, como amante do talento e humanista, ainda apostaria no equatoriano. Longe de mim, apontar dedos para culpados desta quase certa saída melancólica do craque. Todo mundo errou durante a “era Cazares”.

A história de Cazares no Atlético é pontilhada por erros e mais erros. Errou e continua errando o equatoriano por se permitir juntar com companhias erradas, os maus amigos que costuma levar para o seu convívio, que o fotografam e o expõem nas redes sociais.

Cazares errou também quando chegou aos treinos atrasado e erra sempre quando permite que seu nome seja manchete nas páginas de jornais em razão de possível conduta antidesportiva e antiprofissional.

Errou o comando atleticano quando não mostrou pulso firme, ou pelo menos, por passar sempre essa impressão, por nunca se colocar diante da opinião pública e, em especial, diante de sua massa torcedora, sempre que um fato explodia, permitindo mil e uma especulações maldosas e fake news, por nunca ter sido eficiente no cuidado, na blindagem e no trato do atleta e, por ter, como parece, desistido do jogador.

Muitos cobram a aplicação de punições severas. Sobre isso não me sinto confortável. É preciso conhecer a fundo a dinâmica dos fatos que envolvem o jogador e baliza-los a luz de sua história e formação, abstraindo, claro, de todas as influências externas e inibindo quaisquer ingerências alienígenas, sempre carregadas de intenções inconfessáveis.

Errou a torcida ao se deixar levar por um ranço imensurável. Ódio, com certeza, é a melhor palavra. No seio da massa chegou a circular o boato de que Cazares consumia droga pesada, o que, antes tarde do que nunca, o clube, por meio de sua comunicação institucional desmentiu.

Como o Fala Galo já noticiou, natural de Quinindé, localizada na província de Esmeraldas, na costa noroeste do Equador, o meia Juan Cazares recentemente e, em razão da pandemia de COVID-19 que também aflige sua terra natal, distribuiu cestas básicas através dos seus familiares, para a população de baixa renda.

A região de Esmeraldas, como tantas outras no mundo afora, é uma das áreas mais pobres do Equador, onde a criminalidade é alta. E, como todas as regiões desvalidas, além do mar de famílias despossuídas, também tem um histórico de jovens que se perdem no vício e/ou no crime. É, também, a região que exporta mais talentos para o futebol equatoriano, embora muitos não consigam vingar.

Cazares é, na verdade e, como muitos garotos de origem humilde, um sobrevivente. Cazares não é simplesmente um mau-caráter. Ele faz o que faz em razão do que aprendeu, ou não aprendeu, e da falta de formação, de orientação.

Muitas vezes querer não é poder. Desde que chegou ao Atlético, Cazares foi muito maltratado e é, hoje, alvo de um ódio desmedido. Não obstante, os melhores números e resultados do clube desde a sua chegada tem a marca de seu talento, independentemente do treinador de plantão.

O craque equatoriano é hoje o maior artilheiro estrangeiro da história do Atlético e, também o “gringo” que mais vestiu o manto sagrado.

Desde que vestiu a camisa do Atlético, tornou-se o líder em assistências no futebol brasileiro. Se vários de seus companheiros desperdiçaram as muitas e muitas oportunidades de marcar, criadas por ele, a culpa é dele?

Já escrevi sobre Cazares e sobre os Cazares do Futebol. Já escrevi que, graças aos deuses do futebol, Pelezares é do Atlético.

Nos artigos “MUITO OBRIGADO, CAZARES. AH! E DESCULPE POR ALGUMA COISA, VIU?”, “QUANDO OS DEUSES DO FUTEBOL DESCERAM DO OLIMPO, VESTIRAM PRETO E BRANCO E CALÇARAM CHUTEIRAS”, “POUCAS E BOAS. VOZES DO CONFINAMENTO. ENQUANTO ISSO…” e “OS CAZARES DO FUTEBOL SÃO VÁRIOS. OS CAZARES DA HISTÓRIA DO ATLÉTICO SÃO MUITOS, DE TODAS AS CORES E DE MUITAS DORES E DISSABORES”, pude deixar claro a minha admiração e o meu reconhecimento pelo seu talento extraordinário. 

Se for verdade o que reza a lenda, o que teria levado Cazares a não querer renovar? Na procura de uma resposta para essa pergunta cheguei a uma conclusão preocupante: alguém dentro do clube também não quer esta renovação.

Desde, então, tenho, em minhas redes sociais, formulado a seguinte questão: quem, dentro do Atlético, quer ver o equatoriano fora do clube?

Parece inegável que Cazares nunca foi unanimidade dentro do clube e que, se desfazer dele, parece ser intenção clara da direção do Atlético. Pelo menos, ninguém do clube nunca se preocupou em desfazer essa impressão que é de muitos atleticanos.

Estamos vivendo a era moderna do ódio sem limites. E Cazares é hoje, dentro do futebol, a maior vítima desse baixo sentimento.

Se há alguém, de fato, dentro do clube que quer ver Cazares longe do Atlético, não há como condenar o jogador por querer se livrar dessa convivência tóxica.

Nos bastidores dá-se como certo que Cazares já não tem vontade de jogar pelo Glorioso, em razão da perseguição que vem sofrendo, tanto por parte de segmentos da mídia convencional, quanto por larga parcela da massa atleticana e também por entender que o clube, ao tratar da renovação de seu contrato nunca buscou valorizá-lo.

Em meio a turbilhão de “notícias” e manifestações passionais de torcedores nas redes sócias, uma entrevista que o empresário argentino do jogador, Jorge Marino, teria concedido ao jornalista do Portal UOL, Thiago Fernandes, caiu como bomba no mundo atleticano.

“Juan Cazares não vai renovar o contrato com o Atlético-MG. Sua permanência está descartada. Cazares não renova. O ciclo dele se encerrou no [Atlético] Mineiro”, teria dito o agente ao UOL.

Na mesma matéria, há a confirmação de que, no fim de 2019, o meia-atacante recebeu oferta da diretoria para renovar o seu compromisso. Cazares, no entanto, teria se recusado a conversar sobre essa possibilidade. André Cury, procurador do equatoriano no Brasil, é quem mantinha contato com a cúpula atleticana naquela época.

Jorge Marino teria dito ainda que, mesmo havendo o desejo de sair e a possibilidade de assinar pré-contrato a partir de julho de 2020, Cazares ainda não tinha ofertas.

O empresário acrescentara, também, não acreditar na possibilidade de transferência para o futebol brasileiro. “Não há nada, estamos conversando para procurar uma oferta. Não há nada do Corinthians, nem de outra equipe brasileira. O Brasil não tem dinheiro”.

E, como no futebol não tem verdade que dura 24 horas, o craque utilizou as suas redes sociais, mais especificamente o Instaram, para desmentir está notícia. Cazares, inclusive, publicou um print de sua conversa com o seu agente, onde este diz não ter dito nada a respeito disso e o próprio craque dá a entender que não considera encerrado o seu ciclo no Atlético.

Uma coisa é certa: tem algo de muito preocupante nessa relação clube/craque/torcida/mídia. E, claro, o próprio agente, cujo papel nesta história precisa ser aclarado.

Cada vez mais percebo uma ação clara e intencional que busca levar Cazares a não querer renovar com o Atlético e, para a qual, se conjugam agentes internos e externos ao clube.

Fala-se muito nos bastidores que a relação de Cazares com a direção do clube começou a azedar quando o Atlético tentou, pela primeira vez, vender o equatoriano para os árabes, ainda no primeiro ano do mandato de Sette Câmara, mais especificamente naquela paralisação de meio de ano devido a uma competição de seleções.

Cazares, para ser “preservado”, foi afastado dos treinos, coletivos e jogos-treinos. Acabou ficando. Rumores de uma possível, nunca confirmada, altercação séria entre o jogador e um dirigente surgiram na época, mas não foram adiante.

Rui Costa, na primeira negociação, não teria apresentado nada novo, oferecendo apenas o mesmo salário por mais três anos de contrato. Cazares, como não é difícil de imaginar, não aceitou, já que ganhava menos que vários outros atletas que, inclusive nem eram aproveitados regularmente e que. Tampouco, jamais deram ao clube retorno e futebol similar ao seu.

Surgiu proposta do Al-Ain onde ele ganharia 1,2 milhões de reais livres de impostos. Como o Atlético detém apenas 50% de seus direitos e não 70%, como noticiado aqui e ali, o clube embolsaria apenas R$ 990 mil reais, por isso, não teria aceitado. Cazares, como todo jogador sem exceção faz, teria pedido então um reajuste. E o clube teria negado.

Mesmo tendo carregado o time nas costas, ter levado o clube a garantir vaga direta na Copa Libertadores com atuações memoráveis, o craque sentia que nunca merecerá reconhecimento por parte da direção do clube. Diante dessa narrativa, como não acreditar que alguém, dentro do Atlético, quer, de fato, vê-lo fora do clube?

Para ser justo e no afã de descobrir a verdade, tenho que dizer que também circulou nos bastidores que o presidente Sette Câmara, quando assumiu o clube, receberá um relatório sobre todos os atletas do clube. E, neste documento, Cazares teria sido listado como o jogador problema e que deveria ser negociado antes de se perder dinheiro com ele. Haja condicional.

Segundo as mesmas fontes, Sette Câmara, então, teria assumido para si a responsabilidade de recuperar o atleta. Tentou de tudo e, nada. Dizem as más e boas línguas que agora ele desistiu e que não irá fazer força alguma para manter o craque.

E, quando tudo indicava que não poderia ser pior, surgem notícias de que aquele mesmo jogador que se mostrará consciente e filantropo ao ajudar o seu povo que passava, e ainda passa, por dificuldades extremas em razão da pandemia, se mostrava insensível consigo mesmo e com aqueles que estavam à sua volta.

Cazares foi flagrado furando o isolamento e jogando uma “pelada” com amigos e teria sido denunciado, autuado e multado por dar festas em sua casa, também desrespeitando as regras de distanciamento social.

E, até então, é o único jogador do time profissional do Atlético a testar positivo para o Covid-19. 

Falei de erros e parece que o equatoriano continua errando o que não impede, entretanto, de reconhecer-lhe, como cidadão que vive e trabalha neste país, os direitos de ampla defesa, estabelecidos na Carta Magna brasileira, a qual recepciona a Declaração Universal de Direitos Humanos, promulgada pela Organização das nações Humanas.

Digo tudo isso, para repulsar veemente todas as agressões que o jogador vem sofrendo e que têm, como pano de fundo, suas indisciplinas e se comportamento politicamente incorreto.

Ele errou e, se ele errou, deve ser cobrado, repreendido pelo clube e até ser responsabilizado, autuado e apenado, como o fez a prefeitura de Lagoa Santa. O resto é ódio e tem raízes muito mais profundas.

As redes sócias ainda se dividem em relação ao futuro do craque e ao como tratá-lo, não obstante a rejeição continue crescendo exponencialmente, praticamente inviabilizando a sua continuidade no clube.

Só se vê comentários cada vez mais passionais e agressivos, alguns escorados em teses rasas e cheias de raiva.

O time que contratar o Cazares terá o melhor camisa 10 em atividade no Brasil e, seguramente, um dos mais talentosos do mundo na atualidade. Habilidoso, preciso, inteligente e absurdamente criativo.

Quero acreditar que ele vai sair com a esperança e muita vontade de virar o jogo e mostrar, longe do Atlético, todo o seu extraordinário futebol.

Quero acreditar que ele sai tendo em mente que, para não jogar a sua carreira definitivamente no lixo, ele tem que ser, além de jogador, um atleta na acepção do termo.

Quero acreditar que toda essa passagem atribulada pelo Atlético o esteja fazendo amadurecer.

Quero acreditar eue, em outras paragens, ele seja mais bem recebido e cuidado.

E, apesar, dessa absurda perda de valor de mercado e, claro, de credibilidade, quero acreditar que ele ainda vai dar a volta por cima. 

E, mais do que não acreditar, sei que é difícil até imaginar um camisa 10 deste nível vestindo o manto sagrado ainda este ano.

Mas, como já escrevi, os deuses do futebol quando desceram do Olimpo, sem insistiram em se materializar em preto e branco.

Pelezares, tal como o Deus da tempestade, aqui aportou e não foi adorado. Raiva? Incompreensão? Ou Medo?

E aí quero perguntar: quem tem medo de Cazares?